terça-feira, 29 de março de 2016

Naum

    A profecia de Naum pode ser lida como um contraponto àquela de Jonas. Este, um profeta que precisava compreender o alcance do amor de Deus, e Naum, o que reconhecia a capacidade do perdão, da parte de Deus, mas sofria com a consciência de que o juízo de Deus também era inexorável e certo que ocorresse.
      A experiência de Naum lhe indicava a grandeza da misericórdia de Deus e capacidade para até mesmo inocentar o pecador, deparando a propiciação de sangue pelo pecado. Mas até isso, mesmo para Deus, tem um limite
      Essa mesma experiência teve Moisés no deserto, quando pediu para ver a glória de Deus, concluindo ser Deus misericórdia, perdão e salvação: "Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade [...] ainda que não inocenta o culpado", Ex 34:6-7.
        Em Deus há permanente esperança de salvação. Porém, uma vez rejeitadas (1) a revelação de Deus do pecado no homem, (2) o sacrifício que o próprio Deus propõe para resgatar o pecador e (3) a denúncia desse pecado e o chamado ao arrependimento, como diz o autor de Hebreus, "já não resta sacrifício pelo pecado." Este era o problema dos ninivitas na época da profecia de Naum.
     Enquanto Jonas não conseguia aplacar o ódio no seu coração, dando espaço ao amor de Deus, Naum sofria com a certeza de que todas as oportunidades foram dadas aos ninivitas, e sua tarefa era anunciar o juízo de Deus.
      A síntese de sua profecia está em Naum 1:2a: "O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em poder e jamais inocenta o culpado". Trata-se de uma ressalva, mostrando que Deus é todo misericórdia, sempre oferecendo salvação. Mas não há alternativa se ocorrer rejeição da proposta do perdão de Deus.
     Outro versículo modelo da temática está em Naum 1:7-8: "O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam. Mas com inundação transbordante, acabará de uma vez com o lugar desta cidade; com trevas perseguirá o Senhor os seus inimigos."
       Definitivamente, era esta a mensagem que o profeta Jonas gostaria de proferir. Já aprendemos com Obadias que é um vício mórbido, rejeitado por Deus, alegrar-se com o juízo de Deus ou a desdita que recai sobre quem quer que seja. Não é sadio alegrar-se com o pecado e consequente punição do outro.
          Já está previsto no convite à salvação que Deus torna isento o pecador arrependido. Paulo menciona que somos "santos, inculpáveis e irrepreensiveis". Esta afirmação, que não é simples retórica, indica até onde vai a obra realizada por Jesus Cristo, justificando pela fé totalmente o pecador.
      Porém, como já indica João 3:16-19, há ressalvas: (1) a bondade de Deus é do tamanho da dádiva de Cristo como salvador: "amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho unigênito"; (2) a fé em Jesus inocenta instantaneamente, sem que o volume do pecado seja obstáculo: "quem nEle crê, não é julgado"; (3) mas não resta o que fazer para quem rejeita essa oferta de cobertura do prejuízo do pecado: "o que não crê, já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus."
       O pecado, que se acumula sem volume, é praticado pelo homem. A graça e o perdão procedem de Deus, que não leva em conta esse volume e paga o preço. Porém se o homem não aceita essa forma única de pagamento, entra o argumento do autor de Hebreus 10:26-27: "já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador".
         Jonas é o profeta que anuncia salvação desejando, em seu conflito interior, ter anunciado o juízo. Naum, profeta que anunciou juízo, mas reconhecia a bondade de Deus. Numa sintese, desta vez nos socorre Paulo Apóstolo: "Considerai a bondade e a severidade de Deus", Rm 11:22.
        Definitivamente, Deus concede oportunidade de salvação. Mas até para a bondade de Deus há um limite que o homem não pode violentar. A medida da dívida do homem/mulher foi o preço pago por Jesus na cruz: não há nada que substitua esse preço de sangue.

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