Transcorria na mesma rotina o ano de 1982. Iniciava Letras na UERJ. Poucas matérias à noite, pelo menos num dos dias da semana, para subir a Grajaú-Jacarepaguá e descer em direção à Taquara, para alcançar o Guerenguê.
Dia de semana, chovesse muito que chovesse, para mencionar o pior dia, chegava eu no RV 2644, Fusca azul céu de meu pai, ano 75, e dava com o seu Manoel Marques embaixo do enorme guarda-chuva, ali, bem pertinho ao portão da Congregação.
O terreno era ocupado, em sua terça parte, lá ao fundo, de fora a fora, pelo salão do templo e uma cozinha ao lado. Mais ou menos 2 X 5 a cozinha e 8 X 5 o salão. Quando era assim, esse temporalzão de verão, à noite, daí a pouco vinha Emilzair, Rogério pelo braço, coladinho a ela, 0,50 cm de altura, carregando uma das sobrinhas e ela, com o caçula no colo, ocupada com a outra para se cobriu da chuvarada.
Entrávamos. Cantávamos. Devocional. Pedidos de oração. Orávamos. Eventualmente ela comentava que éramos só nós três. Não valeria a pena. Não avançaríamos em nenhuma direção. Sorrisão do Manoel Marques nessas horas. Um dos sorrisos mais lindos que jamais conheci.
Domingo pela manhã, quando era o caso, eu passava na Assembleia de Membros da igreja-mâe, em Cascadura, para dar o relatório dos trabalhos por lá em Curicica. A chegada no final da reunião de Membros era estratégica, formalidade para, de propósito, eu não participar dos demais assuntos.
Era época de eleição e manobras mais políticas do que evangélicas ameaçavam o bom avanço dos trâmites. Eu não queria me envolver. Mas me envolvi. Por duas vezes fui procurado pelo Preb. Arlindo. Falou-me que as reuniões entre eles, oficiais da igreja, diáconos e presbíteros assim eleitos, não iam bem.
Troca de ofensas, quase virando desaforos, houve até bate-bocas. E a proximidade com os muros da vizinhança, fazia-os participar involuntariamente. Era feio. Cascadura era igreja egressa daquela de Piedade. Um grupo homogêneo saiu de lá, em 1952, e se organizou congregação em Madureira. Ora, mas faltava o quê para igreja plena? Um pastor, ora vejam.
Digo assim, porque o grupo era super coeso, bem articulado e o pastor que os liderasse teria pouco trabalho a fazer. Quase que nem de liderança precisariam. Quero dizer com isso que deveria ser alguém sensível a essa demanda para, ao invés, não ser liderado. Ou despachado (!).
Mas não foi o que ocorreu. Nelson Bento Quaiotti, primeiro pastor, ficou por 15 anos. Em 1966, quando lá chegamos, eu, mãe e avó, era ele o pastor. Depois, mais 15 anos para Maurílio Neves Moreira, que me batizou em 1968 e, a partir de março de 1983, eu mesmo, pelos 11 anos seguintes mas, à altura da história deste texto, eu ainda não sabia.
Após a segunda conversa do presbítero comigo, cheguei um dia, a Cascadura, numa manhã de domingo, para dizer que eu, como pastor-auxiliar, dirigiria aquela reunião de oficiais. O Pr Maurílio estava desgastado como liderança, não por si mesmo, mas pelas pressões que sofria. E o quadro de quem o apoiava, desmantelara-se.
A oposição veio com força, brandiu regras do Estatuto da Igreja, que lhes eram desfavoráveis, retirando sua estabilidade. Eu, que conhecia desde meus 9 anos aquela turma toda, que recém-batizado, com apenas 12 ou 13 anos já dava meus palpites nas reuniões de membros, estava prestes a saber que, sim, em meio àquele tiroteio, fora, sim, vocacionado para aquele tipo de peleja, como dizem nossos irmãos latinos.
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