Amigo da mulher, de Pagola.
Jesus resgata o valor da mulher na cultura patriarcal de seu tempo. Iguala ambos os sexos na relação com o Pai, resgatando o sentido de ser "homem e mulher" criados à imagem de Deus.
O sentindo prático dessa revelação da práxis de Jesus, que transparece em suas atitudes, nos textos dos evangelhos, é que o trato com as mulheres, especificamente na relação conjugal, deve se tornar revolucionário.
E não será no sentido de se avaliar que a elas deve ser dada chance e oportunidade de que se destaquem, do modo como o próprio Jesus as destacou, porém no sentido de sua definitiva emancipação.
A avaliação delas, sempre sensível, é que será o indicador de que nós, homens, palavras do próprio Paulo, aos Efésios, estamos cuidando delas como Cristo cuida de sua esposa, a igreja.
Aliás, esta deve ser a pergunta-padrão do marido a sua esposa: na sua opinião, tenho cuidado de você do mesmo modo que Cristo cuida de sua igreja, dispondo-me a dar corpo e vida por você?
Nesse mister, o homem se cala, e a mulher, com toda a sua sensibilidade, deve falar e o marido somente ouvir. A proposta de Jesus sempre foi que as mulheres tivessem voz, o que se torna difícil, mesmo para nós, com todos esses séculos de peso sobre nós e sobre elas.
Aliás, torna-se difícil, mesmo para elas, dizer. O que vão dizer? Se há tanto tempo ficaram (e sofreram) caladas. E nós não achamos que tenham algo a dizer. Em nossa abalizada avaliação, julgamos que estejam bem, muito bem, cada vez melhores, contanto que continuem no seu lugar.
Não equivalemos as duas sentenças aos Efésios, enfatizando apenas aquela da submissão, esquecendo propositalmente a que diz que devemos amá-las como Cristo ama Sua igreja. Cometemos alguns erros, muito provavelmente propositais, quando lemos também o Gênesis.
"A imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou", neste trecho não lemos homem E MULHER ambos criados à imagem e semelhança de Deus. Seguimos achando que Deus tem a nossa (de homem) cara.
E no trecho da queda, lemos "a vontade da mulher vai pertencer ao homem" como regra e não no contexto do que na verdade se postula, que é a queda. Essa declaração é uma advertência aos dois, homem e mulher, para que não pratiquem essa subordinação.
É muito fácil para o homem praticar, postular e ler o texto bíblico de uma forma a sempre achar que sua interpretação é patrimônio nosso (masculino), e mesmo quando diz algo sobre mulheres, deve ser entendido pela ótica machista reducionista.
Perguntem à mulher. O que você tem a dizer sobre mim? Talvez, se ela disser, possamos ouvir e compreender que, muito do que elas têm a dizer vai nos incomodar e se inscrever, pelo menos, em três modalidades.
(1) O que não percebemos, pois são sentimentos delas que passam despercebidos por nós, incluída a avaliação que, o tempo todo, fazem a nosso respeito. Interessante que costumamos idolatrar a memória de nossa mãe, porém violar a vontade de nossa esposa.
(2) O que, então, elas poderão externar, já que foi dada a chance e, muito provavelmente, os papéis vão se inverter, porque isso está explícito no texto aos Efésios: quem ama, muitas vezes se submete. Nós homens temos muito que ouvir delas e seguir, sensíveis, as orientações que nos transmitirem.
(3) Há coisas que elas nem mais serão capazes de descobrir e identificar, tão acostumadas já estão a essa opressão. Somente juntos, homem e mulher, como Deus, um dia, romanticamente imaginou, poderão descobrir juntos. Dessa parceria deve surgir a libertação tão esperada. Pelos dois: quando aprisionamos nossas esposas, também perdemos nossa liberdade.
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