terça-feira, 29 de março de 2016

Sofonias

       "O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo", Sf 3:17.

        Caso escolhamos este versículo como síntese do livrinho, fica claro que Deus promete renovar em amor seu povo e, neste gesto, mais do que alegrar-se: regozijar-se. A vocação do povo de Israel, denominado povo de Deus no Antigo Testamento, está explicitada no livro do Êxodo, no contexto da aliança do Sinai.
        Porém, poucas vezes em sua história o perfil de Israel confere com a perspectiva esperada por Deus e descrita no texto acima. Por isso, nesta profecia, Sofonias confirma um destino de juízo igual para seu povo, para as nações vizinhas e todas as demais, frequentemente chamado na profecia dos doze de "Dia do Senhor".
      Uma ideia do estado de ânimo do que é assim profetizado está em Sf 1:14, que se refere a um dia de juízo: (1) que está perto, mais do que isso, que muito se apressa; (2) que é um dia amargo; (3) que nele até o poderoso clama desesperado.
      Judá, a parte sul do reino dividido, a quem se dirige o profeta, afastara-se do projeto de Deus indicado no Sinai, em Ex 19:5-6, o qual pressupunha: (1) obediência como resultado de ouvir diligentemente a voz do Senhor; (2) guardar os termos da aliança do Sinai acordada na celebração de Ex 24; (3) só então tornar-se propriedade peculiar do Senhor, sendo modelo evidente de santidade para as outras nações; (4) ser, para Deus, um reino de sacerdotes, ou seja, todo o povo seria mediador da revelação de Deus às demais nações.
        Sofonias tem como missão demonstrar que isso não se cumpriu para o povo de Israel e desenha no texto de sua profecia, em 3:1-4, os contornos do povo de Judá em seus dias: (1) não atende a ninguém, não aceita disciplina, não confia no Senhor, nem se aproxima do seu Deus; (2) os principes, leões rugidores; os juízes, lobos: os dois, conjuntamente, dilapidam o povo; (3) os profetas são levianos: homens pérfidos; e os sacerdotes são profanadores do santuário: violadores da lei.
      O quadro não poderia ser pior, cada encargo aqui indicado trazendo em si a contradição da vocação para a qual foram chamados. Daí ser o povo de Sofonias incluído no mesmo juízo determinado às demais nações: "Eu dizia: certamente, me temerás e aceitarás a disciplina, e, assim, a sua morada não seria destruída, segundo o que havia determinado; mas eles se levantaram de madrugada e corromperam todos os seus atos", Sf 3:7.
       Certamente virá o exílio. Sofonias, em alguns anos em seu ministério, antecede Jeremias, que presenciou a ida ao cativeiro. Porém, a partir de 3:8-20, o profeta aponta para uma profecia de restauração, que alcançará Judá, povo de Deus, e as demais nações: "ajuntar as nações e congregar os reinos", v.8. Porém essa obra de restauração realizada por Deus, não é uma caiação superficial.
        Somente Deus conserva, consigo mesmo, poder para salvar, como indica Sofonias. Somente Ele tem como atributo renovar em amor o tão viciado povo de Judá e as demais nações, a quem se estende Seu convite de salvação.
       E essa ação exclusiva de Deus por meio do Seu poder implica alegria e regozijo para Ele, bem como, certamente, festa de redenção entre os salvos pelo nome do Senhor.
        O paralelismo da poesia hebaica nestes versos permite definir que, para Sofonias, ser salvo é ser renovado no amor de Deus, o que traz, para o próprio Deus, intensa alegria e regozijo, celebrados em louvor conjunto no meio de Seu povo.
       Que possamos experimentar a mesma alegria de Deus, pela salvação trazida e celebrada por Ele em culto, no meio de nós. Que sejamos fiéis em nosso sacerdócio como igreja, para que essa genuína alegria do Senhor se renove continuamente, contados tantos salvos como resultado de nosso ministério como igreja povo de Deus.

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