Pedagogia de Jó.
Muito provavelmente estreitamente ligada aos adjetivos a ele associados na apresentação de seu livro: íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal.
Frente ao sofrimento que enfrentou, aliado às perdas que granjeou, pareceu mesmo, nessa sucessão, uma irônica disputa entre Deus e o Diabo na terra de Jó.
Mesmo assim é necessário cautela quando tentamos aplicar a nós trazendo, mediante hermenêutica fiel, seus ensinamentos para hoje.
Primeiro, a lição transmitida, na lata, à esposa que, sócia íntima de suas amarguras, achou justo culpar Deus: amaldiçoa teu Deus e morre.
Jó não aceitou nem fuga, pela morte, nem argumento. Contrapôs as primeiras lições: aleluia nas perdas e ganhos; Deus deu, Deus tomou, bendito seja.
De quebra, o que é raro entre elas, classificou de louca a mulher. E o livro segue ensinando. Por exemplo, quando Jó amaldiçoa, sim, o próprio nascimento.
Aqui ele contraria aquela bobajada que espalham por aí, dizendo que há cuidado com as palavras bem(mal)ditas. Deve haver cuidado mesmo.
Nem tente falar com Deus na mesma intimidade de Jó, a não ser que aqueles adjetivos acima indicados, pelo menos, tenham sido incorporados a sua experiência com Ele, igualzinho ocorreu com Jó.
A menos que não, siga o conselho do salmista: fique calado diante de Deus. E quanto à reposição? Há quem postule que qualquer coisa perdida, ainda que na proporção das perdas de Jó, como no caso dele, serão repostas.
Cuidado com o "toma lá, dá cá" muito corriqueiro, hoje, na indústria de bênçãos, tão usual em algumas "igrejas". Reposição, sim, no caso de Jó. Ainda que, no caso dos filhos, nunca é um pelo outro, ou qualquer conta que seja.
Para um pai que, como ele, acompanhava em oração e cuidado de conselho e palavra cada filho, nunca terá esquecido o trauma sofrido, como é comum ocorrer, mas apenas nutriu consolo de Deus.
Para terminar, oração em Jó não era moeda de troca. Há quem distribua lista de oração por amigos, dizendo que, quanto mais você orar por eles, mais compensatória será a "reivindicação de bênçãos".
Abençoado, enquanto orava por amigos. Oração é saudade de Deus. Recíproca. Deus quer nos ouvir. Sente saudades dessa conversa. Nós, também, deveríamos carregar conosco essa vontade de ouvi-Lo, a todo o momento.
E, quanto a amigos, a relação de Jó, com eles, era de amor. E não ria dos amigos dele, julgando-os inoportunos. Trataram Jó, reverentes de empatia com a doença dele como muito raramente hoje praticam os "amigos". E também destacavam-se em sua sabedoria, apenas eventualmente suplantados por Jó, em sua própria.
Jó ensina uma série de lições que, frontalmente, contradizem muitos modos de pensar da atualidade. Fizeram do evangelho delivery de urgências da hora, da igreja agência de "bênçãos" e da oração moeda de troca. Alguém anda te enganando. Mas, enganou mesmo?
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