quarta-feira, 20 de novembro de 2019

   E o Verbo se fez carne
   και ο λογος σαρξ εγενετο

   Assim, retirado do contexto, esse comentário de João Apóstolo resume a história de toda a Bíblia. 
   É uma síntese histórica, filosófica e doutrinária, pelo menos. Porque se há uma história de Deus, o clímax dela foi a encarnação do Verbo.
    Filosófica, porque João saca da filosofia grega o conceito de Logos, para indicar que o que denominavam "motor imóvel" ou o princípio unificador do Universo tinha designação específica e pessoal no Antigo Testamento: Deus. 
    E doutrinária, porque o que desencadeia, para diante e para trás toda a história da revelação, na Bíblia, expressão que meu pai apreciava utilizar, toda a "revelação em marcha" tem culminância na expressão dessa realidade: o Verbo se fez carne.
     Deus se fez corpo. Circunscreveu-se nos limites da existência. Todos os limites. Esvaziou-se de sua deidade. Aqui para esclarecer que, ao se tornar homem, Deus não perde Sua identidade, mas abre mão de seus atributos. 
    Como homem, passa a depender inteiramente do Pai. Costuma-se ironizar essa possibilidade, debochando da confusão entre as duas pessoas, se afinal são duas, uma ou que desdobramento é esse?
   Em sua afirmação, João está a resolver esse dilema. Deus, quem é, faz-se homem sem deixar de ser Deus. Há um só Deus, como o Antigo Testamento postula. Capaz do ato por excelência que o define. Esse é o sentido.
    Aqui a total identidade de Deus e do homem. Lucas, em sua genealogia a partir de Jesus, percorre toda a história, até indicar Adão como filho de Deus. Pois é tal identidade no homem que Deus resgata para Si quando se faz homem.
    O ser humano deixa de ser uma criação para fora de Deus, para ser criatura em comunhão com Deus. Verbo é Deus exposto. Deus revelado se mostra todo. Mas não há como o homem exigir para além disso.
    Um incidente no círculo apostólico ilustra essa expressividade do Verbo, do Logos, da Palavra de Deus. Felipe resumiu numa formulação sua perplexidade ao identificar, na antecipação de Jesus, em relação à Sua morte, o paradoxo da morte do Verbo que se fez carne. 
    Felipe pediu "mostra-nos o Pai, e isso nos basta". Ao que Jesus respondeu: "Como?!" Essa interjeição em forma interrogativa indica a estranheza de Jesus, assim como devolve a Felipe a perplexidade. 
    Jesus é a cara de Deus. Geralmente ateus negam que Deus possa ser reconhecido. Pois jamais haverá expediente para além de "o Verbo se fez carne". Deus se revelou totalmente. Para além do que está posto, não há transcendência possível. 
     Paulo Apóstolo indica como, com relação a Deus, seus atributos, poder e a própria divindade estão expressos de modo claro, ele afirma, por meio da criação. Realmente a ciência não dá conta do que aprende em relação ao que já encontrou pronto. 
      Quando o Verbo se faz carne, quando entra na história, é a síntese completa da revelação de Deus. Não só se define, dá-se a conhecer, assim como chama à comunhão. Não há mais nada além. Não há como haver. Visto que e porque, em Jesus, o Verbo se fez carne.

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