A questão é saber que vozes me indicam a autenticidade do que se registra que foi Jesus quem disse. Como se dá essa mediação, entre o que se denomina ipsissima verba de Jesus e meus, ou de tantos outros, ouvidos.
Antes mesmo de recorrer à mediação mística do Espírito Santo, considerado com os outros dois, Pai e Filho, a terceira Pessoa da Trindade, vamos tentar estabelecer um certo grau de confiabilidade ao que nos chega por escrito.
Se as Escrituras, termo precípuo para o que vem por escrito, tornou-se um dos temas tão sensíveis e de disputada autoridade, por ocasião da Reforma, o que denominamos, na economia desta argumentação, a transição do primeiro Cristianismo para o segundo, vamos abordar em que base se situa essa precisão.
A começar pelo simpático perfil que delineamos sobre Marcos, aquele que idealizou o esquema de apresentação dos opúsculo posteriormente chamados Evangelhos, ombro a ombro com Lucas e Mateus. Pois a moderna crítica, já há uns 100 anos, detona essa romântica visão.
Nem pense numa personalidade única por detrás dessas autorias. Assim nos informam os mais recentes pesquisadores. Desconfiam das certezas da tradição que menciona esses nomes como se fossem dos autores.
Talvez incorram num erro comum, que seja aplicar rigor científico atual a critérios de autenticidade antigos. Por exemplo, bastasse para a certificação, para aquela época, apenas a menção do nome. Porém, para hoje, evidências mais precisas seriam necessárias.
Nunca saberemos. Mas não fica somente no nome. Procede-se a uma cirurgia que define recortes de texto, onde palavras, perícopes e fatos atribuídos a Jesus mergulham no limbo da mesma dúvida. Então torna-se necessário sair atrás de que autoridade acadêmica vai lhes confirmar a credibilidade.
Ora, instituiu-se um outro tipo de clero, desta vez, pode ser chamado clero acadêmico ou científico. Essa nata intelectual é que vai, em última instância, determinar se Jesus disse, o que, na verdade disse, quantos e quem acrescentou ao que foi dito, enfim, caso o leitor aventure uma credibilidade total, corre o risco de se expor ao ridículo.
Serão condescendentes com você. Afinal, é "assunto de fé" e, com relação à religião, vem primeiro o respeito. E ainda não falamos nos milagres. Esses, então, varia-se de serem todos, de uma vez, negados, exceto, é claro, a ressurreição de Jesus (eu acho, se é que já não escolheram uma alternativa para ela).
Ora, apóstolo Paulo, os coríntios é que estavam certos: mortos não ressuscitam. Significa dizer que, o que é sobrenatural, para usar este termo bem irrisório, extirpa-se da religião. Prevalece, acima de tudo, a razão. Problemático mencionar também este terno, já que quase ser apenas privativo da elite intelectual.
Os que nada sabem, precisam recorrer a eles, humildemente, a fim de que, gnosticamente, sejam iniciados, pois deles vem e com eles está a luz desse tipo de esclarecimento. Não estou sendo irônico, mas a intenção dos reformadores em colocar as Escrituras ao alcance dos leigos esbarra na necessidade dessa iniciação.
Uma terceira consequência que, como num refluxo, afeta essa cadeia argumentativa é que, então, onde está a fala de Deus? Se admite-se ser Jesus, dogma cristão, vamos assim dizer, o Verbo, a Palavra viva de Deus, pergunta-se como ouvi-la (ou lê-la) com proficiência?
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