terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Líquido ou fossilizado

   Perda de referenciais e fluidez de valores. O cara se chamava Bauman, que mencionava a era atual como líquida. Deve estar já ultrapassado. 

   Porque tudo flui rapidíssimo. Nada mais é permanente ou seguro, de bem postado. Valores, por exemplo, foram-se. Esquece o que teus avós ensinaram.

  Puxa, avós?! Agora eu fui longe. Não carecia. Gente ainda desta geração já está ultrapassada. Como dizia Elis, ou nem disse, porque não somos mais os mesmos e nem mais vivemos como nossos pais.

    Religião, ética, costumes, tradições todas e tudo flutuante. Se era ético ou, pelo menos, indiferente, soltar um apelido, cuidado agora: pode ser injúria e dar cadeia.

   As mães e avós tentavam retransmitir o que ouviram, respectivamente, de seus próprios pais e avós. Até a crise que espalhou que esses velhos não estão com nada. Afrouxaram-se os valores. Diluíram-se as tradições.

   O que era tido como padrão ou fundamento, não é mais. Antigamente, era um legado, que vinha de costume arraigado e tradição antiga e consagrada.

   Hoje se nasce fluido, com as escolhas a posteriori. Com a religião dá-se o mesmo. É inegável que, muitas vezes, vivia-se acomodado com preconceitos históricos embutidos.

   Parecia haver um  acordo entre religiões master, ou seja, consideradas "maiores", o que é um blefe, pois todas têm (ou deveria ser admitido assim) o mesmo valor.

   E então depreciava-se um montante das "menores", ou menos tradicionais, mais desconhecidas, menos intelectuais, ou menos aceitas, ou racialmente injustificáveis.

   Nesse sentido, evoluiu-se um pouco. Mas há perdas, se o foco for detalhado, por religião. Aumenta a secularização, que diz ser bobagem qualquer uma delas. Ou são manipuladas como oferta de mercado, por um lado, ou tidas como mero fenômeno antropológico, vazio do sobrenatural. Ave, Iluminismo.

   O problema é assumir o ruim, e refugar o bom. Talvez mais problemático do que isso, nesta altura, é distinguir um do outro. Mesmo porque muita coisa ruim, reconhecidamente danosa, está em moda.

   Certa vez, comentei com os alunos, professor que sou, com mais de 60 anos, como estão aí, na praça (e ainda em moda), coisas muito ruins há mais de 50 anos. Mais de meio século de mau gosto.

    Bem, o que vale é que, quem for fluido, seja para consigo mesmo, sem impor sua visão a quem, definitivamente, cristalizou-se. E estes, nada de impor sua rigidez a quem quiser ser líquido.

   O problema é um grupo reclamar do outro, ou se desejar o inverso, que o outro defina regras para o um. Siga sendo fluido, que eu sigo sendo fóssil. Porém vou continuar fazendo propaganda dele e aceitando meu padrão.

     Ora, se eu tiver que aconselhar, compartilhar ou espalhar por aí, pois também me ocupo disso, quem quiser, pode até me imitar. Mas sem me irritar. Quem é fluido, tem e reivindica essa liberdade. Eu, que sou fóssil, também reivindico.

   Mas pode deixar que não te importuno. Não vou perder tempo com isso, nem dar razão para me incriminarem, alegando molestação. Bom ou mau gosto, é questão de opinião. E como dizia amigo meu, também já sexagenário, "gosto não se discute: lamenta-se".

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