quinta-feira, 5 de julho de 2018

Croniquinha meio nojenta, Cocozim ou Crônica do Titiquim

        Inusitado. Já gosto deste termo. Mas foi mesmo súbito, inesperado e, absolutamente, desnecessário.

       Sabe aquele dia em que sobram alguns minutos de um planejamento inusualmente meticuloso? Sim, foi ontem. Então, antecipei-me.

     A reunião era às 9h. Ora, sei que, já às 8h, no estacionamento da antiga repartição (pública), como dizia meu pai, já não há vagas. Foi então que tudo começou a se ajustar.

      Avisei ao chefe o extra dessa reunião, eximi-me de chegar às 7h30, para então, estacionar às 7h45, pouco mais, lá, na antiga repartição.

      Cedo para as 9h. Por que não comer uma tapioca, saborosíssima, a melhor da cidade, como eu digo? Fi-lo porque qui-lo. Com café com leite. 4,00 reais.

      Sol ameno, desloquei-me, então, vagarosamente, mentalmente em ponto morto, até à praça. Ora, a praça. O jardim da praça. Lembrei Lispector.

      Quanto mais se mexe num jardim, pior. O anterior, muito provavelmente dos anos 70, tinha um ar muito mais misterioso e romântico.

     Lembro ainda que, meado dos anos 90, quando cheguei aqui, apinhada de alunos, os grupinhos se esgueiravam entre canteiros, cada qual com sua combinação de árvores e plantas.

      Canteiros enormes o suficiente, com seus parapeitos de tijolos, ao limite de que sentassem, conversassem e até namorassem. E eu nem sabia, ainda que, 16 anos seguidos seria professor nessa escola da praça.

      Todas essas memórias, o sol das 8, procurei sombra, porque mesmo esse sol escalda. Sentei à sombra, abri o livro, cedo ainda, dava para ler umas páginas.

      Era até uma leitura filosófica. Ora, de novo, há 23 anos no sudoeste da Amazônia, raras vezes havia me debruçado sobre um livro na praça. Evidentemente, falha como me é a memória, alhures, acho até que sim.
     
      Evidentíssimamente devo ter lido alguma coisa nessa praça, ora, mais uma vez, só no colégio 16 anos como professor.  Mas nunca antes numa manhã tão promissora, na qual, raramente, vamos dizer, num intervalo existencial, tudo vinha dando certo.

      Foi quando. Tinha que aquele passarinho que, aliás, nem olhei para o galho acima, procurando uma pista. Levantei-me, em toda a minha indignação, e ganhei o mundo. Nem para o passarinho me quebrar o galho e me errar.

      O passarinho fez cocô na pagina 45 do meu livro. Sabe aquela gusparada? Sim, poderia ser seco. Bem, poderia não deveria ter sido logo na página 45. Quer dizer, em página nenhuma.

      Aquele líquor amarronzado, de odor azedo, respingado na 44, assim como no "corte da frente ou goteira" (eu vi na net, favor conferir), que é a parte onde repousam fechadas as paginas não abertas.

     Para não falar os nomes feios, nesse momento de raiva, respingou cocô de passarinho para todo lado. Levantei-me e fui embora. Cheguei ao lugar da reunião, tendo atravessado desolado (e isolado) a praça.

     Ensaboei papel higiênico umedecido em água. Passei no local, até ficarem claras as letrinhas delimitadas pela mancha avícola intestinal. Não adiantou. A mancha está lá na página 45.

      Hoje vi. Clarinha. Nem cherei. Pra quê? Pensei: sabe qual a lição que a gente tira disso tudo? Nenhuma.

      Bem, talvez, viva a ecologia.

     

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