terça-feira, 26 de novembro de 2019

Dante, Inácio e Dirley: não necessariamente nesta ordem.

     Famílias são muito interessantes. Cada qual com sua personalidade. E, como diz o vulgo, a gente não escolhe na qual vai nascer.
    Chegamos chorando, aprendemos a rir, no contexto delas, entre outras marcas, para carregar pelo restante de nossas vidas. 
    Eu sou o neto mais velho. A essa altura, quer dizer, a bola da vez. O que não significa muito, porque Dorcas havia pedido a Onésimo que não furasse a fila.
     De nada adiantou. Por falar em Onésimo, quem lembra dos sorrisos, respectivamente falando, do Tula e da vó Eunice (refiro-me à trisavó, visto que a outra Eunice, dela descendente, já é bisavó de Dora)?
    Essa família é sorriso, antes de mais nada. Daí enfrentar perdas e sofrimentos com resiliência (palavra da vez). Os bebês dessa família podem se preparar para continuar a rir.
   E os agregados que vão chegando, entram nessa mesma dança. Dante, Inácio e Dirley são mestres do humor. Do marinheiro, a gente não esqueceu o sorriso. 
     De Dante e Dirley, basta conferir. E ainda não falei das mulheres, todas representadas nas gargalhadas de Eliana. Um dos sorrisos mais silenciosos, não menos moleques, no bom sentido, era o de tia Iracema.
    Ele se desenhava aos poucos, insinuado, secreto. Lembra muito o de sua filha Elaine, que também não avisa quando vai rir e rindo mais esconde do que revela. 
    Voltando aos agregados, cunhados de ouro, todos muito ligados à minha formação. Dante, desde as gozações ainda na tenra infância, visto ser o mais antigo. Antes dele, só o meu pai, o Cid.
    Também se destacava na risada. Quem nunca o viu esfregar as mãos entre os joelhos, alteando ombros ao ritmo da risada da hora? Isaac herdou uma dessas modalidades de riso, mais discreta, pendendo a um dos lados a cabeça. 
    Dante cantava a música do palhaço Carequinha, mexendo com a lenda urbana de que eu urinava na cama. Vinguei-me, certa vez, num daqueles almoços enormes aos domingos, após a EBD na Congregacional de Nilópolis. 
    Eu dizia que queria fazer xixi. Assim, despistava minha mãe, para não comer tudo à refeição. Dante esticava as mãos, em forma de concha, com o jeito súbito e criativo de sempre: faz aqui, ó, ele dizia. 
    Claro que eu entendia que era somente retórica. Havia ênfase, feição e gargalhada dele. Ora, todos os filhos, a filha, netas e netos conhecem essa cena teatral dele. E eu sempre entendi e me bloqueei, em respeito. 
     Até o dia em que pus o pululu (como sofri bullying - naquela  época, ainda fora  do Código Penal - de toda a família, por esse designativo inventado por Dorcas!) para fora, e fiz. Ele não sabia se escorava ou não, preocupado na conservação do chão de tacos de madeira de d. Eunice trisa. 
    Ele que saiu da mesa, em busca do banheiro da velha casa. Surpreendi meu querido tio, lá se vão mais de 55 anos, com certeza. Ele voltou enfático como sempre, fez uma gozação ou outra, na hora, e continuamos amigos. 
    Dirley foi meu professor de português e Inácio de matemática. No primeiro ginasial, isso foi em 1969, eu fiquei em final precisando de 6,0. D. Ivete, jamais esqueci daquela professora de 1,80 m. Poderia ser até menor, mais ficava enorme como obstáculo numérico. 
     Manoel Inácio amava aritmética. Suas explicações duravam 30 min de aritmética por 10 min de nosso programa. Mas tirei 9,0 na final. Valeu, Inácio. E Dirley mal sabia que eu teria a mesma profissão dele. 
    Gastava muito tempo, desde o tempo daquela transversal da Dr. Rufino onde moraram, recém casados, na última casa daquela vila (e lá vão 50 anos, eu com meus já 62).
    Em 1976, no GPI, pré-vestibular, um professor de cursinho de quem não lembro o nome, ativou meus neurônios por seu método, trazendo às conexões tudo o que, no arquivo, esse outro cunhado agregado da família havia cuidadosa e dedicadamente implantado. 
     E Dante também ajudou até nas descobertas próprias da pré-adolescência. Em Belford Roxo fui brincar com os meninos. Eram os primos que, ainda que mais distantes na idade, com quem mais afinava.
     Claro que também  aprontávamos, Rubinho e eu, poucas e boas na velha casa, ainda quando tio Merinho e tia Zila lá moravam. E com Binho, era quando toda a quadrilha - no bom sentido, de Carlos Drummond de Andrade, pois nos amávamos e nos amamos - se reunia: Bela, Nanica e Cabrita, para o fuzuê em meio aos caixotes de feira-livre no quintal do Bide. Só Erlon escapava. Era dimenor. 
    A ida para Brasília foi só um intervalo. Mas meu pai, tia Maninha e eu visitamos a família no Gama. E, vejam que azar, às vésperas de minha segunda temporada no Acampamento Ebenézer, isso deve ter sido em 1971, Lincoln me passou papeira (aqui no Acre), caxumba (aí no Rio), isso mesmo, naquela visita a Belford Roxo.
    Foi Dante que passou à frente de meu pai, para explicar por que eu deveria repousar, para a papeira não descer: senão não poderia ter filhos quando casasse. Como assim, Dante? Ele fez aquela cara de espantado típica e me disse que perguntasse ao meu pai, para maiores e mais detalhados esclarecimentos. 
    E outras  mais conversas. Essa geração, entre 40 e 65 anos, primos e primas, gente, como fomos e somos felizes! Desde os sorrisos de Tula e Eunice Trisavó - do neto de Rubinho - que aqueles dois, quando riam, fechavam os dois olhos e desenhavam um sorriso lindo, com todo o rosto. Lembram? 
    A gente aprendeu a rir com eles. Ainda que houvesse dificuldade, como a que não vimos, diziam os mais velhos, quando a nossa vó dividia o café da manhã entre os filhos e, às vezes, não sobrava para ela.
    Como quando tia Gi, avó e bisavó também, mas das mais novas, conta que dormia vendo as estrelas no céu, na velha casa, ainda sem janelas. Ou quando Cid achou farta a mesa do Natal de 1949, primeiro ano de namoro, e Dorcas esclareceu que, naquele ano, Tula fritava parida (no Acre), rabanadas (no Rio) e bolinhos de bacalhau, até!
     É que naquele ano Merinho, Eber e Maninha, os três, trabalhavam e puderam ajudar no orçamento de lauta mesa natalina. Com eles e elas aprendemos a sorrir. Ainda nem tínhamos tino, mas rimos e os vimos rir. 
     As irmãs e os cunhados, os irmãos e as cunhadas. Essa família é família do sorriso. Quanto mais na alegria e, inclusive, eventualmente, na dor. Assim vamos caminhando. E assim contaminando a geração que chega. 
    Que vejam em nós, aprendam e transmitam. Como diz Jobim: sorrio, só rio, só Rio. Fechem os olhos e se lembrem das gargalhadas e sorriso dos que já foram. Ensinaram-nos a rir. Tinham um segredo. Um secreto dentro. Alguém sabe o que é? 

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CONGREGACIONAL DE CASCADURA E NOSSOS CARROS

Os carros de nossa infância

    Em Cascadura, em nossas memórias, vamos relembrando Fuscas, Opalas, Fiat 147, Rural Willis, Itamaraty, DKV - Vemag Vemaguet e, ainda, para os mais antigos, a lambreta do pr Nelson Bento Quaiotti.
    Naquele tempo a João Romeiro era rua sem saída. Um caminho de acesso à Ernani Cardoso, lá no final, havendo acesso somente pela pe Telêmaco, com os paralelepípedos à mostra. 
    A primeira Rural de que me lembro era a dupla cor, vermelha e branca, do na época presbítero Amaury Jardim. É que não existia Guiness Book, porque entraria o recorde da quantidade de crianças transportadas ao mesmo tempo.
   Depois veio uma outra, de cor verde, porque jamais ele abriria mão da marca. E as caronas na mala interna traseira da DKV do, na época, diácono Henrique Jardim. 
    A decisão da Copa do Brasil de 1970, assistimos no porão da igreja, comemorando os 4 X 1 e batendo uma bolinha no pátio dianteiro, espaço do estacionamento, naquela tarde só com a Vemaguet verde.
    O diácono Isaías Silva teve seu Fusca, pr Maurílio também o seu, meu pai, o presbítero Jeconias aquele modelo verdinho também, preservado até os anos 90, quando foi roubado, em São Paulo, do seu filho Jair.
    E, na época, o diácono Gerson, antes de rodar o Brasil com seu Fiat 147, teve um Fusca ainda da década de 60 com o qual visitou a Transmazônica, no ano de sua inauguração, como um desbravador nato. Foi o pai dele, Clauderval, que tinha um Itamaraty Willis.
      E pasmem, lembram, do Corcel amarelinho novíssimo desse mesmo presbítero? Refiro-me, de novo, ao Jeconias. Foram anos de prosperidade. E há marcas das quais não lembro. Qual era marca do carro do presbítero Arlindo Freitas?  
    E do diácono Erasmo, pai de Nadya e Humberto? Não me lembro da marca. Quem lembrar, anote aqui embaixo. 
     Mas lembro que, certa noite de domingo, quando demorávamos até mais tarde conversando, encostei... lembrei!... em sua Brasília branca, manobrando o Fusca azul de meu pai. Bem ali na João Romeiro, defronte à saída do portão. 
     Esse mesmo Fusca azul com o qual, num domingo em que, como dizia meu pai, uma chuva torrencial desabou sobre o subúrbio, vindo eu pela via que beira a linha do trem, encontrei a Rua Souto inundada.
    Ora, já havia água dentro do Fusca azul. Ele enfrentava de valente. Continuei, encontrado a rua em sequência, de que não lembro o nome, mas por ser uma ladeira, servia para conseguir acessar a pe Telêmaco, entrar pela contramão na João Romeiro, chegarmos ensopados à igreja e o carro ficar imóvel no pátio, pois entrou água no motor. 
    Guiness Book para mim, levando já a geração seguinte ao Sítio Bom Pastor, na Estrada do Caçador, em Seropédica, tanta gente cabia ali dentro. Mas essa será outra história.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

   E o Verbo se fez carne
   και ο λογος σαρξ εγενετο

   Assim, retirado do contexto, esse comentário de João Apóstolo resume a história de toda a Bíblia. 
   É uma síntese histórica, filosófica e doutrinária, pelo menos. Porque se há uma história de Deus, o clímax dela foi a encarnação do Verbo.
    Filosófica, porque João saca da filosofia grega o conceito de Logos, para indicar que o que denominavam "motor imóvel" ou o princípio unificador do Universo tinha designação específica e pessoal no Antigo Testamento: Deus. 
    E doutrinária, porque o que desencadeia, para diante e para trás toda a história da revelação, na Bíblia, expressão que meu pai apreciava utilizar, toda a "revelação em marcha" tem culminância na expressão dessa realidade: o Verbo se fez carne.
     Deus se fez corpo. Circunscreveu-se nos limites da existência. Todos os limites. Esvaziou-se de sua deidade. Aqui para esclarecer que, ao se tornar homem, Deus não perde Sua identidade, mas abre mão de seus atributos. 
    Como homem, passa a depender inteiramente do Pai. Costuma-se ironizar essa possibilidade, debochando da confusão entre as duas pessoas, se afinal são duas, uma ou que desdobramento é esse?
   Em sua afirmação, João está a resolver esse dilema. Deus, quem é, faz-se homem sem deixar de ser Deus. Há um só Deus, como o Antigo Testamento postula. Capaz do ato por excelência que o define. Esse é o sentido.
    Aqui a total identidade de Deus e do homem. Lucas, em sua genealogia a partir de Jesus, percorre toda a história, até indicar Adão como filho de Deus. Pois é tal identidade no homem que Deus resgata para Si quando se faz homem.
    O ser humano deixa de ser uma criação para fora de Deus, para ser criatura em comunhão com Deus. Verbo é Deus exposto. Deus revelado se mostra todo. Mas não há como o homem exigir para além disso.
    Um incidente no círculo apostólico ilustra essa expressividade do Verbo, do Logos, da Palavra de Deus. Felipe resumiu numa formulação sua perplexidade ao identificar, na antecipação de Jesus, em relação à Sua morte, o paradoxo da morte do Verbo que se fez carne. 
    Felipe pediu "mostra-nos o Pai, e isso nos basta". Ao que Jesus respondeu: "Como?!" Essa interjeição em forma interrogativa indica a estranheza de Jesus, assim como devolve a Felipe a perplexidade. 
    Jesus é a cara de Deus. Geralmente ateus negam que Deus possa ser reconhecido. Pois jamais haverá expediente para além de "o Verbo se fez carne". Deus se revelou totalmente. Para além do que está posto, não há transcendência possível. 
     Paulo Apóstolo indica como, com relação a Deus, seus atributos, poder e a própria divindade estão expressos de modo claro, ele afirma, por meio da criação. Realmente a ciência não dá conta do que aprende em relação ao que já encontrou pronto. 
      Quando o Verbo se faz carne, quando entra na história, é a síntese completa da revelação de Deus. Não só se define, dá-se a conhecer, assim como chama à comunhão. Não há mais nada além. Não há como haver. Visto que e porque, em Jesus, o Verbo se fez carne.

sábado, 16 de novembro de 2019

Instituto Ecumênico Fé e Política para mim

   Neste texto, que divido em três tópicos, desejo analisar o que é o Instituto Ecumênico para mim.

1. Gratidão: por pura coincidência, no livro de 2005, meu nome aparece assinado em primeiro lugar. Um dia chuvoso, na Fadisi, quando com Lina Boff demos indício às atividades do IEFP, liderados por Nilson Mourão, Pacífico e o pr Geber. O desdobramento permitiu que reuníssemos irmãos de outras tradições e iniciássemos uma brilhante jornada de Cultura de Paz e irmandade entre religiões. Aprendi tudo o que sei sobre ecumenismo e diálogo inter-religioso, na prática, somado à minha experiência familiar e as teorias vistas no mestrado da PUC/RJ. Que religião jamais pode ser barreira na comunhão fraternal. Que nenhuma delas é definitiva ou mais importante do que outra qualquer, independentemente de sua antiguidade ou número de adeptos. Que a pessoa sempre é mais importante e que a religião sempre lhe presta serviço: a religião que sufoca ou oprime, deixa de ser. Na minha fé, Deus se fez homem e não religião. 

2. Ensino Religioso: representar o IEFP no Ensino Religioso, a convite da Secretaria de Estado de Educação - SEE é uma tremenda responsabilidade e um enorme privilégio. Um começo fantástico em companhia de Ivanilde, mulher de valor e coragem, que tem sua biografia relacionada a várias frentes de luta, no que é essencial, e sempre como modelo. Foi uma jornada, uma peregrinação muito gratificante percorrer o Acre de ponta a ponta com ela em 2014. E a partir deste ano, o Ensino Religioso somente avança, como resultado dessa parceria IEFP-SEE e o acolhimento por parte dos heróis, os professores, que mesmo diante dos obstáculos, como o acúmulo de outra(s) matéria(s) que não só o Ensino Religioso, ainda a falta de um Curso de Licenciatura (diga-se de passagem que o IEFP em sua diligência participou do início dessa caminhada, com a pós-graduação na UFAC), eles têm se mostrado receptivos,  aceitando e se empenhando em todos os desafios. Destaco a administração atual da SEE, que confere total apoio ao Ensino Religioso em seu desenvolvimento. 

3. Contexto atual: toda a história acima descrita me contextualiza no Instituto de modo muito sensível. Porque misturo-me com sua história e minha própria história tem sido tremendamente influenciada por ele. Esse Instituto que é Fé e Política, colocando-se de modo corajoso e desafiador em duas trincheiras fundamentais na sociedade, chama a si, de peito aberto, toda uma luta em que as principais armas são o amor e a paz. Se houver conflito, e essas são, religião e política, exatamente duas áreas de flagrante conflito, cada membro do Instituto vai armado para essa luta com amor e paz. Como diz a Bíblia, livro que, de vez em quando, eu leio, enfrentar conflito com amor e paz é uma loucura. Mas temos praticado. Marcado a nossa sociedade com esse exemplo. Porém, somos seres humanos. Temos nossas ênfases religiosas e políticas. E um dos desafios internos no Instituto, que é Fé e Política, é não permitir que uma maioria interna política defina seus temas e prioridades, assim como uma maioria interna religiosa faça o mesmo. Temos de ter consciência de nossas virtudes, pontos fortes, e de nossas fragilidades, que existem. Com relação a mim mesmo, numa autoanálise, não avalio que minha postura política esteja definida ou que ela, no contexto do Instituto, venha contribuindo de modo positivo para o desenvolvimento dessa faceta, a política, entre nós. Tenho sido sincero e, muitas vezes, cirúrgico em minhas afirmações, por achar que esse é o contexto de debate, mas em nenhum outro lugar assim me exponho. Vou repetir: não misturo essas minhas inquietudes e angústias com a abordagem do Ensino Religioso. Portanto, minha escolha, no momento, é parar de emitir opiniões de viés político. Já tentei fazer isso sem sair do grupo de whatsapp do IEFP. Mas não consegui. Porque me senti, por minha própria conta, instigado a falar. Mas preciso "dar um tempo" para realinhar minhas opiniões. Não quero que essa minha fase atual acabe por comprometer minha história no IEFP e no grupo. Desejo ainda lembrar e, de certa forma, advertir que quando há uma maioria, como já mencionei aqui, seja ela religiosa ou política, não vai caber a ela própria, sozinha, autoexaminar-se e avaliar se tem se tornado hegemônica: é bom que ouça os que estão do outro lado também. Evangélicos, no IEFP e no grupo, são tão minoria quanto outras confissões nele representadas. E são um mosaico muito variado. E na fase atual, estão sendo genericamente acusados de apoiar, politicamente, o lado errado. Aqui não é lugar para eu repetir ou justificar minhas posições. Mas fica a advertência para que, nem religiosa e nem politicamente, as representações mais destacadas em sua maioria, tanto no IEFP quanto no grupo, ainda que sem perceber, façam prevalecer sua visão. Porque nossa convivência é plural e devemos exercitar a aceitação do contraditório.

       Vou pedir ao Pacífico e ao também amigo Frank que sejam meus interlocutores e conselheiros nesse período em que estarei afastado do grupo de whatsapp. Quero dizer que estou em contato, também, com os demais membros no privado. Tenho certeza de que vão me ajudar e orientar. Qualquer dúvida ou informação sobre o Ensino Religioso, podem ser mediadas através do contato com eles. Após o compromisso de segunda-feira próxima, no auditório da SEE, momento em que escolho me afastar temporariamente, esses amigos já poderão, em caso de qualquer contato, prestar esse honrado serviço. 

     Todos sabemos orar. Peço que estejam orando por mim. Sempre grato e muito honrado por essa companhia e contexto de comunhão.

  Cid Mauro Araujo de Oliveira .

quinta-feira, 7 de novembro de 2019


      Debruça, avô. Lança esse olhar sobre Dora, no regaço de tua esposa, a avó. Fica perplexo e reflexivo. Quantas orações regaram esse nascimento?
    De quantas gerações? Rufinas e Fernandes de Braga. Um oceano separando. Providência ou acaso do destino? Descansa, Dora. Tudo em sua ainda recente existência é reposta de oração. 
    Para a sua chegada muita gente nasceu nesse mesmo regaço regido por oração. Foi preparação. Esses mesmos olhares, inquirindo "o que virá a ser esse menino", no caso, meninas, muitas, várias meninas.
    Você é resposta de oração. Mas, para você, sua família, pai e mãe, são também resposta de oração. Há quem cobre respostas de Deus. Para quem parece que Deus não fala.
     Ora, como fala. O seu olhar, menina, ainda tão cedo em sua vida, mas vívido e brilhante é resposta de Deus. A melhor resposta de Deus. A maior resposta de Deus. 
     Por isso que a Bíblia diz que da boca de pessoas como você é que Deus suscita perfeito louvor. Essa é a leitura que, pelo sorriso, sua avó está fazendo. 
     Outra leitura pelo olhar de seu avô, mais contido e reverente. Porque homens, nessa hora, preocupam-se por cercar de atenções suas esposas. 
    Muita responsabilidade Deus pôs sobre os ombros dos pais, Dora: amar esposas como Cristo ama a Igreja. Daí, quando isso acontece, nascem como você nasceu.
    Não é por acaso que você encontra toda essa expectativa. Ela atravessou séculos, até desandar em você. Mais uma mulher. Outra mulher. Vai aumentar a algazarra, certamente. 
    Mas haverá ganho em sabedoria. Os sorrisos, como o de sua avó, mãe, bisavó, irmã de tias bisavós e primas e tias para caramba.  E quando os Josés se debruçarem também sobre você, ficarão assim em suspenso, como teu avô. 
     Pensando que mais uma mulher aumenta em muito a nossa responsabilidade. Vão cobrar de teu pai. Vai ver que ele há de sentar ao piano, para compor outra música. 
    Estranhe não, homens são assim mesmo, ora graves e circunspectos, para logo depois gritarem por mais um goal do Flamengo. Nasceste num bom tempo e no melhor ninho.
    Fé, amor e oração te precedem, não necessariamente nesta ordem.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

1977 - Culto em Ações de Graça - Ministério Pastoral na Igreja Batista Seropédica - Final


Dorcas Lima Araujo de Oliveira
e
Cid Gonçalves de Oliveira 
   
   Eis-me aqui, ó meu Senhor 
  Usa-me no teu querer,
  Para falar de teu amor,
  O Teu nome engrandecer. 
  Onde quiseres que eu vá 
  Propagar o Teu poder,
  Faze o mundo contemplar 
  Cristo somente em meu viver.

  Os campos eis a branquejar 
  E prontos para colher estão,
  Se alguém anunciar
  Tua grande salvação. 
  Dá-me coragem para ir
  Ou pra mandar quem por mim vá,
  Não tenha eu medo de partir 
  Para meu Jesus anunciar.

  Oh, dá-me que eu sempre possa ver
  As almas vindo a Jesus,
  E que elas possam receber
  Teu consolo e Tua luz.
  Oh, dá-me sempre esta visão,
  Mesmo que eu tenha de sofrer;
  Faze-me puro coração 
  Pra só em Cristo ter meu prazer.
    
   O hino aqui escrito, anotado com letra de Dorcas no final dessa longa exposição, nesse Culto de 1977, quando Cid se despedia do pastorado na Igreja Batista em Seropédica, sintetiza toda uma visão de época.
  Nessa visão foram educados Cid e Dorcas, na herança de evangelho importado e ensinado pelos anglo-missionários que implantaram no Brasil, há mais de século e meio, o protestantismo de missão. 
   Fala de uma entrega incondicional a Jesus, refletida no espírito de missão a todo o custo, sem importar distância e estranhezas culturais. Também fui educado nessa mentalidade tendo, diante dos olhos, esse ideal. 
   O hino me traz, com força, à memória a personalidade de Cid e Dorcas, o seu contexto de igreja, no qual se conheceram e se engajaram em casamento. Sou fruto dessa época e dessa mentalidade. Talvez este século tenha pouco se esforçado para manter essa visão, que vem se consumindo. 
    Porque, talvez, os crentes de depois dessa geração estejam perdendo ou já perderam a visão mencionada nos 4 últimos versos da terceira estrofe. Ninguém acha mais que tenha de sofrer alguma coisa para ver "almas vindo a Jesus" ou tenha de hipotecar sua vida "pra só em Cristo ter meu prazer".
   Ora, que tenha sido somente um "espírito de época", uma "cultura evangélica" que ficou no séc. XIX. Mas Cid e Dorcas a viveram intensamente: conheceram-se no pátio de igrejas, conviveram em família imersos nessa cultura e criaram seu único filho galvanizado nesse século.
    Não vou discutir isso, quer dizer, a ida ralo abaixo dessa cultura considerada refugo. Tenho já 62 anos e minhas raízes são essas aí. Talvez seja muito tarde para mudar. Mas muito me preocupa a nova cultura que está vindo por aí, posta no lugar dessa. Porque ainda não tem personalidade. E não sabe o que fazer da vida, não mais hipotecada a Jesus, e perdeu seu senso de missão.

Anotação, com a letra de Dorcas, do
hino acima digitado, provavelmente 
cantado por ela no dia desse culto. 

Provável foto desse culto 
ou outro dia: sentado,
Jessé Moreira, que
garantiu, num empréstimo, 
a última mensalidade no
curso de Bacharel  em Teologia 
do Cid: sorrisos que 
sintetizam o espírito
de uma época. 


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

1977 - Culto de Ações de Graça pelo Ministério Pastoral na Igreja Batista em Seropédica - 8

Barca da Cantareira (veja link): 
em 10/12/1949, no lânguido ambiente da 
Baía da Guanabara, Cid e Dorcas 
ensaiavam seu namoro. 

- Assim aconteceu: Numa bela tarde de um sábado, dia 10 de dezembro de 1949, encontrava-se o jovem seminarista sentado à sala do lar do Presbítero Deocleciano e D. Maria Augusta, na Rua Teixeira de Freitas, em Fonseca - Niterói, conversando animadamente. Quando chegaram duas moças. Uma era a filha da casa, a qual muito queria o jovem seminarista como namorada, noiva e talvez futura esposa. Mas esse não era o mesmo propósito do Senhor. Ele tinha uma outra escolha. Jamais poderia supor o pastor que seria aquela que acabava de chegar que ele conhecia, sem aproximação e nenhuma pretensão. Ela havia ido lá para pedir a D. Maria Augusta a companhia da filha para uma viagem ao Rio, para, juntas assistirem uma programação evangélica na Igreja Fluminense. Não deixando a filha ir àquela festa, pela razão de provas no seu colégio na segunda-feira seguinte, induziu a moça, companheira da filha a aproveitar a companhia do seminarista... Acrescentando-lhe o seguinte comentário: "É rapaz muito direito, seminarista e irá agora para o Rio. Se você não se importar de viajar com ele, eu falarei sobre isso com o 'meu filho' (era assim que D. Maria tratava o então seminarista até hoje...) e vocês irão juntos! E olhe lá! ... Se não vão começar, hoje, um namoro!!!".
    - Não deu outra coisa! Era aquela que o Senhor havia indicado para ser a futura consorte do Pastor. Está aí, entre nós, sentada ao seu lado juntamente do Cid Mauro (jovem acadêmico de engenharia na PUC) e a Vanderleia, sua filha adotiva. 
   - Alguém poderia redarguir ao Pastor: por que o Sr. sendo naquela época seminarista e candidato ao ministério evangélico de uma igreja batista não procurou namorar, noivar e casar com uma moça batista?! E por certo receberia a pronta resposta: "Procurei, sim! Mas não deu certo". De uma ouviu o seguinte comentário: Não quero casar com pastor. De outra: "É muito bonitinho o rapaz, mas é muito baixinho! Gosto de rapaz mais alto!" Ainda de outra tentativa, recebeu a sentença lapidar: "É muito pobre, não tenho vocação para ser Amélia." Deixo o juízo para os irmãos. Sem comentários. 
  -  Nascia assim o namoro, noivado a 24 de dezembro de 1950 e casamento a 29 de maio de 1954. Com trinta e cinco anos de idade consorciou-se o pastor com a atual esposa D. Dorcas Lima Araujo de Oliveira. 
   -  Deus escolheu sua esposa, sua nova família. Para os irmãos fazerem ideia do que era essa nova família do então seminarista Cid Gonçalves de Oliveira, eis aqui um ligeiro episódio, já estou terminando: No longínquo ano de 1952 (noivo oficial da snrta Dorcas  -  na intimidade Maninha), passou uma crise de moradia. O quarto que ocupava em Quintino não lhe estava servindo e tal fato chegou aos ouvidos de seu futuro sogro Baldomero, que lhe chamou a parte e lhe disse: "Não se preocupe, Cid, você vai morar aqui em casa. Eu me lembro que quando não tinha casa para morar como está acontecendo a você, agora, o meu sogro e pai me fez o mesmo comigo. Então, é uma espécie de dívida que contraí com ele e desconto uma parte, nesta oportunidade, procedendo de maneira semelhante com você, meu futuro genro". 
        Deus lhe deu uma família maravilhosa para se associar. Todos são seus amigos. Seu sogro já partiu para a eternidade, mas era para o pastor como um pai amantíssimo.
       Um episódio, de que o pastor não poderá esquecer-se jamais, foi quando já namorando a estão snrta. Dorcas, em 1951, a 21 de agosto daquele ano, seu aniversário foi naquela modesta casa cristã e amiga de Nilópolis comemorado pela 1a. vez na sua vida, até onde se lembrava o pastor. Foi uma surpresa inesquecível. Chegou do trabalho o jovem e seguiu para a casa da namorada recente (relativamente). Ao chegar em sua casa, encontrou uma lauta mesa de doces, muita alegria e cada irmão da Maninha (esse é o apelido de sua predileção) com um lindo presente para o jovem e sorridente seminarista. Que logo depois, exclamara para ela: "Nunca tive uma festa tão linda como esta, em comemoração do meu aniversário. Muito obrigado, mesmo, você trouxe um mundo novo de alegria para a minha vida. Estou muito feliz e agradecido ao Senhor por você e sua maravilhosa família".
         Não posso prosseguir mais. Desculpem os irmãos e toda a Igreja. Foi mesmo muito difícil resumir os fatos de uma vida tão abençoada pelo Pai (Deus) em tão poucas laudas. Louvamos ao Senhor, porque foi Ele que fez isso. Amém .

                         Estação Cantareira 

1977 - Culto em Ações de Graça pelo Ministério Pastoral na Igreja Batista em Seropédica - 7

Igreja Evangélica Congregacional
de Niterói, a "Igreja da Praia",
desde 1863.

12. (14) Com o seu restabelecimento e de volta de sua viagem de recuperação ao interior do Estado, reassumiu suas funções no IBGE e voltou a cursar o seminário. 
      Porém, aqui, nesta altura quero registrar uma faceta da vida desse servo de Deus, que revela ser ele um homem de oração e confiança na pronta intervenção do Senhor nos casos vitais da vida de seus filhos.
        -   Estava, nessa altura, com seus 30 anos de idade, mais ou menos. E aquele que se pudesse teria se casado entre os seus vinte e um anos a vinte e cinco, deixou tudo para preparar-se para o ministério. Seus estudos foram custeados, mediante as bênçãos de Deus, com o seu minguado ordenado da época no IBGE. É ilustrativo registrar o fato que numa ocasião, isso já no ano de 1951, nesse ano em que terminou o curso de Bacharel em Teologia no Seminário Betel, estava atrasado com as mensalidades do seu curso e o diretor do Seminário deu uma palavra de ordem para todos, dizendo, que, quem não pusesse em dia seus pagamentos não faria as provas finais de conclusão do curso. Aí o pastor pediu socorro do então pastor da I. B. da Gamboa (Jessé Moreira) que lhe emprestou a importância para pôr em dia os seus pagamentos no seminário. Posteriormente o pastor Jessé foi reembolsado fielmente da importância emprestada ao seminarista de sua igreja.

13. (15)  Concluirei, narrando para os irmãos as experiências sentimentais do então jovem seminarista. Quando cursou o 1° ano do Seminário Betel, em 1944, ficou conhecendo um colega e irmão em Cristo da Igreja Congregacional de Niterói, chamada a "Igreja da Praia". Era seu pastor um médico (Dr. Bernardino de Campos). Naquela igreja pregou muitas vezes o pastor, quando seminarista, e posteriormente já consagrado ao santo ministério. Pois foi, indo a Niterói, a um culto de ação de graças na casa de um Presbítero daquela Igreja pelo aniversário de sua filha que nasceu o conhecimento e grande amizade com a família Xavier Batista. 
        De 1944 a 1947, mais ou menos, três anos esperou o pastor pela resposta positiva de uma filha da família as suas pretensões de namoro, noivado e casamento. Realmente foi uma grande paixão de sua mocidade aquela moça congregacional. Mas o pastor ao orar ao Senhor, lhe dizia: 
    "Senhor tu sabes ó Pai que sou apaixonado por fulana, porém não permitas que me case com ela, se não for a tua vontade..."
  - E foi o que aconteceu. Sempre frequentando a casa muito amiga, cuja amizade conserva até os dias presentes, seu chefe Presbítero Deocleciano Xavier Batista, já é falecido há alguns anos. A viúva, D. Maria Augusta, considera-se sua mãe por profunda estima que dedica ao pastor. Da mesma maneira, a filha, senhora casada e mãe de três filhos já moços. 
     -  O fato que revela a intervenção divina na resposta afirmativa às orações do jovem seminarista e futuro pastor, narrarei nesses momentos finais de minha palavra. O qual não deixará dúvida a ninguém que foi, inegavelmente o Senhor que fez isso e só faltou aparecer e dizer: Fui eu e não outro que realizou essa obra e nela me comprazo.

sábado, 2 de novembro de 2019

1977 - Culto em Ações de Graça pelo Ministério Pastoral - Igreja Batista em Seropédica - 6

MABE - Moderna  Associação Brasileira  de Ensino, onde Cid cursou o Clássico,
entre 1944 e 1948
(veja link abaixo).

12.  Em 1944, já trabalhado no IBGE, matrícula-se no Seminário Teológico Betel, para fazer o curso de bacharel em teologia. Porém, tendo a pretensão, agora, mais encorajado com as vitórias que o Senhor já lhe havia proporcionado no terreno dos estudos, de cursar o curso clássico para poder ingressar mais tarde na faculdade de direito. Isso foi feito. Matriculou-se no curso clássico na Modena Associação Brasileira de Ensino (MABE) na Rua Riachuelo, por ficar tal estabelecimento nas proximidades de seu trabalho, no IBGE. Todavia, em 1947, teve de interromper seus estudos, por razão de grave enfermidade. 
        Voltando a estudar no ano de 1948, agora, com esforços maiores para ganhar tempo. Assim que, em 1948, recomeçou os estudos do curso clássico e o teológico concomitantemente. Concluindo o curso clássico em 1950 e o teológico, em 1951.

13.   Resumirei, porque o tempo corre, alguns fatos importantes e graves da vida do nosso pastor, que hoje se despede de nossa igreja, relatando GRANDES LIVRAMENTOS DO SENHOR, para preservar a sua vida a fim de que nesta hora o tivéssemos aqui, entre nós:
            a) Na idade de 10 anos contraiu sarampo, e  ao tomar chuva fria, após tomar um remédio de efeito quente, o sarampo recolheu e ele quase morreu, e Deus o livrou da morte;
            b) Quando contava seus 14 anos de idade, contraiu uma febre maligna, ficando em extrema fraqueza (em pele e osso), a ponto de os parentes terem pensado estar tuberculoso, e Deus o salvou de maneira toda especial, fazendo com que seu pai, gastando o que não podia, o remetesse para o Valão do Barro, onde ficou em tratamento na farmácia do seu compadre Janu... Em 60 dias ficou plenamente curado;
           c) Quando já no Rio, de certa feita andava para o seu quarto, de volta do emprego, e, ao atravessar uma rua estreita, numa esquina entrou um automóvel em alta velocidade, só dando tempo de dar um pulo do meio fio para cima da calçada, enquanto o carro passava no mesmo lugar onde andava, sentido àquela altura que realmente foi o Senhor que o livrou. 
          d) Doutra feita, ao tomar um bonde levou uma queda brusca, caindo junto às rodas do mesmo, sem sofrer sequer um arranhão;
          e) Ao começar o curso ginasial, no Colégio Batista, aos 19 anos de idade, caiu gravemente enfermo com uma pleuris (o tratamento levou uns 30 dias) e mesmo assim, passou de ano com medalha de prata (2° lugar da turma);
         f) Mas, deixando outras crises de saúde de lado, concluirei o relato dessas experiências de sofrimento do pastor, fazendo referência a sua grave enfermidade do ano de 1947. Naquele distante ano (três décadas atrás), o pastor foi acometido de uma gravíssima enfermidade que o deixou 60 dias internado numa casa de saúde (precisamente Sanatório da Tijuca), sendo que ficou três dias em estado de coma profunda. 
        Os seus colegas e amigos do IBGE se cotizaram e pagaram as despesas de seu tratamento, depositando o dinheiro de seu pequeno ordenado integralmente na Caixa Econômica Federal e quando teve alta, precisamente numa sexta-feira da "semana-santa" (dia 13 de abril do ano de 1947) os colegas lhe participaram isso.
        Com a retirada de seu dinheiro da Caixa Econômica, pôde embarcar para o interior, indo descansar e refazer-se na casa do seu pai e irmãos.

http://www.rioecultura.com.br/coluna_patrimonio/coluna_patrimonio.asp?patrim_cod=107

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

1977 - Culto de Ações de Graça - Ministério Pastoral na Igreja Batista em Seropédica - 5

10. NO COLÉGIO BATISTA.

Estudos: do "nóis vai, nóis faz"
até à Leopoldina Raillway 
(siga texto e link)

         O Senhor queria, e eis que em certo domingo a Mocidade de São Cristóvão e naquela ocasião o rapazinho humilde, mas crente e interessado nas coisas espirituais, assistiu ao programa que foi muito apreciado por todos. Ficou conhecendo após o programa, o irmão Olímpio Leão de Carvalho (já falecido) e tal conhecimento progrediu tanto que dentro em pouco foram morar juntos num quarto nos fundos do templo da Igreja Batista em Vila Isabel (pastor Antônio Charles também falecido). Pois foi o irmão Olímpio que arranjou uma vaga de zelador no Colégio Batista a ele destinada, mas não lhe interessando por questão de pequeno ordenado. Quando o humilde jovem compareceu ao Colégio Batista e se apresentou ao Gabinete do Diretor (Dr. Pastor José Nigro - falecido) e lhe apresentou o bilhete do irmão Olímpio, lendo-o rapidamente, voltou-se para o interessado ao emprego e lhe disse: "Olhe, rapaz, vou dar-lhe o emprego. Mas não venha com essa mania de estudar porque não vai dar."
      --- "Está bem, dr. Eu quero ê trabalhar num ambiente sadio de crentes".
       Todavia, com toda essa recomendação, 6 meses depois o jovem de aparência humilde e tímida se tornara estudante do Colégio Batista, e na sua carteira profissional, a qual possui até hoje em seu poder estão as seguintes anotações do então secretário do Colégio (Dr. Anselmo Páscoa, falecido): Salário: 100 mil réis com casa e comida; e deixou o emprego e passou a categoria de estudante. 
        No Colégio Batista permaneceu trabalhando e estudando, por conta própria, de 1939 a 1942. Começou como zelador do Edifício do Colégio em meiado (sic) de 1938, mas com as bênçãos do Senhor, que usou como seu instrumento o Pastor Antônio Charles (pastor da Igreja em V. Isabel), começou a estudar, visando possuir maiores conhecimentos para servir melhor à Causa. Não ousava dizer que era para o ministério, por achar um ideal elevado demais para as suas possibilidades. Ao Senhor pedia, em orações nas altas madrugadas no dormitório do Colégio, que lhe abrisse as portas para estudar um pouco, pelo menos para não falar "nóis vai, nóis faz", e ser instrumento mais hábil em suas santas mãos para servir o Seu reino na terra... Deus atendeu plenamente. Aleluia! Aquele que tinha a modesta pretensão de apenas terminar o primário e cursar até o 2° ano ginasial, o Senhor impulsionou e ajudou a fazer o ginásio completo; o curso clássico completo; o curso de Bacharel em teologia (no Seminário Betel) e o curso de direito (Bacharel pela Universidade do Estado da Guanabara).
 11.     Em fins de 1942, sentiu que chegou o tempo de deixar o Colégio. Precisava trabalhar em um emprego, do qual auferisse um ordenado mais condizente com rapaz com os seus 24 anos de idade. Que deixou tudo para estudar. Renunciou ordenado, roupa melhor (sacrificou sua apresentação pessoal anos a fio), pois do Colégio recebia somente o estudo, casa e comida. Estudava com livros emprestados e notas das aulas. Durante as férias trabalhava para pagar as taxas do Colégio. Dinheiro não via. A não ser uns biscatinhos que lhe davam as pessoas caridosas que admiravam o seu inaudito esforço para prosseguir nos seus estudos. Assim, a 2 de janeiro de 1943, ingressou na Leopoldina Raillway após uma prova de habilitação para trabalhar no seu escritório na Estação Barão de Mauá. Nela permaneceu até 30 de setembro daquele ano, quando, exonerou-se por ter sido nomeado para trabalhar nas mesmas funções no IBGE, mas com a vantagem de o horário ser de 12,00 às 18,00 horas, o que lhe facilitava as pretensões de continuar os estudos. E nessa repartição permaneceu até os dias de hoje, contando 35 anos corridos de serviço, computados os oito meses servidos à Leopoldina.

História da Leopoldina Raillway:

1977 - Culto em Ações de Graça - Ministério Pastoral na Igreja Batista em Seropédica - 4


Praça da Bandeira, Rio, RJ
(abaixo do texto, link da história
dessa famosa Praça)

      Mas um belo dia (feliz é aquele que recebe e vê esse belo dia que lhe chega...), quando membro da Igreja Batista em São Cristóvão, naquele tempo (1934) situada na Rua Pará, 38, na Praça da Bandeira (hoje está na Rua Paraíba, junto à Rua Mariz e Barros), recebeu a incumbência de pegar o evangelho, em um trabalho da União de Mocidade, na Praça da Bandeira. Corajosamente aceitou o convite. Estava há poucos meses no Rio. Abriu o Evangelho de Marcos 16:15 e 16, e começou a pregar: "Irmões, nóis pricisa pregá o ivangelho de Jisuis Cristo, porque Ele é nosso salvadô". E assim suando por todos os poros, encerrou o seu famoso (e primeiro, no Rio) sermão que não durou nada além de 5 minutos. Em seguida a sua pregação, aproximou-se dele o seminarista José de Paula e lhe disse delicadamente: "Irmão Cid, muito bem! Parabéns pela sua coragem em testemunhar de nosso Senhor Jesus Cristo. O crente deve ser assim mesmo.  Mas procure estudar um pouco, meu irmão, para você não falar: nóis faz, nóis prega o ivangelho, etc."
         Aquelas palavras lhe encabularam sobremaneira. E pensou consigo mesmo: será que estou errado? - Errado? em quê? - Mas, por via das dívidas reacendeu a sua vontade de estudar... Mas estudar como? Se o pobre menino trabalhava de dia para comer de noite, e o que recebia, mal dava para comer e mal vestir?!
        Em certo dia foi ao pastor da igreja e lhe expôs seu desejo de estudar, mas não resultou em nada... Que poderia fazer o pastor a favor de um rapazinho já com seus quase 18 anos e sem dinheiro... Com pouca saúde e semi-analfabeto?!

         Veja no próximo texto o que fez.