O grupo da ABU se reunia nos intervalos das aulas. Das 12 às 14 h uma janela. Paulo Kurka. Líder do grupo. Julguei encontrá-lo certa vez na net. Nem sei se era o mesmo. Pareceu conhecer-me. Mas à senha que enviei na mensagem, mencionados aqueles dias, retornou sem eco.
Pode ser, divago eu. Pode ser. Ele parece ser um físico ou engenheiro renomado. Mas será que perdeu a fé? O Autor da física eu conheço. Pretensão. Pelos corredores da PUC. Subindo/descendo aquelas escadas. Às vezes, de propósito, largava de mão o elevador. Queria pensar. Ou orar.
Foi nessa descendente, pelas escadas 9o andar abaixo, que eu decidi ir para o Seminário. Doía-me a consciência. Ia mal no curso. Cara a faculdade. Quase tudo que minha mãe professora ganhava ia para os cofres da Pontifícia. Lembrava do conselho não ouvido por mim que meu pai me dera: esquece um pouco esse negócio de faculdade. Seu curso ê de peso. Usava muito essa expressão "de peso".
Esse curso na Escola Técnica é bom. Você entra no mercado de trabalho e mais tarde pensa nisso. Passei no vestibular nessa quarta opção. Entre as federais, nesta ordem, Fundão, Uff e Uerj, entrei na quarta opção. Uerj requereu mais de 6.000 pontos. Cesgranrio era a Central de vestibulares. PUC queria elitizar-se, era sua vanguarda, saindo do vestibular unificado, no ano em que entrei.
Daí mergulhar aquela fornada do unificado nas disciplinas zero. Eu chegara aos 5.000 e tantos pontos, quase 6.000. Mas a reclassificação da Uerj chamou por volta dos 6.100. Era muito para mim. Ainda tentei um vestibular a mais, quando estudava na Gávea. De novo não deu 6.000. Meu pai, promovido como funcionário público do IBGE, de médio para nível graduado no curso de Direito, que ele fizera no ISEB, diga-se de passagem fechado pela ditadura (que não houve).
Então a professora de 1a a 4a série supria a dívida mensal. Isso me dilacerava, pois repeti as matérias zero em 1978. Foi nesse ano que ingressei no Seminário. Ainda escrevi no formulário de matrícula. Querem saber do interesse do aluno. Sempre disse a mim mesmo e a tantos outros o que escrevi lá: meu interesse pelo Seminário é teológico. Sou professor da Escola Dominical na igreja, de vez em quando eu prego, hora e outra converso muito sobre Bíblia. Então o Seminário é puro aperfeiçoamento. É diletante. Mesmo porque meu curso é dia todo, manhã e tarde, com marmita de alumínio no almoço, para economizar.
Daí eu utilizar o tempo da noite, então, para o Seminário. Era só sair muito perto das 18 h, pegar o 176, Central-Gávea, rumar para o Centro do Rio. Saltar no Largo da Carioca, pagar um hambúrguer, sanduíche mais barato no Bob's e indo pela rua a pé degustando, até chegar na Alexandre Mackenzie 60, no anexo da Igreja Fluminense. Estava escrito lá que era diletante.
Uma espécie de compensação. Já começava a desconfiar de minhas intenções. A guinada espiritual compensaria a frustração acadêmica? Seriam dois oásis, um no Bosque da PUC e outro no Anexo da Mackenzie 60? Minha autoestima e autoimagem ganhavam seus remendos. As rachaduras eram cobertas com maquiagem. Não era bem feita, mas remediava. E iam, principalmente os gozadores, chamando-me de pastor-engenheiro, um epíteto que doía pelos dois lados, nem um, nem outro, lá dentro uma voz gritava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário