sábado, 24 de dezembro de 2016

Mal traçadas linhas 38


   Natal

   Frei Beto falou do menino chamado Lucas. Ele propõe três soluções, relacionadas a problemas cruciais da condição humana. Logo, a primeira lição que nos ensina, é que possui sensibilidade para reconhecer questões cruciais da condição humana.

  Quando nos tornamos adultos, perdemos essa sensibilidade. E o pior, estragamos nas demais crianças essa capacidade. A escola que inventamos, dizendo ser lugar para ensinar, deveria ser lugar de se aprender com elas.

   Jesus mesmo dissse, a nosso respeito e a respeito delas: não atrapalhem o caminho delas em direção a mim, porque elas têm, mais aguçado nelas, a sensibilidade de atinar com o Reino de Deus.

  Lucas, (1) com relação à escatologia, propõe que não nasça e nem morra mais ninguém. Olhar à volta, é mesmo constatar que, no final das contas, só vai mesmo ter jeito com intervenção divina: o fim da história humana e a instauração literal, histórica e forçada do Reino.

  O menino (2) sugeriu que Caim não mataria Abel, se dormissem em quartos separados. Pretendeu solucionar o problema do ódio, na condição humana. Socialmente falando, ódio é amor falsificado. Torna-se explícito de várias formas, em hipocrisia seletiva, cuja expressão máxima é o assassinato por causas fortuitas: praticamos isso toda a hora, abortando, em nosso íntimo, relações e detonando, com a língua, a reputação alheia.

  Ele (3) também sugeriu enviar sua capa (como chamam aqui agasalho) ao menino Jesus, por causa do frio, quando o viu desnudo no Presépio. Pretendeu, assim, resolver o problema da miséria humana, panos pra manga no dia do juízo, quando será cobrado o descaso da humanidade, incluída a própria, assim denominada, igreja de Cristo, pela responsabilidade com esse câncer social: mal emprego de recursos financeiros.

  Amanhã, na chácara, vamos reunir nossas crianças e propor que avaliem, mais uma vez, o que esperam do nosso espaço ali. Também vamos propor a elas que exponham motivos de oração. Talvez todas as soluções não venham ao nosso encontro, mas vamos ouvi-las e pensar numa ação conjunta.

  Reino de Deus é uma opção e invenção do Autor, que decidiu limitar-se, junto conosco, aos limites da condição humana. Talvez a inocência, sensibilidade e percepção da criança seja a melhor expressão disso. Quem sabe fique mais fácil a busca e o compartilhamento das decisões.

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