sábado, 4 de junho de 2016
Artigos soltos 8
Trindade.
Deu vontade de falar dessa trinca. Aliás, Trindade é o maior antídoto que existe à ortodoxia. Se há uma trinca heterodoxa, são esses Três.
A começar pelo número: se fosse um só, era uma solidão louca e o risco do equívoco seria muito maior. Se fossem dois, poderia dar empate e, no acre(i)anês, empate é impasse, já dizia Chico Mendes.
A coisa não ia andar, ia desandar, sem um terceiro para voto Minerva. E olha que impassividade entre pessoas divinas não é fácil. Assim, o Espírito se tornou, desde a eternidade, o contrapeso da Dupla.
Fico imaginando, de novo, desde a eternidade, o debate entre os três. Eternidade a fio, papeando, prosa pura, antes da ideia. Alguém já disse que ideia é o arcabouço de todas as coisas. Pois a melhor definição de Trindade é mesmo: o Trio anterior à ideia.
No princípio, foi a ideia. Aliás, o próprio sábio em Provérbios fala de como a sabedoria instigou o Criador. Coisas do Espírito, a quem Paulo Apóstolo chama de "perscrutador do Altíssimo".
Por isso é impossível dissociar-se da ideia de que o que mais faziam os três, na eternidade, antes de inventar o tempo (e o espaço, segundo Kant) era prosear: a Trindade vivia trocando ideia.
E foi por isso, resultado disso que surgiu isso que está aí, uma bruta concessão de amor. Não há outra explicação ou um outro sentimento mais nobre ou bonito, senão pura paixão trinitária.
Fora do papear da Trindade, da sua liberdade total em prosear, em pensar, sonhar, projetar de Si e, finalmente, criar, fora dessa liberdade, só mesmo a ortodoxia, palavra muito parecida com asfixia, prisão, engaiolamento de Deus, inventado pelo homem, como absurda criação.
Está proclamada a liberdade, desde a eternidade. Três nunca dá empate, já dizia Chico Mendes. Quem diria, havia teologia mesmo desde Xapuri.
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