quinta-feira, 7 de março de 2019

Os discípulos - 3

         Tiago

         Irmão do autor do quarto evangelho, ele e João apelidados "Filhos do Trovão". Talvez, pela sugestão dada ao próprio Jesus, ora, que pretensão, que fizessem cair fogo do céu sobre samaritanos que lhes rejeitaram hospedagem: "Não sabeis de que espírito sois", retrucou, duramente, o Mestre.

        Marcos, evangelista, sem que fosse, como Lucas, um dos doze, menciona um detalhe na diferença de nível econômico entre esses dois pares de irmãos. 

        Quando Jesus sucessivamente reforça o chamado dos quatro, André e Pedro largam, apenas, suas redes, enquanto que Tiago e João as deixam no barco de Zebedeu, seu pai, com os empregados. 

      Diferença entre uma empresa de pesca e simples pescadores avulsos. Daí o grau de privilégio embutido num pedido de mãe, que os queria a cada lado de Jesus, em destaque, sutilmente sugerindo sua superioridade aos demais. 

      A resposta inclui o básico e o trágico da fé, na composição e dependência direta a Jesus: "Concordo, uma vez que bebam do mesmo cálice que eu bebo". O que, antecipadamente,  cumpriu-se em relação a Tiago, assassinado por Herodes e tornado mártir,  como Estêvão, bem cedo na história da igreja.

      Pelo pouco que se conhece dele, outro dado foi formar a tríade Pedro, Tiago e João, postos em destaque por Jesus, como no caso do chamado de volta à vida da filha de Jairo: somente os três, entre os doze, e os pais da menina foram chamados a presenciar esse milagre de ressurreição. 

      Muito provavelmente, por facilidade financeira e pelo nível intelectual de João, seu irmão, podemos deduzir que se destacasse em liderança natural. Jesus escolhida auxiliares muito diferentes entre si, exatamente para que efetuasse o milagre de comunhão que caracteriza a igreja.

      Exatamente esses apóstolos eram o círculo experimental,  laboratório vivo da futura comunidade dos que creem. Contraponto de níveis intelectual e social,  esboço de amizade já cristalizada há tempos mas, que agora,  com a nova vida,  projeta-se para atrair tantos outros a Jesus.

      "Eu vos farei pescadores de homens", assim como lhes mostrarei quanto importa sorver todo o cálice que eu mesmo bebo. O cálice que transborda e a unção com óleo na presença de inimigos. 

     Tiago representa o modo como o mundo é hostil aos discípulos, tanto  quanto foi ao próprio Jesus. Nisso reside a identidade deles e comunhão na missão e no sofrimento. Paulo, apóstolo tardio, exortou a seu discípulo Timóteo: "Todos quantos querem viver piedosamete em Cristo, serão perseguidos".

      Tal pedido de mãe, talvez, não incluísse essa fatalidade. Mas do mesmo modo como Maria sofreu por Seu Filho, cumpre-se em Tiago o preço dessa plena identidade. Que também se cumpra em nossa vida, ainda que seja o mesmo cálice. 

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