Repetição. Repetição. Repetição.
Ctrl C. Ctrl V. Jesus, no assim denominado Sermão do Monte, diz:
Não useis de vãs repetições. Há, pelo menos, dois sentidos de repetição: um deles,
positivo; o outro, esse destacado por Jesus, negativo.
Eu, por exemplo, já contabilizo uns mais de 35 anos de sala
de aula. Professor, na vida. Pois nessa profissão, a repetição é chave para a
compreensão e para a condução do aluno ao sucesso. E eu repetia, porém nunca exatamente
do mesmo jeito, minhas aulas, muito embora saibamos que, mesmo variando a forma
de apresentação, na vida de professor o conteúdo, muitas vezes, tem mesmo de
ser repetido.
E o pôr do sol? Que desde que mundo é mundo, se repete? Nunca
deve ter sido do mesmo jeito e a própria Bíblia diz que, nesse descanso do sol,
do nascer ao poente, por toda a terra, na linguagem do silêncio, proclama-se a
glória de Deus. Árvores da Magalhães Couto. Minha mãe reside nessa rua desde
1967. Eu residi nela desse ano aí até 1993. Pois quando aqui chegamos, muitas
das árvores que aqui ainda estão, com seu velho e escuro tronco retorcido, em estado de arte, já existiam. E nenhuma delas teve, em todos
esses anos e nem antes duas folhas, sequer, absolutamente iguais. Neste caso,
não houve repetições.
Repetir aquele sorvete. Mas cuidado com a gordura. Já passou
dos 35 anos? Mais cuidado ainda. Aliás, mesmo antes, não se pode abusar com
doces, comidaria, gordura, refrigerante, enfim, gula: vivam as nutricionistas!
Cuidado, nesse caso, com repetições. E a mágoa? Tem alguma? Quantas? A Bíblia diz que
não devemos deixar brotar, porque mágoa gera raiz de amargura e isso contamina.
Que tal repetir toda a cena na sua mente? Repetir, revisitar toda a história,
rever com detalhes a sua versão dessa mágoa, sabe para quê? Para que venha o
perdão: santo remédio de Deus este remédio, o perdão, repito.
Deus revisitou o nosso pecado, o meu e o seu, na cruz. Pecado
tem muito de repetição. Quem diz que não repete pecado, segundo João Apóstolo,
em sua 1ª carta, chama Deus de mentiroso: quem não confessa que repete pecado,
mais do que mentir, está chamando Deus de mentiroso, porque é Deus que aponta o
meu e o seu, o nosso pecado, visando que nos arrependamos. Se Deus revisitou e
reviu o nosso pecado na cruz e continuamente nos perdoa, como é que não vamos,
na mesma medida, perdoar? A Bíblia, em mais de um lugar, diz que devemos
perdoar do mesmo modo que Deus perdoa. Repetição tem a ver com perdão, perdão
tem a ver com repetição.
Mantra. Tenho muito respeito pelas religiões. Não sou muito
entendido nelas, mas a importância que costumo dar a elas está na medida do
valor que a elas dão os seus seguidores. Explico e vivo dizendo que qualquer
pessoa é sempre mais importante que a religião que ela professa. Nenhuma religião,
por mais antiga e complexa que seja sem importar os milhões, a quantidade de
seguidores que tenha, considero mais relevante do que uma ou qualquer pessoa.
Mantra é repetição. A religião hindu, da qual se originou o budismo, costuma
utilizar mantras em suas sessões de meditação. Eu, ocidental que sou, acho que
mantra é vã repetição. Pronto: está aqui uma variação de ótica, de visão entre
dois modos de encarar religião.
Repetição tem sua função. Deve ocupar um lugar de inteligente
consenso e sabedoria. Vãs repetições, nas orações, são desnecessárias porque,
além de Deus estar cansado de saber do que necessitamos, não é pelo muito falar
ou pela muita repetição que seremos ouvidos. Mas repetir, na oração, uma
história, um causo ou um problema, pode estar relacionado a sua solução, porque
a oração permitirá sondar o nosso coração junto ao coração de Deus na melhor
equação e lucidez da visão que Ele vai nos proporcionar. Nesse caso, repetição é
positivo.
Mas, por favor, para de repetir corinhos ou cânticos feios
nos cultos, nos chamados períodos de louvor, como se fossem mantras,
principalmente se a letra for pobre e não houver harmonia, ou seja, respeito ao
estado de arte, que é ajuste de letra à melodia. Há aqueles de boa letra e
melodia ruim, ainda vale, porque a letra compensa. Mas há aqueles de letra ruim
que, mesmo com boa música, não dá para engolir. Música na igreja tem que
respeitar subordinação ao texto da Bíblia. Ela não é, em si mesma, uma finalidade,
mas sua função é ressaltar a beleza, grandeza e advertência do texto bíblico.
Repetição aqui é puro mau gosto, se não for respeitado o estado de arte, se não
for respeitada a harmonia.
Há repetição e repetição, um jeito e outro, uma oportuna e necessária,
outra inoportuna e desnecessária. Eu, para não me tornar repetitivo e chato,
encerro.
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