terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Artigos soltos 16


    O pesadelo de Abraão.

    Depois da guerra, Gênesis 14, o pesadelo, Gênesis 15: vai ver que uma coisa combina com a outra. Talvez, a psicologia explique.

    Quem já não teve um, ou vários? Pior, quando é acordado. Abrão, porque Deus não lhe mudara ainda o nome, teve o seu, pelo menos esse que foi descrito.

    Talvez mal acostumado, por ter sido inflacionado por Deus com tantas promessas, ele cobrava de Deus, efetivamente, seu cumprimento. Nada mais humano e tão mesquinho.

    Mas somos mesmo assim tão frágeis. Imaginem o eterno frente ao fugaz, nós diante de Deus. Não poderia ser outra a pergunta do homem: "O que me haverás de dar?".

     E o espanto reside no fato de que Deus respondeu. O Altíssimo se detém, para ganhar tempo ocupando-se conosco, com toda a nossa fragilidade. É certo que a preocupação de Abrão era com o filho.

    Deus confirmou. Pediu a Abrão que saísse e olhasse o céu. O céu que Abrão tinha diante dos olhos era o tamanho do universo. Eram todas as estrelas. Deus lhe pediu que contasse.

    As estrelas, Abrão, são a medida da tua bênção. Sair e olhar as estrelas mede o tamanho da bênção. Significa dizer, Abrão, "conta as bênçãos, dize quantas são: vem dizê-las, todas, de uma vez e verás, surpreso, quanto Deus já fez" (e continua a fazer).

   Abrão dispôs o sacrifício a oferecer, preparou-o e, daí para o anoitecer, não o ofereceu ainda, até que dormiu, até que enxotava aves que desciam sobre as ofertas dispostas e já recortadas para o ritual.

    Fez-se noite. Abrão exauriu-se de espantar as aves que vinham descarnar as rezes, recortadas para a oferenda. Dormiu, e "grande escuridão e grande espanto caiu sobre ele."

    Inflacionado de tantas promessas do Altíssimo, "te farei grande, te farei nação, te bendirei, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem", enfim, parecia que Abrão esquecia sua fragilidade e esquecia o que, na verdade, significa ser grande diante de Deus.

    Nada como um bom susto. Um bom pesadelo. Tochas de fogo desenhavam-se no feitio do corte das partes ordenadas para a oferta: "escuridão, fumaça e fogo". Nossa fragilidade nos dá medo.

    O que depara o futuro? Afinal, bênçãos de Deus se medem por nossa moeda de troca, atendem o que avaliamos como urgente ou, simplesmente, o quê? Talvez a resposta venha na forma de pesadelo.

    Mas depois, Deus pormenoriza e detalha as bênçãos e faz aliança conosco. Feita a aliança, nem precisa pormenorizar as bênçãos. O susto e o terror nos deixam mais lúcidos. Avivam os olhos da fé, que só olham adiante, como se vissem "Aquele que é invisível".

     Meçamos, diante de Deus, o que significa grandeza. Vamos assumir nossa fragilidade. Pormenorizemos, detalhe a detalhe, as bênçãos. E vamos seguir sem sustos, olhando em frente, como que vendo, diante de nós, Aquele que é invisível.

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