A NOSSA SÉ DA BAHIA
com ser um mapa de festas é um presépio de bestas.
E se nisto maldigo ou me engano,
eu me submeto à Santa Madre Igreja.
Se virdes um Dom Abade sobre o púlpito cioso,
não Ihe chameis Religioso chamai-lhe embora de Frade
Jesus, nome de Jesus!
AOS CAPITULARES DO SEU TEMPO.
A nossa Sé da Bahia,
com ser um mapa de festas,
é um presépio de bestas,
se não for estrebaria:
várias bestas cada dia
vemos, que o sino congrega,
Caveira mula galega,
o Deão burrinha parda,
Pereira besta de albarda,
tudo para a Sé se agrega.
PONDERA ESTANDO HOMIZIADO NO CARMO QUAM GLORIOSA HE A PAZ DA RELIGIÃO.
Quem da religiosa vida não se namora, e agrada,
já tem a alma danada,
e a graça de Deus perdida:
uma vida tão medida
pela vontade dos Céus,
que humildes ganham troféus,
e tal glória se desfruta,
que na mesa a Deus se escuta,
no Coro se louva a Deus.
Esta vida religiosa
tão sossegada, e segura
a toda a boa alma apura,
afugenta a alma viciosa:
há cousa mais deliciosa,
que achar o jantar, e almoço
sem cuidado, e sem sobrosso
tendo no bom, e mau ano
sempre o pão quotidiano,
e escusar o Padre nosso!
Há cousa como escutar
o silêncio, que a garrida
toca depois da comida
pare cozer o jantar!
há cousa como calar,
e estar só na minha cela
considerando a panela,
que cheirava, e recendia
no gosto de malvasia
na grandeza da tigela!
Há cousa como estar vendo
uma só Mãe religião
sustentar a tanto Irmão
mais, ou menos Reverendo!
há maior gosto, ao que entendo,
que agradar ao meu Prelado,
para ser dele estimado,
se ao obedecer-lhe me animo,
e depois de tanto mimo
ganhar o Céu de contado!
Dirão réprobos, e réus,
que a sujeição é fastio,
pois para que é o alvedrio,
senão para o dar a Deus:
quem mais o sujeita aos céus,
esse mais livre se vê,
que Deus (como ensina a fé)
nos deixou livre a vontade,
e o mais é mor falsidade,
que os montes de Gelboé.
Oh quem, meu Jesus amante,
do Frade mais descontente
me fizera tão parente,
que fora eu seu semelhante!
Quem me vira neste instante
tão solteiro, qual eu era,
que na Ordem mas austera
comera o vosso maná!
Mas nunca direi, que lá
virá a fresca Primavera
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