sexta-feira, 17 de junho de 2016

Mal traçadas linhas 32


        Vigília
         Grão de mostarda. A fé deve ser algo enorme, muito grande mesmo, de enorme potência. Curioso, muito curioso Jesus compará-la a esse grão, que a parábola mesma afirma ser o menor entre as sementes de hortaliças.
          Contraditório, bem ao estilo Jesus. Gosta de tirar as coisas pelo seu contrário. Amar, é sentimento que se devota, antes de mais nada, a inimigos: agora, age assim.
         Quer ganhar a vida? Como é mesmo, prosperidade? É perda total. Se alguém tentar ao contrário, entra no ganha e perde: ganha a vida, perde Jesus.
          Oração: não é pelo muito falar que vai ser ouvido. Quer aparecer? Perdeu: entra no teu quarto, ora em secreto, Deus vê a verdade no íntimo, vai te responder.
          Vai falar muito? Vai insistir? Vai repetir? Filtra: cuidado com as vãs repetições. Raciocina, seja inteligente, aliste prioridades.
          Todas as vigílias, todos os jejuns, todas as orações numa só: um grão de mostarda. Uma só perda, total, num só gesto, num só batismo, ganho definitivo.
          Há certas ironias no crer. Sempre significando o contrário das expectativas humanas. Paroxismo. Jesus praticava o inverso daquilo que o homem, humanidade, valoriza.
         Tudo num só gesto. Certa vez, esqueci o nome, ouvi falar de um filósofo que sintetizava a humanidade num só traço, caracterizada numa prática que ela mesma era incapaz de abandonar: a violência.
         Portanto, num só e extremo gesto de violência, como diz Pedro em seu sermão, matastes o autor da vida (e da fé): num só gesto, numa cruz, uma síntese.
        Toda a fé, todas as orações e vigílias num só gesto, num grão de mostarda, numa só entrega, num só batismo. Vida por vida. Perde e ganha. Gesto de amor.
        Agora, age assim.

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