sábado, 27 de abril de 2019

Momento zero - 0

Ih!

      Aqui,  após a exclamação, faltou aquele emoji de olhinhos arregalados. É muito legal conversar com ateus. Uso o termo, aqui, sem generalizações, mágoas ou, muito menos, depreciações. 

      Temos o direito, levadas em conta as nossas limitações e obviedades, de crer/descrer sem que precisemos nos considerar mutuamente excludentes. Ao contrário, somos complementares e, está provado, ambos temos espaço no espaço/tempo kantiano. 

      Sem que, para isso, nenhum dos dois avalie ser "dono da verdade". Mesmo porque, quando um dos dois reclama de falta de prova, ora, nenhum dos dois as tem: seja o crente ou o descrente. O que os coloca em idêntico pé de igualdade. 

       Não me venha dizer, portanto, como já explanado acima, que vá aparecer o tal dono da verdade, seja a "verdade revelada" (o crente) ou "verdade científica" (o descrente). Fiquemos assim, no acordo: nenhum dos dois tem prova definitiva. 

      E ainda, por hipótese, supondo ser o ateu em questão humilde, sim, porque pode parecer que não, mas existem ateus humildes e que seja o crente inteligente sim porque, assim como, existem crentes inteligentes, chegamos a um consenso. 

     Por isso será muito interessante quando, outra hipótese, todos os homens tiverem sido despertados do sono da morte, reconstruídas Deus sabe como, literalmente, as substâncias que os compõem, ateus derem de cara com o Criador.

       Vão arregalar olhinhos de emoji, para dizer: "Ih!". Daí, minha intenção, mais humilde do que inteligente crente expor, em seguida, 5 (cinco) textos que representam flashes do que vou denominar "momento zero".

      Exatamente o momento imediatamente antes do big-bang, que é quando, a partir de então, explorando aqui conjunções do português, por outras conjunções, ocorreu a Grande Explosão por meio da qual a ciência diz que começou tudo o que aí está. 

     Ora, para que ocorra uma explosão, é necessário haver o que exploda. Que se exploda, diz o vulgo. Mas fique claro, não é vulgo, mas sim, científico: que se exploda foi o momento 1. O momento zero foi antes, quando  o acaso (ou Acaso) organizou a pré-explosão.

     Portanto, pedindo permissão aos filósofos gregos, citaremos um (anônimo) oriental, que alguns afirmam ser Moisés, que seria o autor do Pentateuco, assim chamados os 5 primeiros livros da Bíblia. Com permissão. Supondo, terceira hipótese deste texto, haja vida inteligente (também) no Lívro. 

      Uma cara chamado Julius Wellhausen (1844-1918), biblicista famoso, tentou demonstrar o modo como documentos antigos, de diferentes tradições, deram origem ao que hoje aparece organizado, atribuído a Moisés e denominado "Pentateuco".

      Ele define 4 traços de documentos, sucessivamente organizados por habilidosos redatores, estão na gênese, para já usar a palavra, dos cinco primeiros livros da Bíblia. São eles J, tradição "javista", da palavra Javé, Senhor; E, tradição eloísta, da palavra hebraica "Elohim, Deus; P, tradição sacerdotal, da palavra "priest", sacerdote; e D, tradição deuteronomista, de Deuteronômio.

      Pois vamos nos basear, para os próximos cinco textos, no três primeiros versículos da Bíblia,  Gênesis 1,1-3 que, por ironia são, um acréscimo de P, a título de introdução, às duas "histórias da criação" das tradições E e J. Pois segue a introdução assim planejada:

b'reshit barah elohim et hashamayim v'et ha'arets: v'ha'aretz hitah tohu vabohu v'hosheq 'al-p'nei tihom v'ruah elohim mirahephet 'al-p'nei hamayim: vayomer elohim ihi 'or vayihi-'or:

       Havendo paciência, você leu no hebraico, transliterada a língua original do texto. Os dois pontos, no hebraico, são como o nosso ponto final. Evidentemente, somos gatos escaldados em filosofia grega. Ora, ora, ora, quão difícil é manter-se humilde quanto mais se avança nessa ocidental direção. 

     Mas haveremos de convir que essa não foi a mais antiga civilização sendo, talvez e sem sombra de dúvida, a que mais absorveu, processou a expressou, magistralmente, seu conhecimento, costumado  ser aceito como os esteios de todo o caudal da civilização (pós)moderna, assim classificada. 

      Ora, terá sido a filosofia a mãe da ciência. E a literatura do Gênesis, acima, na esteira dessa classificação, denominada mito. Pois os cinco textos que ora seguem este zero, denominados 1, 2, 3, 4 e 5, serão escritos como uma reportagem de, por que não, Moisés para quem, tal qual um descrente, Wellhausen nega a autoria do Pentateuco.

    Não em absoluto mas, se formos complacentes, pois há os que até neguem Moisés como personagem histórico, ora, fazem assim até outros com relação ao próprio Cristo,  mas nós,  complacentes, colocaremos Moisés com o repórter desse "momento zero". Que se exploda (o cosmo e qualquer crítica):

      MESMO AINDA QUE NÃO PRESENTE:   
     MOISÉS DESCREVE 'MOMENTO ZERO'.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Artigos soltos 44

Ora, Deus (2)

    Já disse aqui, neste espaço, que sou repetitivo. Quanto às ideias e quanto à escolha do assunto. Neste caso, de novo, Deus.  O assunto aqui é,  de novo,  Deus. Isso mesmo.  Repetitivo. 

    Mais especialmente sobre não Deus. Diz-se ser Deus uma criação do homem. E não o contrário, como diz a Bíblia. Aliás, usam como prova exatamente a Bíblia. Como assim? Como, se o Livro é a principal testemunha da existência de Deus?

     Não. Ao contrário. Nas páginas do Livro, máxima incoerência, aparecem as contradições sobre Deus, definitivas provas de sua não existência. O que dizer, por exemplo, sobre o perverso Deus genocida do Antigo Testamento? Que, supondo não tenha, ainda que não mandado chacinar, protegia como seu um povo que assumia tal prática. 

     Moisés, principal líder na história desse povo, também um genocida, à imagem e semelhança de Deus. Deve haver, mesmo, algum erro no Lívro, ironicamente, aqui, referindo-se à concepção de Deus. Porque inventou um Deus perverso. 

    Definitivamente, o Livro mostra um Deus à imagem e semelhança do ser humano. Isso mesmo. A Bíblia diz que Deus é a sua cara, o mesmo que dizer que você é a cara de Deus. E genocida,  no caso, não é Deus.  Somos nós. 

     Ora, porque genocídios existem. Deus pode até não existir. Mas genocídios, temos certeza de que existem. Então não me venha dizendo que Deus é responsável por eles. Para com essa mania de atribuir a Deus a sua maldade. 

    Sim, porque, numa altura dessas, neste texto,  é claro que você dirá o que, recorrentemente, todos dizem: não sou mal. Mal é o outro. Como se diz que o filósofo disse, o outro é meu inferno. Minha bondade não é absoluta, por causa da maldade alheia. Toda a bondade tem um limite. 

     A maldade,  não: esta tem livre acesso e livre curso. Muito embora a Bíblia diga não pagar o mal pelo mal, mas sim manda pagar o mal pelo bem. Repetitivo. O melhor remédio contra a maldade humana é a própria maldade. Quanto maior, melhor.  O nome disso é vingança. 

     Pode chamar de tortura também. Seria, vamos dizer assim, uma "tortura do bem". A tortura justiceira. A tortura do bom. Os bons, por vingança,  podem e devem torturar o mal. Quer dizer, torturar aquele(a) que é mau(má). Não é a Bíblia que diz isso. É a humanidade. 

     E Deus não existe. Talvez, se existir, seja melhor, para que ponhamos nEle a culpa pela maldade. Definitivamente, o mundo está dividido entre maus e bons. Talvez, de novo, possamos incluir mais dois grupos: os mais ou menos maus e os mais ou menos bons. 

    Porque, talvez, repetitivo, os maus sejam mais sinceros. Não são falsos humildes. Sejam os que dizem,  sou mal mesmo, e daí? Enquanto que os bons, sejam hipócritas ou falsos humildes, por assumir, cinicamente,  sua bondade. 

     Para dizer, resumidamente, que o Livro começou mal sua história. Dizendo que Caim, o mal, matou Abel, o bom. Deveria contar a história de como, por pura legítima defesa, Abel tivesse matado Caim. A única maneira de conter Caim seria essa.

     Será que Caim representa os genocidas? A marca de Caim. Já sabemos qual é. Estou mais para Abel, do que para Caim, é claro. Mas vou providenciar minha arma para que, eventualmente, se Caim aparecer seja eu que o mate. 

    Seguro morreu de velho. Eu sou do grupo mais ou menos bom. Mas tenho certeza de que maldade e genocídio não são invenção de Deus. É prática humana. Bem humana. Deveras humana. Ora, Deus mal existe.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Amigos

 Meu amigo Henrique

     As pessoas, alhures (desculpem, adoro (modo de dizer) esta palavra), dizem que ê difícil granjear amigos. Que, na vida, uns dois ou três, no máximo. Mas eu acho até que tenho mais. Milagre. Ele que me acolhe em sua casa, neste pós-operatorio, por uma semana.

   Mas o que me interessa aqui é escrever sobre este. Era 1973. Estranheza total, eu com 17 anos recém-completados, num ambiente totalmente diverso do antigo ginasial, ora, ao qual eu já me adaptava com dificuldade.

    Muito tímido eu era. Velho, já, acho que superei. Também, professor e pastor tímido, torna-se inviável. Atravessava a sala naquele passo gigante,  bem, como ele mesmo já assume, num passo de marmota o Hélio Henrique.

    Era, e ainda é um cara gigante. Ia e vinha, sempre circunspecto. Pela envergadura, tornava-se notável  Certa hora, num daqueles dias, eu o vi conversando com um dos veteranos da eletrônica, ora, éramos da eletrotécnica. Era o Sérgio Cabral, que eu conhecia da Igreja Fluminense.

      I've got a friend. Porque fui perguntar como ele conhecia aquele amigo. Hélio disse que eram da mesma igreja. Eu estranhei, porque julgava conhecer todos daquela igreja. Mas não ele. Passou despercebido. E contou sua história, de como optou por aquele grupo. Aliás, preciso ouvir de novo.

    Surgia uma amizade duradoura, com um hiato apenas entre 1980 e 1993. Ele ganhou rumo em direção à vida profissional e eu, embaralhado até definir a minha que, mais tarde, foi de professor de português e pastor, em muito distante do curso de eletrotécnica, onde estivemos juntos, de 1973-1976.

      Casei-me em 1993 e fui procurar o Hélio para que comparecesse. Visitei d. Neide, sua mãe, em Vila Isabel, revendo sua amiga e vizinha Leilah, e ela me deu o telefone dele na Tijuca. Já estava casado com Cida. Daí, ele compareceu ao casamento e reiniciamos contato que, mesmo com a minha ida para o Acre, não mais se interrompeu.

      Duas vezes nos vimos na Tijuca, outras duas ou três na primeira casa em Guapi, eu sempre com minha família e, durante as vezes que vim sozinho ao Rio, sem deixar de vê-lo acompanhamos, desde os tempos da Tijuca, os planos de adoção de Esther, filha do casal.

      Hélio marcou minha vida de modo bem característico. O fato, como já disse, de ser inseguro na transição escola pública para Escola Técnica, antigo ginasial para curso técnico proporcionou, pela opção de amizade com ele, um forte referencial.

     E uma coisa muito interessante que ele não sabe, a seriedade com que, na época, assumia a sua fé, contribuiu para reforçar a minha. E olha que eu sempre fui catita (camundongo) de igreja, filho de pastor desde nascido. Mas a postura dele influenciou e atualizou a minha.

    Muito interessante que um ateu hoje, como ele se classifica, tenha socorrido um hoje pastor, no passado comum dos dois, na mesma condição de crentes. Essa marca é notável e bem caracteriza o Henrique. Assim o chamavam todos a sua volta, na época, sendo eu o único a chamar de Hélio.

     Continua a apresentar características dessa postura que me influenciou no meado da década de 70. Com ele também aprendi a apreciar o rock, passando a colecionar revistas e conhecer a identidade de bandas daquela época, para as quais eu me alienava. Juntos com seu irmão, colegas do bairro e jovens da igreja acampamos, por três vezes, na Ilha Grande.

     Percorremos a extinta, mais uma estupidez recorrente neste país, estrada de ferro que conduzia à Mangaratiba, naquela época atravessando a baía de Angra pela lancha que levava presidiários à Ilha, quando ainda funcionava o presídio no lado oposto ao Abraão, onde aportávamos. Foram oportunidades sensacionais de lazer, aventura, conversa, coisa muito gratificante, como alento, fantasia e companheirismo típicos dessa geração anos 70.

        Hoje somos 60entões. Perdura no Hélio, a meu ver, sua característica principal que é agir por princípios éticos muito seguros e bem definidos. Uma pessoal leal e confiável, o que não é muito comum reconhecer, hoje, em muitas pessoas. Evidentemente, alguns padrões de comportamento, que ele passou a cultivar na época em que nos conhecemos, ligados à postura puritana do protestantismo, ele abandonou. Mas o essencial definidor de sua personalidade sobrevive constante em meu amigo.

      É claro que, nesse detalhe, há diferenças entre nós, porque continuei cultivando esses padrões. Não que sejam absolutos ou que, por si só, definam e identifiquem fé. Não. A fé não se define por comportamento, mas opção consciente interna e abertura para a ação de Deus naquele que crê. E é isso que marca o caráter. Hélio, sem saber ou admitir, demonstra fé.

      A fé que tens, tenha para contigo mesmo, diz a Bíblia, querendo dizer ser ela muito individual e pessoal. Decide-se, diante de Deus, o de que ele se agrada, numa relação direta de troca. Isso serve para qualquer um. Tiago, na Biblia, fala da lei da liberdade, que não significa fazer o que se quer, mas o que agrada a Deus. E, para isso, e por isso é necessária a abertura para a ação de Deus no que crê. Trata-se de uma troca.

      Mas Hélio continua a ser um referencial para mim. E reconheço que sua fase na Igreja foi valorosa para ajudá-lo a firmar seus princípios. E ainda que afirme que não crê em Deus, eu disse a ele, como costumeiramente se diz, Deus crê nele.

      E ainda que tenha anotado, na Igreja de sua época, como ele mesmo denuncia, posturas de crentes que o marcaram negativamente, ora, mas isso não é novidade e nem exclusivo de uma só igreja ou época, mas próprio do ser humano.  Certamente, ele está consciente de que não pode destacar o erro alheio como determinante para que ele justifique os seus, em sua própria vida. Isso também serve para qualquer um. Ou que prefira, em função disso, o prejuízo maior de ter saído ou estar fora da igreja. Ora, que tenha a igreja dentro dele.

      Mas o dilema dele deve ser mesmo o cara a cara com Deus. Para estar ou não estar de volta ao grupo original dos anos 70, assumindo os próprios erros e compreendendo o dilema deles, seja na própria vida pessoal ou na dos outros, é necessário o cara a cara com Deus. Talvez isso ainda falte na vida do meu amigo. Da parte dele. Não da parte de Deus.

      Concluindo, quero que seja amizade para toda a vida. Perturbá-lo ainda muito com os cacoetes que trago comigo e ele ainda critica. Como o vício, como agora, estar digitando esta crônica no smart. Está bem, Hélio, consciente e inconscientemente, ainda pauto muito de minhas atitudes por tua influência.

     O nome disso é amizade.

domingo, 21 de abril de 2019

A lei da oração


Inércia 

      É uma lei da física. Quando olho o retrato, como se dizia na época deles, desse casal eu me lembro desse princípio da dinâmica, contexto da 1a lei de Newton.

   Meu movimento nesta vida está diretamente relacionado às orações desse casal. Venho até aqui pela inércia nessas orações. Nossa família, meu filho, pode ser definida por qualquer um dos quatro membros.

     Hoje quero definir a partir de você. Sobre quem também atua esse somatório de forças das orações de Cid e Dorcas. Meu casamento, causa e princípio determinante de sua existência, é resultado dessas orações. 

    Atuam sobre nós, até hoje, essas forças. O assunto aqui não é só casamento. Mas ele é determinante. Na vida, nada é mais determinante e vital do que a fé. Mas profissão e casamento delineiam toda a existência. 

     Você já possui um esboço de profissão. E experimenta um desenho, um plano, um rascunho de plano para o casamento. Chico diz que Deus é um "cara gozador, adora brincadeira". Pois você sabe que nos deu uma mulher extraordinária. 

     Nossa Regina, minha esposa, tua mãe, sobre quem atuam também os vetores desse movimento de inércia, é uma mulher virtuosa. Qualquer mulher pode ser virtuosa. Deus as estabeleceu assim para Adão. Hoje em dia elas buscam uma autonomia que não as realiza.

     Entender isso é vital. Se elas buscam o casamento, precisam entender que vão entrar numa relação de amor e submissão. Amor, de minha parte; submissão, por parte dela. E a figura que a Bíblia associa a casamento é igreja com Cristo, o noivo e sua noiva. 

     Quem não experimentar esse jogo de forças, como costumo dizer, de amor e submissão, não casa. Pode estar junto, pode ter certidão, mas não haverá casamento. Você nasceu num lar sob inércia de orações, onde há casamento.   

      Você vivencia meu amor por sua mãe. E a submissão ativa dela. Como ela, com sua maestria, Regina é arte, preenche nossas vidas. Veja bem você que namora. Jesus não ama menos a igreja do que ama a não-igreja. Ama todos igual. Mas a igreja lhe é submissa. 

      Nunca ame uma mulher, quem quer que seja, que não se disponha a ser submissa. Não haverá casamento. E seu amor terá de ser por uma não-esposa, como o amor de Cristo por uma não-igreja. Mas a relação no casamento não é essa absurda de dar-se, com diz aos Efésios, por uma não-esposa. 

       Só uma mulher convertida, como sua mãe,  e não somente convertida, mas treinada, pode ser como Regina. Outro retrato, além de Cid e Dorcas, Heraldo e Lourdes, poderia aparecer acima. Todos os quatro com suas virtudes e defeitos, mas submetidos à lei da inércia. 

     Definida por você, meu amado filho, essa família segue em seu MUV: movimento uniformemente variado. Mas sob lei da inércia.  Isaac, resultado de oração. Ana Luísa, resultado de oração.  Regina e Cid Mauro, respostas de oração. 

     Porque  a Bíblia diz que, um dia, Deus será tudo e em todos, sua mãe vai procurar o Altíssimo e perguntar: está bem, Deus, mas precisava ser com o Cid Mauro? Deus vai sorrir (sim, porque Deus também sorri - e sofre, e chora,  essas coisas humanas) e dizer:

     Está bem, Regina: mas não seria esse Isaac e nem essa Ana Luísa. Ela olharia o Altíssimo nos olhos, para dizer um "então, está bem". Definida por você, meu filho, essa família mostra os efeitos da oração. A sua vida tem os contornos, perfis e resultados de orações. 

      Continue e guar-se por elas. Eu, torto como nasci, se minha vida ganhou um rumo de bênçãos, Deus nos guiando, por amor do Seu nome, foi por causa de orações. E, de um tempo para cá, além das orações de sua mãe, as de vocês dois: primeiro você  e depois sua irmã. 

     É a lei da inércia. Parado ou em movimento, sob efeito das orações. Sua cara e perfil, meu amado filho, personalidade e caráter têm sido modelados pela oração. Nós te amamos, nosso filho, porque Jesus nos amou primeiro. Deus, ajuda--nos a seguir sob essa lei, sob esse principio, regidos por oração .

sábado, 20 de abril de 2019

Jonas - 3

     No navio

     Jonas internou-se no porão. Porão de sua existência. Arriscou tudo nesse palpite. Ocorre uma borrasca no mar. O texto bíblico afirma que Deus provocou. 

     Precisamos falar sobre isto. Sou dos que acreditam que Deus não é uma inflexão dos teólogos. Religião pode ser um objeto de estudo científico. E teologia é uma ciência. Mas, para mim, ela deve partir da ação de Deus na história e não das suposições a respeito de Deus. 

     Quais as indicações da ação de Deus? A palavra de Deus é a principal indicação. Eu acredito na Bíblia como livro em que, como diz Pedro em sua carta, "homens falam da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo".

      Uma vez que interditamos a Bíblia ou loteamos as partes que merecem credibilidade, manipulamos o que ela diz sobre Deus. Evidente que devemos focar o texto em seu tempo. Portanto, argumentação paulina, por exemplo, estruturada no modelo de raciocínio filosófico, terá abordagem diversa da narrativa vetero-testamentária de Jonas.

      Quero dizer que acredito no argumento do texto que diz ser a tempestade ação de Deus, assim como a consequência dela, implicando a projeção de Jonas ao mar e o peixe deparado como livramento. Por que creio assim? Porque Deus. Não quero dizer que todos os absurdos podem der postos na conta corrente dele, como desfalques. Mas, sim, que ele é todo-poderoso. 

      Era Jonas e Deus. A tentativa de fuga. Mergulhou ao porão para dormir. Todas as superstições reunidas davam em Jonas. Procuraram e o acharam no seu porão, por reconhecê-lo o único indiferente a tudo a sua volta. Um dos sintomas da depressão do profeta. 

     Todas as religiões representadas invocavam seus deuses. Era um esforço ecumênico na tentativa de, por modo sobrenatural, quem sabe, último recurso, estancar a tempestade no mar. Jonas continuava alienado. Até que decidiram, para eles, um recurso mais isento e definitivo: sorteio. 

     Deu em Jonas. Era o azar do profeta. Em todo caso, interpelaram-no: por que todos, tendo cada um seu deus, invocam-no, exceto você? Como pode? Parecia, nesse gesto, que Jonas antecipava a observação de Jeremias séculos depois: vejo as nações mais apegadas a seus deuses, posto que não o sejam, do que Judá, no caso futuro de Jeremias, com Jonas, no caso atual, indiferente ao seu Deus. 

       Foram acordá-lo no porão. Jonas confessou sua fuga em relação ao seu Deus. Por serem mesmo supersticiosos, é que se chocaram com a sinceridade do profeta. E com a solução. Por seus escrúpulos, recusaram atender à sugestão do profeta: jogá-lo ao mar. 

     Mas a circunstância se impôs. Ou seja, Deus ganhou no cabo de guerra. Jonas deu-se por derrotado. Não podia, continuamente, fugir de Deus. Pensou que na morte poderia. Deus, em seus próprios desígnios, não se deixa surpreender. Jonas teve a covardia do salto ao mar. Deus tinha um peixe que engolisse o profeta. 

       O nome disso é milagre. Não dá para conceber um Deus sem eles. E também não dá para conceber um Deus que não escolha, por si, que milagres fazer. E não dá para conceber um Deus que não sai ao encalço, mesmo que fujamos dele, para nos abençoar.


     Iguais

     "...somos todos iguais, braços dados ou não".

     Há certas lições que precisam ser repetidas. Porque precisam ser postas em prática. E se dizemos que já aprendemos é, no mínimo, temerário. Porque são contínuas e de aprendizado constante. 

     Não me venham dizer que entender que somos iguais é fácil. Não acredito em quem diz que pratica isso todos os dias e com facilidade. É inerente ao ser humano confundir diversidade com igualdade. 

     Somos, sim, diversos. Mas somos, também, iguais. Não posso reduzir o outro a mim mesmo. Se não me ponho no ponto de vista dele, não há nem esboço de identidade. Deus se fez homem, diz a Bíblia. 

     Mas não me interessa, aqui, na economia deste texto, se você aceita ou não,  acredita ou não na história que a Bíblia conta. Eu acredito. Eu sou, sim, cristão. Mas não interessa aqui religião também. 

    Porque ser igual não depende de ter religião. Não depende de acreditar ou não acreditar na Bíblia. Depende de entender e praticar. Qualquer atitude diversa desta é tirania contra o outro. É violência e não vida. É incoerência com a condição humana. 

     Eu não gosto de "bandeiras". Levantar "bandeiras". Isso me cheira a ideologia. E ideologia vem junto com demagogia misturado a hipocrisia. Então,  ser igual,  viver a igualdade ou ser igualitário, sei lá, não deve ser uma "bandeira".

     Não deve ser uma pregação. Precisa ser prática. Difícil. Não me venha, de novo, por favor, apontar um "partido" político que faz isso. Política é absolutamente necessária. Mas também vem misturada à ideologia, demagogia e à hipocrisia. 

     Vamos falar aqui de igualdade no sentido filosófico, se quiser, no sentido da reflexão que isso provoca, no sentido bem chão. Sentar no chão,  por exemplo, aproxima-se muito de ser igual. Vou voltar à Bíblia e a Jesus. Porque acho que ele praticou isso. Foi exemplo disso.

     Sejamos exemplo disso. Jesus foi reformista da religião judaísmo e foi morto por religiosos que não aceitavam que fosse tão radical em ser igual. E já dissemos aqui: você crendo ou não, o Livro diz que Deus junto misturado se fez igual. 

     Lavou os pés. Sem demagogia. Sem hipocrisia. No esforço de dizer e de querer praticar o ser igual. Deus quis ser um. Junto misturado. Não me interessa qual a sua religião. Tomara até você seja ateu. Porque, para crer errado, é melhor ser ateu do que qualquer religioso. 

     Mas para ser gente,  a única saída é praticar ser um. Se isto não te interessa, até Jesus te lava os pés.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Jonas - 2

      Na fuga cobre-se um percurso constituído por etapas. Para a fé, só existe uma única via, crer. Para a fuga, há múltiplas opções. 

     Jonas decidiu ir para Tarsis, para longe da face de Deus. Como se fosse isso possível.  Desceu ao porto. Procurou um navio. Achou. Pagou o preço da passagem. Entrou para dentro dele. 

      Na primeira etapa Jonas teve uma alucinação. Enganou-se a si mesmo, como que cegando a si próprio. Desviou da face de Deus seu olhar, para enxergar a fantasia da fuga. Divisou Tarsis diante dos olhos.

     A partir dessa racionalização, sim, porque quem foge racionaliza. Os que não creem, dizem ser absurda a fé, porque sua não fé é estrita e absolutamente racional. Pobre ciência. Nunca teve tantos adeptos de sua suposta doutrina.

      As escolhas da não fé, para longe da presença de Deus, são pensadas passo a passo. Jonas procurou, achou, pagou o preço e entrou para dentro. O texto bíblico, como num refrão, repete Tarsis, Tarsis, Tarsis, para longe, para longe da face do Senhor.

      O primeiro casal mencionado na Bíblia não achou ridículo tentar esconder-se de Deus por entre as árvores do jardim. Quanta criancice! Jonas racionalizou cada etapa, de modo calculado e reflexivo. 

     Poderia ter procurado, porém cair em si, desistindo. Uma vez tendo achado, divisando os contornos do navio, uma vez identificado, renunciar a essa visão. E mesmo tendo pago o preço, assim mesmo, assumir o prejuízo e descer. E voltar. 

     Cada etapa da loucura se sobrepõe uma a outra, como se contasse maior peso e, de modo conjunto, cooperassem para a finalidade última, que é manter a fuga e a ilusão de que é possível esconder-se de Deus. Nem na morte, meus caros.

      Quem foge não mais pode pensar. Precisa iludir-se. Ocupar a mente. Racionalizar. Porque está em fuga. Espantoso como é possível cumprir etapas concretas e compostas por atitudes conscientes de fuga. 

      Jonas julgou com isso que, além de poder se esconder, poderia ter paz. A violência da fuga começa, contra quem começa a ser dominado por essa ideia, já a partir do voltar as costas ao cara a cara com Deus. 

      Paulo Apóstolo escreveu que vemos, como por um espelho, por um retrovisor, a glória de Deus, o que nos abre o horizonte de crescer de glória em glória, no modelo de comunhão que o Filho Jesus teve com o Pai.

      Quando Felipe Apóstolo pediu a Jesus, próximo da morte deste, "mostra-nos o Pai e isso nos basta", Jesus respondeu: "Quem me vê a mim, vê o Pai. Como dizes tu 'mostra-nos o Pai'?". Jesus é o rosto de Deus.  Jesus é a expressão exata de Deus. Em Jesus habita corporalmente toda a plenitude da divindade. 

     Como dizes tu 'mostra-nos o Pai?'.
יוֹנָה֙ לִבְרֹ֣חַ תַּרְשִׁ֔ישָׁה מִלִּפְנֵ֖י יְהוָ֑ה וַיֵּ֙רֶד יָפ֜וֹ וַיִּמְצָ֥א אָנִיָּ֣ה׀ בָּאָ֣ה תַרְשִׁ֗ישׁ וַיִּתֵּ֙ן שְׂכָרָ֜הּ וַיֵּ֤רֶד בָּהּ֙ לָב֤וֹא עִמָּהֶם֙ תַּרְשִׁ֔ישָׁה מִלִּפְנֵ֖י יְהוָֽה

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Isaac, meu filho.

     Nascido, de certo modo, surpreendentemente, porque o médico havia garantido a mim que precisaria fazer tratamento para que a mãe  engravidasse. 

     Foi agradável surpresa. Havia chegado, exatamente, da viagem ao Acre, em agosto de 1993 quando, logo pelo mês seguinte, o que a mãe pensava ser uma gastrite, ora, acho que já era gastura.

     Junto com essa certeza, outra se avizinhava, que era a confirmação da vinda para o Acre. Chegamos até marcar para julho de 1994, porém a chegada do Isaac em 21 de abril empurrou a data para começo de 1995.

     Garoto chorão e comilão, assisti ao parto, não deixava a moçada do berçário relaxar. Ainda bem que eram poucos. Logo se manifestou um ritmo de aleitamento alucinante. 

     Eu e a mãe tínhamos que treinar estratégias para ele não ficar só na mamadeira. De tanto tirar, botar, tirar, botar no berço, nas madrugadas, para as refeições, eu andava pelas ruas feito bêbado de tanto sono.

     Antecipamos a comemoração do primeiro aninho, visto que o 21 de abril de 1995 seria completado no Acre. Mas fizemos uma festinha na casa da Floresta e Pr Nelson Rosa pregou.

     Outros aniversários comemoramos ainda na Igreja do Tancredo. E um deles, como um coleguinha, na Congregação do Novo Horizonte, ali por perto. Assim como outros, já na escola.

     Aliás, muito cedo foi para a lá. Chegou mesmo aescola pular uma segunda metade do maternal. Em classe, fazia as tarefas dos coleguinhas, para sobrar tempo para que brincassem. E desde cedo revelou aptidão para a teologia. 

     Certa vez, quando perguntei porque custou a dormir, respondeu: "Estava brincando com Deus". Realmente, muita intimidade. Gostava de passear no carro, não me deixava furar os sinais e, de preferência, apreciava buscar a avó no "Aramporto".

      Conviveu pouco tempo com os avós, por morarmos assim tão longe da família, mas memorizava as histórias que ouvia. Como a que o vô Cid contou, ainda na Floresta, em setembro de 1995: "Zaqueu, desce depressa", que funcionava como uma senha que lhe lembrava o avô. 

     Cânticos de igreja. Um dos que mais gostava era o que dizia: "O véu que separava, já não separa mais. A luz outrora, apagada, agora brilha e cada dia brilha mais". Na fase das botinhas, era perigoso, quer dizer,  mais ou menos perigoso. Havia momentos em que a luz apagava.

      "Como foi na escola hoje, meu filho?", eu perguntava. Ele, sempre muito ativo, como se não houvesse dado atenção, respondeu: "Chutei a 'quiança' (traduzido, quer dizer "criança"), Pai". Lá fui no dia seguinte atrás da 'quiança' chutada. Tudo resolvido. Desculpas acertadas. 

      Deus muito abençoou quando, na fase final das botinhas, os médicos descobriram Legg-Calvé-Perthes ou Legg-Perthes, que é uma má formação na cabeça do fêmur. Não é doença frequente, mas também não é de simples cura e tratamento. Pois Deus curou Isaac. 

       Mas uma fase viveu como  criança que não deveria correr, pular ou jogar bola. E nem gritar, porque também tinha uns calinhos nas cordas vocais. Só isso: essa criança só não pode correr, pular e gritar. O resto pode.

       Agradecemos a Deus sua vida. Aos cinco anos, contou com a chegada da irmã. Tentamos preparar o menino, para que não houvesse ciúmes. Acho que conseguimos. Sempre se manifestou muito amigo dela. E foi um bom professor, ajudando nas primeiras letras.

       A irmã trocava /d/ por /n/, mas o /r/ aprendeu logo. Ana chamava 'Nulci' a babá Dulci e Isaac 'Lalissa', a colega Larissa. Maiores detalhes, tirem as dúvidas ao vivo. 

      Deus muito nos tem abençoado. Louvamos Seu nome pela vida dos dois. Deus lhes fortaleça, principalmente ao Isaac, hoje em foco. Deus ilumine o seu caminho, meu jovem filho. Oramos intensamente por você.

Jonas - 1

Para fugir, Jonas se dispôs

      Ninguém pode repudiar Jonas. Se existe Deus, é para a covardia do homem. Para que fique comprovada sua incapacidade de encará-lo cara a cara.

      Numa das orações mais populares da Biblia está escrito que Deus, sobre nós, levanta seu rosto. Trata-se, já usamos aqui antes esse argumento, radicalizar-se com relação ao Livro.

      Ou é total burla ou se atreve ao extremo quando fala de Deus. E, a princípio, ora, fala-se de Deus o que se quiser. Mas a profecia confirmará se é verdadeiro. E aqui é verdadeiro dizer que Deus mostra a sua cara.

      Levantar o rosto sobre nós é mostrar a cara. Poucos têm essa coragem. Aliás, o ser humano, principalmente o homem, o macho é covarde: não mostra a sua cara.

      Vou repetir: você é covarde. Eu sou covarde. Não mostramos nossa cara. Por isso, Jonas fugiu. Quis, pensou poder se esconder de Deus. Mas a cara de Deus está aí, a cara de Deus está fora, não há como fugir de sua presença.

      Vamos recorrer ao poeta:
"Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá. Se eu digo: as trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite, até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa." Salmo 139.7-12.

      Jonas decidiu mergulhar dentro de si mesmo.  Embriagou-se em sua própria fantasia para, a custo, tentar. Não conseguiu. A vida de todo profeta, a vida de qualquer profeta, de qualquer ser humano começa com fuga.

      Paulo Apóstolo estabelece, em duas de suas cartas, referenciais para atinar-se com o retorno dessa fuga. Aos Romanos, expressa-se dizendo que os (1) atributos invisíveis de Deus, o seu (2) eterno poder e a sua (3) própria divindade são, claramente, reconhecidos.

       Cheiros, sons, tato, gostos e olhos para a Criação. Se o homem se admite, a si mesmo, cego, mouco, insensível, insosso e sem cheiro é violência contra seus próprios sentidos, sua única maneira de perceber o mundo a sua volta. Anula-se a si mesmo. Coloca-se, aliás, como a si mesmo se vê, para fora da natureza.

      Aos Efésios, de novo o Apóstolo define a condição de quem se força para dentro do seu próprio porão, como Jonas: está (1) sem Cristo, (2) à parte da comunidade da fé, isto é, sem comunhão com os que creem, (3) desconhecendo e propositalmente alheio à Bíblia, (4) desesperado, ou seja, desprovido de qualquer traço de esperança e (5) sem Deus no mundo.

      Somente esta quinta condição seria bastante para a loucura da tentativa frustrada de negar Deus. Impossível estar no mundo e negar Deus. Mas essa é a violência do homem contra si mesmo. Daí a sua desesperada e frustrada tentativa de fuga.

       E para o que Deus chamou Jonas? Para o amor e o perdão do inimigo. Deus é grande até mesmo no modo como desafia. Não chama para menos. Chamou Jonas para ser como Ele mesmo. Chamou-o para duas coisas inseparáveis: perdão e amor. Covarde o ser humano.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Avante um pouco aos 20 anos - 7

       Peleja

      Transcorria na mesma rotina o ano de 1982. Iniciava Letras na UERJ. Poucas matérias à noite, pelo menos num dos dias da semana, para subir a Grajaú-Jacarepaguá e descer em direção à Taquara, para alcançar o Guerenguê.

     Dia de semana, chovesse muito que chovesse, para mencionar o pior dia, chegava eu no RV 2644, Fusca azul céu de meu pai, ano 75, e dava com o seu Manoel Marques embaixo do enorme guarda-chuva, ali, bem pertinho ao portão da Congregação.

     O terreno era ocupado, em sua terça parte, lá ao fundo, de fora a fora, pelo salão do templo e uma cozinha ao lado. Mais ou menos 2 X 5 a cozinha e 8 X 5 o salão. Quando era assim, esse temporalzão de verão, à noite, daí a pouco vinha Emilzair, Rogério pelo braço, coladinho a ela, 0,50 cm de altura, carregando uma das sobrinhas e ela, com o caçula no colo, ocupada com  a outra para se cobriu da chuvarada.

      Entrávamos. Cantávamos. Devocional. Pedidos de oração. Orávamos. Eventualmente ela comentava que éramos só nós três. Não valeria a pena. Não avançaríamos em nenhuma direção. Sorrisão do Manoel Marques nessas horas. Um dos sorrisos mais lindos que jamais conheci.

      Domingo pela manhã, quando era o caso, eu passava na Assembleia de Membros da igreja-mâe, em Cascadura, para dar o relatório dos trabalhos por lá em Curicica. A chegada no final da reunião de Membros era estratégica, formalidade para, de propósito, eu não participar dos demais assuntos.

      Era época de eleição e manobras mais políticas do que evangélicas ameaçavam o bom avanço dos trâmites. Eu não queria me envolver. Mas me envolvi. Por duas vezes fui procurado pelo Preb. Arlindo. Falou-me que as reuniões entre eles, oficiais da igreja,  diáconos e presbíteros assim eleitos, não iam bem.

     Troca de ofensas, quase virando desaforos, houve até bate-bocas. E a proximidade com os muros da vizinhança, fazia-os participar involuntariamente. Era feio. Cascadura era igreja egressa daquela de Piedade. Um grupo homogêneo saiu de lá, em 1952, e se organizou congregação em Madureira. Ora, mas faltava o quê para igreja plena? Um pastor, ora vejam.

      Digo assim, porque o grupo era super coeso, bem articulado e o pastor que os liderasse teria pouco trabalho a fazer. Quase que nem de liderança precisariam. Quero dizer com isso que deveria ser alguém sensível a essa demanda para, ao invés, não ser liderado. Ou despachado (!).

      Mas não foi o que ocorreu. Nelson Bento Quaiotti, primeiro pastor, ficou por 15 anos. Em 1966, quando lá chegamos, eu, mãe e avó, era ele o pastor. Depois, mais 15 anos para Maurílio Neves Moreira, que me batizou em 1968 e, a partir de março de 1983, eu mesmo, pelos 11 anos seguintes mas, à altura da história deste texto, eu ainda não sabia.

       Após a segunda conversa do presbítero comigo, cheguei um dia, a Cascadura, numa manhã de domingo, para dizer que eu, como pastor-auxiliar, dirigiria aquela reunião de oficiais. O Pr Maurílio estava desgastado como liderança, não por si mesmo, mas pelas pressões que sofria. E o quadro de quem o apoiava, desmantelara-se.

     A oposição veio com força, brandiu regras do Estatuto da Igreja, que lhes eram desfavoráveis, retirando sua estabilidade. Eu, que conhecia desde meus 9 anos aquela turma toda, que recém-batizado, com apenas 12 ou 13 anos já dava meus palpites nas reuniões de membros, estava prestes a saber que, sim, em meio àquele tiroteio, fora, sim, vocacionado para aquele tipo de peleja, como dizem nossos irmãos latinos.

Artigos soltos 43

        Uma oração ao Deus da minha vida. Este é um texto sem título. Mas que começa com título de outro texto. E vai falar de duas coisas: oração e vida.

        Certa vez, emparedaram Pedro e os apóstolos. Não queriam ouvi-los pregando em nome de Jesus. Esse apóstolo, então, acusou terem aquelas autoridades judaicas, em conluio com as romanas, matado o Autor da vida. 

      Pedro referiu-se a Jesus como Autor da vida. Tanto é assim que a principal mensagem do evangelho é que Jesus ressuscitou. Matar o Autor da vida foi impossível. O próprio Pedro explicou: a morte não pôde detê-lo.

       Literalmente, a partir do grego de Atos 2,24, está dito sobre Jesus que "Deus o soerguer, visto que, por sob dores de parto, a morte não foi ela capaz de o deter". A metáfora do grego atribui à morte impotência para segurar Jesus consigo do mesmo modo que uma mulher é incapaz de segurar dentro de si o bebê que nasce.

      Jesus irrompeu para a vida, definitivamente "rompendo os grilhões da morte", como está traduzido no português. Basta, para dizer como se cumpriu, em Jesus, a palavra que disse "vim para que tenham vida e vida plena".

      Ou quando também disse, "minha vida ninguém a tira de mim, eu espontaneamente a dou e a reassumo: recebi do Pai este mandado". Jesus irrompeu, atravessou a morte em nosso lugar, definitivamente desmoralizando-a. Mas alguém poderá dizer que visitou cemitério. E foi lá, certas vezes, quando jamais quisera ir.

      Mas morte, para ser morte, precisa perdurar. Em Jesus ela perdeu. E tudo o que conduz à vida Jesus traz consigo. Ele tem e promove a vida plena. Jonas foi um profeta que quis morrer. Fugia de Deus.  Fugia de suas responsabilidades. Não queria nenhuma responsabilidade. 

     E a responsabilidade de Jonas se chamava amor. Ele foi chamado ao amor e ao perdão. Duas coisas, em Deus, que são uma só. Paulo Apóstolo diz numa se suas cartas que devemos perdoar como Deus perdoou. Impossível.  A não ser que estejamos em Deus. 

      Esse mesmo apóstolo diz que "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo". Uma vez ligado a Deus, estamos livres das amarras da morte. Inundou-nos a vida. E com ela, o amor. E com ele, o perdão. Deus ressuscitou-nos em Jesus, rompendo os grilhões da morte, ela não mais nos detém. 

       Por isso somos culto vivo a Deus. Por isso Paulo Apóstolo nos diz que somos sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Nossa vida é um culto a Deus. Cada dia é um culto. Todo dia amanhece um culto ao Deus da vida.

       Mesmo Jonas orou. A partir do seu pesadelo ele orou. E Deus nunca o deixou de ouvir. Uma oração ao Deus da minha vida.


domingo, 14 de abril de 2019

Vamos contar essa história - 2

Dia 16/03 - Visitação à vizinha ao lado com a presença de 08 pessoas. 
Dia 17/03 - Reunião de Oração. Neste dia agradecemos a Deus pela vida do irmão Gercino Carvalho que ampliou o som através do serviço de Alto-falante, sendo possível a transmissão de Músicas Sacras à distância. Tivemos a presença de 15 crianças e 04 adultos. Nos dividimos em 4 grupos de oração e todos eram bem animados e desejosos de orar.
Dia 18/03 - Fizemos visitação em 03 lares. Foi ótimo o trabalho. 
Dia 19/03 - 09H00m tivemos a realização da Escola Dominical com muita chuva, ainda assim contamos com a presença de 11 crianças e 04 adultos. Às 15 horas realizamos uma evangelização no lar da adolescente Claudia, louvando a Deus pelo seu 12o aniversário de existência. Logo após visitamos a jovem Neves e suas filhas Sumaya e Ariane. À noite, não chovia, mas estava muito frio e tivemos no Culto a presença de 13 crianças e 05 adultos. Presbítero Nelson falou aos adultos e adolescentes e Sandra às crianças .
Dia 20/03 - Meditação e ida à cidade. Assuntos a resolver. 
Dia 21/3 - Visitação à jovem Francisca, Emanuela e Elaine - amigas do seminarista Wanderley Fuley. Francisca é professora de datilografia, com quem o mesmo fez um curso de aperfeiçoamento no período que aqui ficou. 
Dia 22/03 - Visitamos à noite a Igreja Adventista do 7o Dia.
Dia 24/03 - Realizamos a reunião de Oração em gratidão a Deus pela Salvação alcançada pelo sacrifício de Jesus na Cruz do Calvário. Houve cânticos de vários hinos do S&H, com a participação do irmão Oswaldo executando-os em sua Harpa. Tivemos 08 adultos e 13 crianças.
Dia 25/03 - Fizemos uma evangelização em frente à Associação dos Moradores da Copavila II, pregando e cantando sobre a Ressureição de Jesus, lá estava também o irmão Oswaldo com a harpa e o Presbítero Nelson pregou e a irmã Santina cantou louvores ao Senhor, havendo também a participação das crianças e o culto transmitido pelo alto-falante.
Dia 26/03 - Realizamos a Escola Dominical com a presença de 11 crianças e 04 adultos. Fizemos uma alusão especial à Páscoa.  À tarde tivemos visitação e no culto à noite tivemos 09 adultos e 06 crianças .
Dia 27 e 28/03 - Visitação nos lares - diversos lares foram alcançados. 
Dia 29/03 - Realizamos o Culto com a presença de 07 crianças e 05 adultos e tivemos a alegria de ver o jovem JOSE MOCHAT COSTA aceitar Jesus Cristo como Salvador, sendo esta a primeira pessoa a ser convertida no trabalho. 
Dia 30/03 - Houve muita preocupação com a saúde do Presbítero Nelson, tendo problemas de hipertensão. Estivemos no médico pela manhã e à tarde visitas.

Artigos soltos 42

        Eu te conhecia só de ouvir falar. Agora meus olhos te veem. Que "ouvir falar" é esse e que "meus olhos te veem"? Jó, no decurso de um tempo, afirmou que teve essas duas experiências de (ou com) Deus.

     A ideia de Deus nos empolga. Imaginamos esse Deus. Enorme, todo-poderoso, Criador de céus e terra, enfim. E aí, a Bíblia diz que ele se fez homem. 

     Ideia muito bonita. Romântica, diríamos. E logo imaginamos, ora, como imaginamos um Deus a nosso serviço. E, novamente, a Bíblia diz que Jesus, o Filho, Deus que se fez homem, "não veio para ser servido, mas servir e dar a sua vida por muitos".

      E o profeta Isaías, no Antigo Testamento, afirma que "Deus trabalha por aquele que nele espera". E do outro lado? Estão os que não creem. Têm como absurda toda essa história. Diante desse absurdo, dou razão a eles: ou fé, ou se crê, duma vez, ou se denuncia como totalmente ridícula toda essa história. 

      Qual a nossa prioridade? Qual a prioridade de Deus se, afinal,  de uma vez, nEle cremos? Descanso. A existência que o homem tem, não a planejou em parceria com Deus. Mesmo assim, Ele pretende caminhar conosco. Mas tem suas prioridades. A primeira, é nos livrar da morte e todas as suas consequências e sequelas.

      Ele faz. Fez-se homem, como homem morreu e ressuscitou. E nós, batizados nessa morte e ressurreição, unidos a Jesus Cristo, somos salvos do essencial. Assim como o sofrimento em nossa vida pressupõe morte, a fé em Jesus antecipa vida. Em Jesus, todas as saídas (e entradas) da vida.

      Conhecer Deus de ouvir falar. Olhos verem. Essa é a diferença entre crer e não crer em Jesus.  Felipe o apóstolo pediu a Jesus "mostra-nos o Pai e isso nos basta". Desejo ler este versículo a partir do que nos basta. O que nos basta?

      O autor de Hebreus diz que vemos aquele que é invisível e, assim, caminhamos por fé. Jesus disse a Tomé, outro apóstolo, "bem-aventurado os que não viram e creram". Decisivamente, ver não está associado a crer, vice-versa. Isso nos incomoda.

      Mas também nos fascina. A fé é fascinante: "certeza do que se espera, convicção do que não se viu". Gozado que, da renascença para cá, que a humanidade denomina "idade da razão", acreditam que somente a ciência traz certeza. Mas ela tem a mesma definição de fé. 

     É certeza do que ainda não descobriu como, por exemplo, cura de várias doenças, detalhes sobre a própria criação, enfim. Assim como reafirmar elos da evolução, que ainda não localizou ou não confirmou que existem, assim como não filmou o big-bang, para confirmar que ocorreu.

       Ciência não contradiz fé e vice-versa. Ambas lidam com objetos diferentes. Ciência dá conta do mundo físico. A fé se projeta para além deste mundo físico. Aponta para o Criador do mundo físico. Ambos, ciência e fé, são dons de Deus. Ele é autor de ambas.

      Mas não é fé na ciência que nos une a Deus. E nem fé na fé. Mas fé em Deus. Tenha fé em Deus.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Avante um pouco aos 20 anos - 6

Pastor, afinal

       Transcorreu em toda a sua previsibilidade a formatura, na Igreja Evangélica Fluminense. Sempre em fins de dezembro. Sorrisão de minha mãe na foto em que entrou comigo. Eu, de um modo, aliviado, final de uma fase muito boa, excelente, por um lado, mas eu meio esquivo, por outro.

         Era 1981. No ano seguinte, em função do convite feito para as aulas de Hebraico, seguindo a coerência, segundo determinei para mim, procedi ao vestibular para Português-Hebraico, UERJ, licenciatura plena. E arrastei comigo o Paulo Leite: bacharéis, para dar aulas no curso de teologia, pelo menos uma graduação era necessário cursar. Assim posto, assim feito.

         E até tirei o primeiro lugar no vestibular para esse curso. Nenhuma vantagem: quem se preparava para dsputar, no vestibular unificado da Cesgranrio, engenharia, em torno de 6.000 pontos, tirar primeiro em Português-Hebraico foi sopa. 15 vagas, com 90% dos candidatos querendo fazer do curso trampolim provável, mas nunca disponível, para outros cursos.

        Nesse meio tempo, certa noite, em Cascadura, na igreja, onde o coral sentava por detrás do culto, avistei dois inseparáveis irmãos e amigos lá da Congregação de Curicica e tremi na base. Vinham buscar a resposta. Qual? Da proposta feita uma semana atrás. 

      Havia sido convidado a pregar na Congregação. Melhor, mais exato, eles haviam me convidado a ser pastor em Curicica. Eu disse que precisava conhecer o trabalho lá. Ora, isso é "pp", procedimento padrão para quem recebe esse tipo de convite, porém sem conhecer a igreja que convida. Curicica era sobejamente conhecida por mim.

       Cascadura enviara para lá cerca de 10 irmãos que, voluntariamente, sensibilizados pelo desafio, resolveram abraçar a causa de um sofrido e penoso trabalho. Tratava-se de um loteamento na Estrada do Guerenguê, um dos diversos caminhos de acesso pelos meandros de Jacarepaguá, a partir da Taquara .

       Acesso por velhos coletivos, 260/261, acabados de velhos, por ruas e estradas de terra, dentro e fora do loteamento, caso chovesse, lama nos pés e respingos já dentro dos ônibus, de janelas quebradas: você puxava para si, desguarnecia o outro passageiro. E se não chovesse, pela mesma fresta de janela entraria a poeirada doida.

      Só muito obstinados assumiriam essa tarefa. Era o caso deles. Tão antiga Congregação, da Rua Aralia 3, fora igreja em tempos (muito) idos. Para se ter uma ideia, há uma pastor de 82 anos, aliás foi o reitor de meu tempo de Seminário, que estagiou lá quando seminarista. Supondo que ele tivesse em torno de uns 20 anos, esse trabalho tem minha idade. 

       Fechou duas vezes. Por problemas distintos, mas ambos do tipo que muito traumatiza os membros. Varias igrejas rejeitaram reabri-lo. Pode-se dizer que, malandramente, empurraram-no a Cascadura. Ela herdou. Eu conheci. Tinha ido diversas vezes. Agora me chamavam a pastorear. E me saí com essa desculpa: tenho de conhecer. 

        Meus amigos entreolharam-se, incrédulos. Não eram bobos. Mas admitiram. Fui, num desses domingos. Preguei e, ao final, perguntaram, enfim, a decisão. Ora, disse eu, tem de orar. Afinal, como pode ser, assim, sem oração? Essa "espiritualizada" na coisa não tinha contra-argumento. 

      Puro despiste. Foi por isso que, no domingo seguinte, sentado no coral, por detrás do púlpito, cara a cara com a congregação em Cascadura, avistei a dupla Gerson e Valdemir entrando pelo portão. Disse comigo, pronto, caramba, esses caras  nem esquecem e nem desgrudam. Sorri amarelo, ao recebê-los lá fora. Nem adiantava perguntar por quê. Mas esperei. Sabe-se lá se a conversa seria outra...

      Não era. Então, o irmão já tem uma resposta para nós? Tinha. Racionalizei em instantes: Curicica, ambiente doméstico, cuido de lá, ora, conheço todos eles, emancipo como igreja e pronto: caio no ostracismo e na obscuridade com essa história de pastor. Esse meu 'sim", estilo Jonas, estilo abismo, estilo fuga. 

      Era 1982. O avô de minha esposa, na época, achou coerente pedir minha oordenação ao ministério. Fui me permitindo. Tal ordenação se deu em 2 de janeiro de 1983. E eu nem sabia que, junto com a tranquilidade da Congregação, em meio à homogeneidade, maturidade e fraternidade tocante daqueles irmãos, uma carga muito maior de responsabilidade desabaria sobre um cara de 25 anos em fuga.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Vamos contar essa história - 1

INÍCIO DO TRABALHO NO CAMPO MISSIONÁRIO EM MATO GROSSO DO SUL - A PARTIR  DO DIA 8 DE MARÇO  DE 1989 - COPAVILA II

Missionária Sandra Roger e Presbítero Nelson Roger saem do Rio no dia 07/03/89, pela  Andorinha, às 16h30m.

Chegam na Copavila II às 13h30m do dia 08 de março de 1989, logo cinco crianças com sorriso carinhoso fazem a recepção. São eles: Paulo Roberto (que faz a entrega da chave da casa); Lilian; Leonidia; Eder e Junior. Ao chegar à casa da Av. Marinha, 1216, entram e imediatamente abrem a Bíblia em 1 Samuel, capítulo 7 e versículo 12, ressaltando a parte "b": "Até aqui nos ajudou o Senhor". Oram ao Senhor agradecendo a excelente viagem realizada e suplicam as bênçãos pelo trabalho que ora se inicia. Houve um acidente na Av. Marinha e a residência estava sem luz e consequentemente sem água. À missionária Sandra aloja as bagagens e volta para a cidade a resolver algumas necessidades urgentes, enquanto o irmão Nelson já procura distrair-se contemplando  o panorama da Copavila II. A noite, então, foi o momento de arrumação, alojamento, jantar e dormir para tentar descansar. 

Na quinta-feira, dia 09/03, faz-se o culto doméstico; prepara-se o almoço e arrumação pela manhã; à tarde começa a visitação para convite aos vizinhos na inauguração do trabalho que seria realizado às 17h30m. Todos os aceitam com muita alegria e prometem comparecer, entretanto no culto à noite registra-se a presença das seguintes pessoas: Diometildes, Rosangela, Oswaldo (este tocou em sua harpa os cânticos de louvor ao amado Deus) e Sandra e Nelson que pregou no livro do Profeta Jonas.

Na sexta-feira, dia 10/03, a arrumação continua e os preparativos para a chegada do casal Gercino e Santina Carvalho da IEC de Cascadura.

No sábado dia 11/03, pela manhã estivemos recebendo na Rodoviária daqui o casal acima citado e chegamos todos à Copavila 2, às 11 horas. 

No domingo, dia 12/03, apresentamos a mensagem pela manhã através do microfone ligado ao alto falante. Após a transmissão, recebemos a visita da senhora Evani e sua neta Ariane. À tarde, fizemos visitação e convite para o culto à noite que contou com as seguintes pessoas: 04 crianças: Sumaya, Ariane, Anderson e Victor Hugo. E adultos foram 09: Evani, Maria das Neves, Luzia, Diometildes, Hilda, Nelson, Sandra, Santina e Gersino.

No dia 14/03 - ida ao centro da cidade a fim de providenciar a abertura de uma conta bancária. Conseguimos então abri-la no Banco Mercantil do Brasil - conta corrente número 01.022.686-4. À noite fizemos uma visita a 3 irmãs da Igreja Adventista: Maria Aleluia, Nézia e Ana.

No dia 14/03, foi erguida a placa com o anúncio da Igreja Evangélica Congregacional de Campo Grande. Os irmãos Nelson Roger e Gercino Carvalho providenciaram a colocação da mesma. Na parte da noite fizemos visita a um casal vizinho nosso, pelo nascimento de um bebê - Graciele, Jorge, Cecília, Wagner ouviram a palavra de Deus.  Também realizamos uma reunião de oração no lar da vizinha do telefone que ocupamos: Zenaide com seus filhos: Lilian, Leonídia, Eder, Juninho e Gercino, Sandra, Nelson e Santina. Foi uma reunião agradável de oração e adoração ao Senhor Deus. 

No dia 15/03, estivemos visitando uma senhora em um bairro vizinho chamado Taruman. Ela chama-se Ana e ficou muito  feliz com a visita de Sandra e Nelson. À noite tivemos o culto com a presença de 34 pessoas. Os irmãos Gercino e Nelson deram a mensagem para o grupo de adultos e Sandra e irmã Santina para as crianças. Adultos: Evani, Dior, Maria Padilha, Isabel, José, Nelson, Santina, Gercino, Sandra e um especial deficiente. Crianças: Vanderson, Paulo Roberto, Julio, Elaine, Pedrinho, Paulo Roberto, Sumaya, Eloisa, Luciano, Keila, Lilian, Ariane, João Carlos, Paulo Cesar, Eliane, Patricia, Lidiane, Claudia, Valter, Leonidia, Junior, Eder.
Umas das parcelas da casa
paga ao antigo dono. 

Avante um pouco aos 20 anos - 5

Pois é, pastor

    Em 1979 procurei os pais, no início do ano, para dizer que trancaria a matrícula na universidade. E, no final, que trancaria a matrícula no Seminário: não faria o 3o ano em 1980, definitivamente. Vou me dedicar só à engenharia, eu disse.

    Sabiamente ponderaram e deram xeque-mate: Você havia dito que o Seminário não atrapalhava a faculdade, porque era curso noturno. Trancou a faculdade. Vai voltar. Vai trancar o Seminário por quê? Daqui a pouco, não termina nem um, nem outro. 

        Não tranquei. Mas ainda lancei, nessa conversa, tênue argumento. Mas ficam me chamando de "seminarista", como se eu fosse candidato a pastor. E não sou. Ora, Cid Mauro: você não disse que isso está claro no formulário de matrícula que você preencheu? Então o que dizem ou pensam é problema deles. Não deve, nesse sentido, afetar você. 

       Venceram. Eles sempre vencem. Ainda bem. E segui com o Seminário e com a PUC, reabrindo matrícula.  Aquela virada de ano foi positiva, até comecei 1980 com o segundo namoro em minha existência para, antes de entrar abril, estar fora da PUC, sem namorada e mergulhado só na Teologia (e no turbilhão íntimo, qual Jonas jogado ao oceano - caramba, que voo, quer dizer, que mergulho!). 

      Claro que seminário era um oásis em toda aquela aridez. Ali conheci amigos que, nem eu ainda sabia, foram dois fortes suportes para que eu me aprumasse, definitivamente na vida. Claro que aulas, professores, convívio no Seminário eram por demais gratificantes. Deus me queria ali e me queria pastor.  Só que eu rejeitava isso. Lutava contra essa ideia.

     O turbilhão da PUC me jogou ali. Ó, Deus, por que os turbilhões? Ele não vai dar uma reposta direta. Apenas dizer: não estou contigo neles? Ainda que eu passe pelo vale da sombra da morte, diz o salmista. É apenas sombra, mas assusta. O turbilhão da PUC me confirmou na fé, ministério e me aprumou na vida. Mas eu ainda não sabia.

     Apenas 23 anos, em 1980, isso é ainda adolescência. Principalmente no meu caso. Vida de igreja também me fazia sentir em meu elemento. Pregar, ensinar, aconselhar, essas coisas. Muito embora, coitados dos que, no auge das crises, ouviram minhas mensagens. Muitas delas enunciadas de modo desarticulado. 

      Não me considero grande orador ou pegador. Mas, naquela época, foi sofrível. Lembro-me de um dos primeiros. Esse não foi tão ruim, o texto me ajudou, descobri-o lendo Isaías 58. Achei que sairia fácil, ensinando coerência entre fé que se professa e atitude prática para com o semelhante. Bom texto, como se diz nessas horas.

       O problema, nesse dia, foi que, empolgado, demorei muito. Quase uma hora. Puxa, se fosse somente esse o problema! Em relação  a outros era a já mencionada desarticulação. No Seminário também desenhou-se, além da vocação ministerial, a profissional. Convidaram-me a dar aulas de Hebraico (!). Eu estranhei e contra-argumentei: sou ex de engenharia, da matemática e da física. Mas tira 8, 9 e 10 em Hebraico e não temos outro substituto para a professora Beth Bacon, que vai aposentar-se, foi e réplica. Não houve tréplica.

     Dando aulas de Hebraico foi que notei que minha praia eram as letras e não os números. Eu e Paulo Leite, então, os dois convidados a dar essas aulas, começamos Português-Hebraico na UERJ, em 1982, para nos formarmos em 1988. Nesse meio tempo, os dois foram consagrados pastores, com trajetórias diferentes e, ao mesmo tempo, muito parecidas. 

      Mas as sutilezas de minha ordenação precisam de um texto a mais. E a vizinhança dessa amizade, dessa continuidade dos 4 anos de seminário nos 6 anos de faculdade, agora de Letras, muito me ajudou no meu soerguimento. Pode ser que esse meu amigo nem saiba, talvez saiba sim, porque muito participou em meus dramas. Deus o colocou em meu caminho.

      Como diz Chico Buarque, Deus é uma cara gozador. Se há fariseus que consideram desrespeitosa essa (e outras) fala, podemos dizer Deus é criativo, sempre surpreendente. E, como diz Paulo Apóstolo, multiforme em sua sabedoria. E nesse contexto, Paulo está dizendo que a multiforme sabedoria de Deus se revela nas pessoas. 

    Mas que pessoas? Em todas e qualquer uma que permite que Deus faça de sua vida uma poesia, que é permitir que, como viu Jeremias na casa do oleiro, Deus modele a vida.  Desculpe, Chico, Deus é poeta. Você quase acertou. E como diz, desta vez, CDA (Carlos Drummond de Andrade, outro poeta) eu nasci gauche, quer dizer torto. Mas pau que nasce torto, Deus endireita. 

     Ou  não.  Às vezes, fica na forma poética das árvores que, parecendo tortas,  é porque enfrentaram e ainda enfrentam tormentas,  mas seguem escolhendo fontes de águas para espalhar e aprofundar raízes, fortalecendo-se ainda mais e, continuamente, dando frutos. Acho que fui meio poético neste texto.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Sermão 08/04 - aniversário do pastor Paulo Leite

Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus.               
Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.
Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.    2 Coríntios 4:5, 6,7

      O sermão de domingo à noite foi muito bom. Baseou-se nesse texto acima.  (1) pregamos Cristo; (2) Deus resplandece em nosso coração; (3) temos isso como nosso maior tesouro. 

     O texto pode ser lido completo. Mas este recorte indica o modo como o evangelho, mensagem de reconciliação com Deus, torna-se prioridade e modo direto de acesso a Deus. Não se trata de religião ou igreja no sentido religioso, mas do recurso único de Deus em Jesus. 

     Por isso que a revelação de Deus é direta,  quer dizer, sem intermediários: Ele mesmo resplandece em nossos corações. Ele ilumina nosso entendimento para que o reconheçamos em Jesus. Ele pessoalmente, como fez no Gênesis, na Criação, desta vez, em nosso coração separa luz e trevas. 

      E temos isso como tesouro em nós. Deus nos escolheu,  mesmo frágeis, vasos de barro que guardam o seu tesouro. O nosso valor é esse. É uma forma muito bonita e única de demonstrar o nosso valor para Deus.

      E nesse mesmo texto, adiante,  quando ele fala de nossos erros, que são exactamente o que nos aflige, não há quem os conheça mais do que Deus, que não os joga em nossa cara mas, ao contrário, torna-nos vasos de seu maior e único tesouro. 

      Meu pai achava esse seu texto preferido.  Montou um programa de rádio para alcançar  crentes afastados das igrejas. O texto central que ele usava era:

Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.
De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.     2 Coríntios 5:19,20
    
          A principal realização de Deus foi ter se tornado homem para nos religar a ele. E uma vez salvos em Jesus e por meio de Jesus, somos embaixadores que falamos em nome de Deus, como se Deus falasse por nosso intermédio.

       Em nome de Deus rogamos a todos e cada um que se reconciliem com Deus. Foi esse o sermão. No final, ele mencionou que somos como que crianças quando dizemos "tó", que seria o "toma", quer dizer, damos de graça, como recebemos, esse maior tesouro.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Avante um pouco aos 20 anos - 4

Descendente

    Olhando assim, surfando a narrativa, não fica muito fácil perceber o conflito interno intenso. Bom falar sobre isso, para marcar a superação. Fica agora mais fácil falar e mencionar, mas a experiência dentro é tenebrosa. 

    Mas que se registre também que é transitória. Meu pai saía para o seu trabalho, minha mãe para o dela e eu ficava. No período em que também saía para a universidade, ainda acreditando que tudo seguiria o mesmo rumo do primário, na época, ginásio e Escola Técnica, sem maiores sobressaltos, tudo bem.

     A nossa rotina, família de três, era a mesma. Mas quando emperrei na PUC, sentava em casa para discernir física dos eixos x, y, z tridimensionais, quando somente, na Celso Suckov da Fonseca só estudara o cartesiano x,y e ainda demonstrações de teoremas matemáticos em Cálculo 0, eu viajava.

      Nunca sabia se o que eu via ou fazia equivaleria ao que vinha nas provas. Sentava e olhava ao lado muitos deslanchando. Eu travando. Pode até ser que fosse simulação de uns tantos. Mas, para mim, eu era o único travado. E era isso mesmo: nos murais, ao conferir notas, a multidão de 2,5 / 3,5 / 4,5 este já era um notão, e outras até menores,  demonstrava que eu não era o único. 

      Mas parecia que a experiência era só minha. E fui me fechando. Não queria compartilhar com os pais. O que dizia era uma espécie de narrativa mais amena, que tinha, sim, o objetivo, para eles,  de definir o dilema. Mas não na intensidade em que, muito dentro, o próprio conflito já marcava. Estava estacionado lá e adquiria sua cara de monstro. Um monstro que passaria a viver dentro, até o dia em que esse dragão seria vencido.

     Os pais diziam, principalmente o Cid: Cid Mauro, você orou e se preparou. Nunca gastamos com você nenhum dinheiro em escola. A formação sempre foi nas públicas. Mas agora é engenharia, sua carreira, numa boa faculdade. Portanto,  vale a pena o esforço. Falavam e concordavam assim quando, já em 1978, antevendo a repetição do fracasso de 1977, em falava em trancar matrícula .

     E esse discurso compensava, cassava minha réplica, mas aprofundava o problema, porque eu dizia a mim mesmo,  caramba,  como eles me apoiam, como estruturam com facilidade o problema e como eu traio os dois com minha incapacidade. E prosseguiram os estudos em total aridez. Terra seca, rachada e estéril. O dragão, dentro, ensaiava o discurso dele, no qual eu me tornava cada vez mais o maior culpado. 

     A gente tem, nessas horas, sim as tais janelas. No meu caso, eu tinha essa tradição, a Bíblia fora refúgio. A fase da adolescência, que fosse dos 14 aos 19 além, é claro,  de toda a infância e pré-adolescência eu passei na igreja. Na adolescência, intensifiquei a leitura da Bíblia. Diante do susto que a vida desperta, por exemplo, na fase da puberdade, época do departamento da e para a sexualidade, por falta de uma orientação mais direta, eu mesmo achei livros que orientassem e saí atrás da própria Bíblia. 

     Chegara a hora do batismo. Refiro-me ao choque com a realidade. Não que fosse uma luta contra o mundanismo dos anos 70. Ora, que fosse light, comparado ao atual. Mas não, eu fora muito bem domesticado e meu contexto era a igreja. O principal pecado da segunda infância fora rir das piadas indecentes de meu colega de rua e de turma, em Cascadura, assim como divertir-me com a liberdade dele em dizer palavrões. 

      Meu conflito configurava-se interno. Eu via que tinha de discursar a mim mesmo. Comecei a entender em que sentido a Bíblia forja o caráter nessa luta. O que eu lia, ia de encontro ao que se me apresentava, assim como, de dentro para fora, tinha que me forjar o caráter. Era como dizer a mim mesmo que, mais do que vi conhecendo e repetindo as histórias bíblicas, agora eu tinha que vivenciar, de modo coerente, a fé que eu dizia ter.

      O pecado "inocente" da infância se mostrava agora, no delinear da personalidade, com sua verdadeira cara. Eu tinha de checar se era mesmo um crente. Claro que a vida na igreja,  aquele grupo ABU na PUC, quando eu repetia as leituras feitas, uma espécie de externar numa forma de consumo para outros ouvirem, davam-me suporte.  E essa minha ênfase, como se eu repetisse para o público e para mim mesmo, incomodava meu amigo Paulo Kurka, que insistia no método indutivo. Eu queria o diretivo.

       Os textos repetidos eram os trechos diretos das cartas paulinas, do Evangelho de João, incluídas as cartas deste e de Pedro,  enfim, palavras de Jesus, nos Evangelhos, contanto que diretas: morte e ressurreição de Cristo, nosso batismo nele, juntamente com Cristo, mais, juntamente em Cristo, esses trechos eu precisava ouvir, por isso repetia aos outros, houvesse chance. Lembro-me que por essa época, a qualquer pessoa que, nos ônibus, sentasse ao meu lado, eu provocava uma conversa sobre evangelho. 

      Você sabe o que significa "evangelho" ou já ouviu falar? É uma "boa notícia": Jesus  morreu. Você entende por que isso é uma boa notícia? Assim começavam as conversas. Sempre predispondo o diálogo e conduzindo-o para o específico e essencial da Bíblia e da existência: crer no evangelho. Já era parte da cura eu repetir para mim mesmo. E é assim. Há pessoas que necessitam desse grau de revolução interna, desse grau de conflito íntimo para definir, de uma vez por todas, a fé. No meu caso, não foi nenhum São Jorge, mas Jesus mesmo quem venceu meu dragão interior.

sábado, 6 de abril de 2019

Avante um pouco aos 20 anos - 3

1978

        Na verdade, comecei no Seminário Betel, no Rocha, RJ. Eu tentava dizer para mim mesmo que faria o mesmo seminário em que, havia quase 35 anos, meu pai estudara. Essa cantilena durou, mais um menos,  uns dois meses.

        Nas férias, janeiro desse ano, eu estivera em São Paulo. Em meio aos conflitos, foi mais uma janela. Estive num acampamento onde trabalhei como equipante. Uma engenhosidade norte-americana: convidam jovens que prestem serviço grátis, proporcionando atividades paralelas de comunhão. 

      Lá havia, ao largo, uma estância, onde casais se hospedavam em bangalôs, também participando de uma programação de palestras, programações de lazer e cultos de consagração. Num desses, houve uma daquelas comoções emocionais, incluído o choro, os abraços, as confraternizações, enfim, algo muito efusivo e gostoso .

       Eu já havia passado por experiência semelhante, anos antes, talvez uns 5 anos antes, em Pedra de Guaratiba,  RJ. Era também um acampamento e, no culto final, após uma mensagem desafiadora e um típico apelo de consagração, muita gente foi à frente, aos prantos, abraçando-se, confraternizando-se, enfim, atendendo ao apelo do pregador e prometendo, a si mesmo e a Deus, mundos e fundos.

        Neste ano, na Estância Palavra da Vida, em Atibaia, SP, eu era menos adolescente. Lembro-me que houve momento em que me afastei do grupo, desloquei-me do auditório onde o pessoal ainda se abraçava, e caminhei por uma das saídas em direção à mureta de uma varanda. Dava vista para o vale, lá embaixo, onde estavam os chalés. 

       Ali agradeci a Deus tanta emoção, aquela sensação gostosa mas, ao mesmo tempo, pedi para não, naquele momento tão emotivo, e nunca eu me deixasse levar ou me enganasse com qualquer tipo de dedicação ou compromisso somente emocional com Deus. Certas atitudes assim servem como referência quando, mais adiante, a gente precisa conferir intenções. 

     Chegando ao Rio, no Betel, quem atendia aos seminaristas era o Pr. Amaury Jardim. Com ele eu havia me aconselhado. E decidira que, embora com apertos na PUC, não iria me abalar para um internato em São Paulo, o Instituto Bíblico Palavra da Vida, que a gente avistava a partir daquela varanda daquele culto à noite.

      Era nas dependências, nos quartos do IBPV onde a equipe de jovens da Estância pernoitavam. Daí, com toda essa influência emocional, era típico naquela época jovens optarem por essa internação. Mas eu queria pôr um freio em minha fantasia. Deduzi, então, que seria fuga ainda maior sair do Rio, com essa possibilidade, deixando o olho do furacão na PUC. Ou melhor, dentro de mim.

      O pastor sempre bom conselheiro, quando lhe expus as dúvidas, desde o travamento na universidade, passando pela compensação emocional possível de uma guinada para o seminário, concordou que era mesmo mais coerente juntar externato no Betel, como eu planejava, com a luta interna no desvão acadêmico em que a faculdade se tornara. Comecei no Betel.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Avante um pouco aos 20 anos - 2

      Abriu -se uma janela

       O grupo da ABU se reunia nos intervalos das aulas. Das 12 às 14 h uma janela. Paulo Kurka. Líder do grupo. Julguei encontrá-lo certa vez na net. Nem sei se era o mesmo. Pareceu conhecer-me. Mas à senha que enviei na mensagem, mencionados aqueles dias, retornou sem eco.

        Pode ser, divago eu. Pode ser. Ele parece ser um físico ou engenheiro renomado. Mas será que perdeu a fé? O Autor da física eu conheço. Pretensão. Pelos corredores da PUC. Subindo/descendo aquelas escadas. Às vezes, de propósito, largava de mão o elevador.  Queria pensar. Ou orar.

      Foi nessa descendente, pelas escadas 9o andar abaixo, que eu decidi ir para o Seminário. Doía-me a consciência. Ia mal no curso. Cara a faculdade. Quase tudo que minha mãe professora ganhava ia para os cofres da Pontifícia. Lembrava do conselho não ouvido por mim que meu pai me dera: esquece um pouco esse negócio de faculdade. Seu curso ê de peso. Usava muito essa expressão "de peso".

       Esse curso na Escola Técnica é bom. Você entra  no mercado de trabalho e mais tarde pensa nisso. Passei no vestibular nessa quarta opção. Entre as federais,  nesta ordem, Fundão, Uff e Uerj, entrei na quarta opção. Uerj requereu mais de 6.000 pontos. Cesgranrio era a Central de vestibulares. PUC queria elitizar-se, era sua vanguarda, saindo do vestibular unificado, no ano em que entrei.

      Daí mergulhar aquela fornada do unificado nas disciplinas zero. Eu chegara aos 5.000 e tantos pontos, quase 6.000. Mas a reclassificação da Uerj chamou por volta dos 6.100. Era muito para mim. Ainda tentei um vestibular a mais, quando estudava  na Gávea. De novo não deu 6.000. Meu pai, promovido como funcionário público do IBGE, de médio para nível graduado no curso de Direito, que ele fizera no ISEB, diga-se de passagem fechado pela ditadura (que não houve).

      Então a professora de 1a a 4a série supria a dívida mensal. Isso me dilacerava, pois repeti as matérias zero em 1978. Foi nesse ano que ingressei no Seminário. Ainda escrevi no formulário de  matrícula. Querem saber do interesse do aluno. Sempre disse a mim mesmo e a tantos outros o que escrevi lá: meu interesse pelo Seminário é teológico. Sou professor da Escola Dominical na igreja, de vez em quando eu prego, hora e outra converso muito sobre Bíblia. Então o Seminário é puro aperfeiçoamento. É diletante.  Mesmo porque meu curso é dia todo, manhã e tarde, com marmita de alumínio no almoço, para economizar. 

      Daí eu utilizar o tempo da noite, então, para o Seminário. Era só sair muito perto das 18 h, pegar o 176, Central-Gávea, rumar para o Centro do Rio. Saltar no Largo da Carioca, pagar um hambúrguer, sanduíche mais barato no Bob's e indo pela rua a pé degustando, até chegar na Alexandre Mackenzie 60, no anexo da Igreja Fluminense. Estava escrito lá que era diletante.

      Uma espécie de compensação. Já começava a desconfiar de minhas intenções. A guinada espiritual compensaria a frustração acadêmica? Seriam dois oásis, um no Bosque da PUC e outro no Anexo da Mackenzie 60? Minha autoestima e autoimagem ganhavam seus remendos. As rachaduras eram cobertas com maquiagem. Não era bem feita, mas remediava. E iam, principalmente os gozadores, chamando-me de pastor-engenheiro, um epíteto que doía pelos dois lados, nem um, nem outro, lá dentro uma voz gritava.