quinta-feira, 29 de setembro de 2016


                  Malaquias e a banalização da fé.       

       Deus se fez homem, em Jesus, para definitiva comunhão, em amor, conosco. Mas não podemos perder o temor e tremor, Fp 2:12, pela santidade dEle, pensando que Deus é "meu chapa", é um "mermão" ou um "ô, meu". Malaquias reage contra um povo que havia perdido o respeito próprio por Deus, tornando-se cínico. Favor lembrar, também, que cinismo contra o próximo, contra o outro, produz, em relação a Deus, o mesmo efeito.

          Portanto, nada mais atual quanto retirar da vida uma “religião de aparência”, com os vícios que a revelam sem nenhum efeito: cheia de pompa, porém sem conteúdo; agradável a nós mesmos, porém repugnante a Deus.  O estilo literário do profeta é listar e responder perguntas cínicas que, por si, representaram a postura daquele povo diante de Deus. Verifiquemos o quanto se encaixam em nossa prática diária de devoção, examinando-nos a nós mesmos, como diz Paulo em 2 Co 13:5.

          A primeira delas é das mais atrevidas, pois implica supor descredito do amor de Deus: “Eu vos amo. Em que nos ama?”, replica o povo. Amor é a identidade de Deus, como diz 1 Jo 4:8. Muito atrevimento do povo da época medir seus próprios caprichos em função da identidade de Deus e das disposições do Seu amor. Para termos ideia da profundidade da crise espiritual daquela gente e da estratégia de Malaquias, listamos abaixo as perguntas.

         Malaquias avaliou que o povo estava distante do sentido dado por Deus à verdadeira relação com Ele. Além da questão principal do amor, na pergunta retórica do profeta “ora, em que Deus nos ama?”, Ml 1:2, seguem outras, ainda mais reveladoras. Confira, a seguir: com relação a ter Deus como prioridade, “em que Te desprezamos?”, Ml 1:6; com relação ao culto, “em que Te profanamos o culto?”, Ml 1:7; ao compromisso com Deus, “em que Te profanamos a aliança?”, Ml 2:10; em relação à sinceridade no contribuir, “por que não nos aceita a oferta?”, Ml 2:14; em relação ao espontâneo prazer da relação com Deus, “em que Te enfadamos?”, Ml 2:17; com relação à necessidade de disciplina, “onde está o Deus do juízo?”, Ml 2:17;  quanto aos pecados da língua, no caso de blasfêmia cínica, “que temos falado contra Ti?”, Ml 3:13; crise de obediência, “de que adianta guardar a palavra do Senhor?”, Ml 3:14; e quanto ao falso arrependimento, “de que adianta andar de luto diante do Senhor?”, Ml 3:14.

            Malaquias, 450 a.C, última voz antes do longo período de silêncio de vozes proféticas no texto das Escrituras, até João Batista, concede uma ferramenta prática de avaliação da piedade cristã. Paulo recomendava a Timóteo que nela, pessoalmente, se exercitasse, 1 Tm 4:8, por ser em tudo proveitosa, incluídos benefícios nesta vida e na vindoura. Também menciona uma “falsa piedade”, em 2 Tm 3:5, cuja característica é negar o poder de Deus, assim como adverte que, quem escolhe viver “piedosamente em Cristo”, sofrerá perseguição.

          Embora não haja, em nossa língua, uma palavra só que corresponda, exatamente, ao sentido de piedade, pode ser definida como todos os componentes que interferem na resposta à ação de Deus em nossa vida. Desde o desejo de efetiva comunhão com Ele, à herança dos atributos e qualidades dEle, presentes em nossa vida, que serão resultado dessa relação. Exercitar-se na piedade envolve recursos de que, no dia a dia, em casa, na vida pessoal, assim como na igreja e no mundo, vida social, temos de lançar mão.

            Malaquias sugere avaliarmos, sendo críticos e inteligentes, o conjunto da nossa relação com Deus para, como diz Paulo, não sermos julgados pelos outros, 1 Co 11:31. Como estão nossa leitura e estudos periódicos da Bíblia? Como recomendou Deus a Josué, ocorre o tripé “meditação/prática/proclamação”? Temos efetiva vida de comunhão com Deus, que se reflete na relação com os outros? Vida de oração, que atesta em tudo dependermos de Deus? E o grau de interesse e assiduidade na igreja? Estendemos à família esses benefícios? Qual é o reflexo disso, então, na vida social? Estamos sendo cínicos?
         
            Cada área específica apontada pelo profeta necessitava ser corrigida. E, pelo visto, a demora já deixava transparecer a condição de caras de pau do povo e, consequentemente, a perda do temor do Senhor. Paulo recomenda em Fp 2:12, que haja temor e tremor quanto ao desenvolver da salvação. Deus opera em nós, Fp 2:13, Deus deseja completar Sua obra em nós, Fp 1:6. Portanto, nossa postura com Ele deve ser madura, crítica e sincera.       

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