domingo, 25 de março de 2018

Mal traçadas linhas 76

      Mas ora, a poesia.

      Muitas vezes mal entendida. Outras, confundida com um texto em prosa qualquer. Porque está inscrita na vida. E compreender vida é, enfim, um modo de fazer e entender poesia.

      Professor de português a vida (quase) toda quis, muitas vezes, explicar ou tentar entender, às vezes lendo, muitas tentando explicar o que é poesia. Nunca deu muito certo.

      Porque talvez nunca dê para se entender poesia. Talvez mesmo só seja possível viver poesia. Assim como se vive a vida. Altos e baixos, rasos e profundos.

     Risos e choros, raivas e mansuetude. Amor e. Não. Nunca ponha aqui o antônimo de amor. Era para que a vida nunca visse viver o ódio. Poesia não foi feita para ódios.

     Às vezes os teóricos dizem que poesia não existe para engajamento ideológico. Não serve para isso. Ora, teóricos. Poesia e vida se autoexplicam(?) Bom, se não são, que se façam entender.

     Na Bíblia, por exemplo, os Salmos. Ora, lá vem você com "Bíblia". Já sabias, leitor. Caso queiras, com todo o respeito, desembarque deste texto. Vou falar dela de novo.

      Pois nela os Salmos são poesia. Aliás, oração é uma forma de poesia. Aliás, a vida é uma forma de poesia ou a poesia é uma forma de vida? Não sei. E como disse também o poeta, até o samba é uma forma de oração.

     O samba também é poesia. Ora, não banaliza. Então, o quê? Elitiza? Quem não faz poesia, é porque a vive. E poetas apenas decodificam. Se não, há um senão. Ou senões.

     Há poesias alegres, há tristes. Há trágicas. Maldade não combina com poesia. Aliás, maldade não combina com vida. A Bíblia, de novo ela, denuncia a maldade. E chama pecado.

     Onde, pecado? Dentro de cada qual, diz o Livro, sejam eles ou elas. Mas deixa para lá, para que ninguém pense que é doutrina. Mas vamos falar de amor. A Bíblia também fala de amor.

      A Bíblia diz que Deus é amor. Não confunda. Nessa ordem. O Livro não diz que "Todo amor é Deus" ou diz "onde há a amor, há Deus". Não. Não inverta a ordem: onde há Deus, amor. Há amor.

       Nem chame de amor qualquer coisa, ou não chame qualquer coisa de amor ou ainda não chame qualquer amor de amor.

      Não chame de poesia qualquer coisa, não chame qualquer coisa de poesia ou ainda não chame qualquer poesia de poesia.

      Não confunda. Não implique comigo. O mesmo método se aplica ao Livro: nem todo mundo que o empunha ou se empenha dele entende. Nem tudo mundo entende vida ou poesia.

     Há o que é torto. Árvore parece torta, mas é poesia. E vida também. Voo de beija-flor também parece ziguezague. É. Mas também é poesia. Vida dos outros e nossa ou qualquer vida. Poesia(?)

     Pode parecer torta. E às vezes é. Já notou que somente o ser humano, às vezes, com tristeza, é capaz de não viver. De matar. De odiar. De não poesia. Triste.

      Mas não vamos acabar triste o texto. De novo, está no Livro. Alegria no Senhor é a nossa força. Sim. O livro admite que Deus existe. O Livro admite Deus.

     Se Ele existe, é amor. Alegria também. Cuidado. Nem tudo que é alegria, é amor. Nem tudo que é viver, é vida. Nem tudo que é poesia, é de verdade poesia.

     Ora, o tempo. O tempo testa tudo. Decorre. Testa se é amor. Testa se é alegria. Testa se é poesia. Amor, alegria e poesia resistem ao teste do tempo.

     Deus, dizem, se existe, é eterno. Ele resiste ao teste do tempo? Não. Dizem, é amor: criou o tempo. Não sei se criou a poesia. Pode, surpreso, ter aprendido com o homem (e a mulher).

     E ter descoberto, sem saber, que também era poeta. Ponto.

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