Na fuga cobre-se um percurso constituído por etapas. Para a fé, só existe uma única via, crer. Para a fuga, há múltiplas opções.
Jonas decidiu ir para Tarsis, para longe da face de Deus. Como se fosse isso possível. Desceu ao porto. Procurou um navio. Achou. Pagou o preço da passagem. Entrou para dentro dele.
Na primeira etapa Jonas teve uma alucinação. Enganou-se a si mesmo, como que cegando a si próprio. Desviou da face de Deus seu olhar, para enxergar a fantasia da fuga. Divisou Tarsis diante dos olhos.
A partir dessa racionalização, sim, porque quem foge racionaliza. Os que não creem, dizem ser absurda a fé, porque sua não fé é estrita e absolutamente racional. Pobre ciência. Nunca teve tantos adeptos de sua suposta doutrina.
As escolhas da não fé, para longe da presença de Deus, são pensadas passo a passo. Jonas procurou, achou, pagou o preço e entrou para dentro. O texto bíblico, como num refrão, repete Tarsis, Tarsis, Tarsis, para longe, para longe da face do Senhor.
O primeiro casal mencionado na Bíblia não achou ridículo tentar esconder-se de Deus por entre as árvores do jardim. Quanta criancice! Jonas racionalizou cada etapa, de modo calculado e reflexivo.
Poderia ter procurado, porém cair em si, desistindo. Uma vez tendo achado, divisando os contornos do navio, uma vez identificado, renunciar a essa visão. E mesmo tendo pago o preço, assim mesmo, assumir o prejuízo e descer. E voltar.
Cada etapa da loucura se sobrepõe uma a outra, como se contasse maior peso e, de modo conjunto, cooperassem para a finalidade última, que é manter a fuga e a ilusão de que é possível esconder-se de Deus. Nem na morte, meus caros.
Quem foge não mais pode pensar. Precisa iludir-se. Ocupar a mente. Racionalizar. Porque está em fuga. Espantoso como é possível cumprir etapas concretas e compostas por atitudes conscientes de fuga.
Jonas julgou com isso que, além de poder se esconder, poderia ter paz. A violência da fuga começa, contra quem começa a ser dominado por essa ideia, já a partir do voltar as costas ao cara a cara com Deus.
Paulo Apóstolo escreveu que vemos, como por um espelho, por um retrovisor, a glória de Deus, o que nos abre o horizonte de crescer de glória em glória, no modelo de comunhão que o Filho Jesus teve com o Pai.
Quando Felipe Apóstolo pediu a Jesus, próximo da morte deste, "mostra-nos o Pai e isso nos basta", Jesus respondeu: "Quem me vê a mim, vê o Pai. Como dizes tu 'mostra-nos o Pai'?". Jesus é o rosto de Deus. Jesus é a expressão exata de Deus. Em Jesus habita corporalmente toda a plenitude da divindade.
Como dizes tu 'mostra-nos o Pai?'.
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