A mulher do bálsamo derramado.
Atrevidíssima. Não era seu espaço. Sua entrada aguçou a percepção do grupo. Muito provavelmente o fariseu anfitrião entrou em alerta.
Deve ter fixado olhar na direção dela e notou que procurava por alguém. Jesus. Quando os olhares se encontraram, o fariseu exergou a chance desejada, de expor o Mestre ao ridículo.
Foi gradual. A mulher ganha a direção do Mestre. Carregava um pote de bálsamo. Aproxima-se, ajoelha, toma nas mãos os pés de Jesus, lava-os no perfume, enxuga-os com seus cabelos, beija-os.
Também foi gradual, no ânimo doentio do fariseu, perceber a chance que queria para envolver Jesus com a mulher que ele sabia prostituta. Aliás, gritou em sua mente a dedução fruto de mesquinhez.
"Se fosse profeta, haveria de reconhecê-la prostituta". Jesus sabia. E estava com ela mais envolvido do que supunha o fariseu. Aliás, era amor: o nome do envolvimento com Jesus se chama amor.
O que quebrou o silêncio, de súbito, substituindo o ruído dos beijos, foi a voz estridente de Jesus. A pronúncia do nome Simão, relativo ao fariseu, quebrou sua sequência lógica doentia. Estremeceu.
"Simão, quem ama mais: quem tem perdão de dívida maior ou dívida menor?". Maior, respondeu o dono da casa e da festa. Por isso, Simão: essa mulher que você diminui, ama-me mais do que você, que julga dever menos.
Jesus enumerou, no fariseu, os sintomas: "Sem óleo para asseio do rosto e cabelos, sem ósculo fraternal, sem alívio para os pés de andarilho, calosos e empoeirados." Quanto à mulher, não cessa: unge, alivia, enxuga e beija os pés.
Quem mais ama, pergunta Jesus? Aquele a quem mais se perdoa, responde Simão. Por isso, responde Jesus. Na verdade, é igual a proporção do perdão. Também a proporção do amor. Porém, liberta estava a mulher. Prisioneiro de si mesmo era ainda o fariseu.
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