Essa coisa toda de evangelho, e coisa e tal, como dizia meu avô Tula, depende de certos pontos iniciais, certos princípios, sem os quais tudo desmorona.
Dizendo de outro modo, há axiomas, pontos de partida irremovíveis, sem os quais, desista-se de evangelho ou qualquer credibilidade conferida a Jesus.
Por exemplo, para essa coisa toda ser crível, Deus precisa existir. Caso não, desista-se aqui. Caso afirmativo, além de existir, Deus precisa falar, ou seja, comunicar-se com o homem.
Um Deus que exista, mas que não fale, de nada serve. Bem, adiantando um pouco a história (e os argumentos), chega-se a Jesus. Pretende-se que ele seja Deus revelado e que isso seja verdadeiro.
Agora precisamos de um circuito de palavras e fatos, já que esse Jesus é personalidade histórica, que falou e agiu em nome de Deus. Admita-se. Bom, então vai faltar estabelecer que palavras disse e que atos realizou.
Houve um tempo em que, aquela que se autodenominou Igreja, para depois autointitular-se católica, guardou consigo, nos mosteiros e com os que se denominaram clero, sua hierarquia dirigente, toda a doutrina.
A palavra dela era a única autorizada. Levou isso tão ao extremo, que chegou a praticar uma Inquisição, à qual chamou "santa", para intimidar seus oponentes. Claro que não era somente doutrina, havia outros interesses em jogo, que a acometeram, nesse meio tempo.
O principal deles o controle político, é claro. Dizemos meio tempo, o período entre a igreja autêntica, vamos assim denominar aquela que as páginas do Novo Testamento descrevem, e os tempos da Reforma, em que se delineia uma nova igreja, por assim dizer, que reivindica a autenticidade perdida.
A simples troca de autoridade, qual seja, saído do modo hegemônico clero da antiga igreja, para entrarem em cena os porta-vozes da Reforma, essa simples troca de vozes, por reivindicar, para si, autoridade, de um lado o clero, que diz nunca tê-la perdido, e os novos arautos, que dizem tê-la resgatado, essa simples troca não haveria de conceder maior ou menor autoridade a nenhum dos dois, se não fosse a posição diante das Escrituras.
O grupo recente, ou seja, a turma da Reforma, quis basear sua reação nas Escrituras, afirmando proceder dela, e somente dela, toda a autoridade e respaldo para o que realizaram.
A turma da igreja mais antiga, reivindicava o mesmo, pega que foi de surpresa e após assustar-se com o argumento de, a um só tempo, retorno às Escrituras e, da mesma maneira, contestação dela como única, reinando no orbis, com os caras dizendo que, só agora, ressurgia a igreja verdadeira.
Tomando-se, então, somente as Escrituras, como aos quatro ventos propagaram os reformados, Marcos, o primeiro evangelista, escreve, como primeira palavra de seu livreto, "principio". Ele se expressa: "Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito na profecia de Isaías", Marcos 1:1-2a.
Referencia no livro do proefeta Isaías, texto do mais tarde denominado Antigo Testamento. Como Paulo, aos Romanos, indica que havia, desde esses tempos, profecias que referendavam o evangelho. Esta palavra significa "boa nova", portanto, passou a nomear os livretos que apresentam esses esboços da vida de Jesus.
Afinal, Deus, que existe, falou por meio de Jesus? Que palavras? Elas estão explícitas na Bíblia ou, se verdadeira a suposição aqui indicada, não, as palavras da Bíblia são como que charadas, sendo necessário garimpá-las, para se encontrar as pepitas de autenticidade.
Jesus esteve sim, por aqui, entrou na história, mas o que disse ou o que fez se perdeu, sendo o que mostram os evangelhos apenas representativo, enigmático, esquemático, místico, enfim, como uma caricatura do real.
Sendo assim, tenha-se um certo respeito, uma certa reverência, afinal, estamos no século do respeito. O Cristianismo, assim inventado, elaborado através de séculos, para ser questionado no Renascimento, este o primeiro Cristianismo, que desembocou na Igreja Católica.
O mais recente, este segundo, de viés reformado, detonado por Marx, com seu parentesco siamês com o capitalismo, e quem sabe também por Nietzsche, nada merecem senão esse respeito secular, equiparado a todas e quaisquer religiões.
Deus mesmo, que é bom, não se sabe se existe. Quem sabe, uma boa ideia, linda ideia, um panegírico onírico. Ora, não se menospreza, aqui, nem se diminui ou reduz o valor ou a abrangência histórica do Cristianismo. O que se nega, de fato, seria o seu conteúdo primeiro e especial, identitário, a existência de Deus, sendo Jesus Cristo sua exata expressão.
Fake News, o que também está na moda. Acredite nada, é Fake.
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