quinta-feira, 2 de junho de 2016
Artigos soltos 7
Esquecimento.
Distração, descaso ou esquecimento. Certas coisas da vida só ganham valor diante de seu inverso.
Melhor, essas coisas continuam tendo seu valor, passando despercebidas ao homem, talvez por causa da pressa dele. Por isso não atina com elas.
O sol. Diante do frio, procurei uma réstia dele. Contemplei, então, uma cobertura sobrevivente de mata, que o colhia de cheio. Invejei todas as árvores que o tinham e o esperavam ansiosamente, naquela manhã.
Cada folha, todas as folhas, de que só Deus sabe a conta exata, louvavam, em silêncio, a dádiva do sol. Pensei na distração, burrice mesmo, diária, de tantos homens, talvez a grande maioria deles, que não dizem, bestamente, "bom dia, sol".
A friagem me fez procurar a réstia de sol. Senti no conforto do calor a falta que ele faria e pensei, caramba, quantos dias já se foram sem que eu dissesse ou, que nem dissesse bom dia, mas que valorizasse o sol.
Vem o frio, valorizamos o calor. Vem a doença, valorizamos a saúde. Vem a morte, não a nossa, ainda, valorizamos a vida.
Para logo esquecermos, distrairmo-nos, tratar com descaso, por exemplo, o sol, a saúde, a vida. Pobre homem. Tanta correria. Para quê? A gota de água, o sabor de cada alimento, cada sorriso que, desavisadamente, bom dias, alhures, provocariam.
Que valor há em dar um bom dia a estranhos, no cruzar com eles, nos corredores da vida? Só quem fosse muito simplório veria, nesse gesto, algum valor.
Calor do sol numa friagem, o valor da saúde, diante da perda dela. O valor da vida, diante da morte, não a sua, ainda: quem dera, ainda, resgatássemos tais valores, o quanto antes, antes ainda da nossa morte.
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