terça-feira, 14 de novembro de 2017

       Saudades do culto.

       Vida de crente autêntico é uma constante sede de culto. Aliás, a própria Bíblia ensina "apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus".

       O nome disso, diz o Livro, é "culto racional". 24h por dia, a cada dia. A gente segue, como dizia meu pai, pela vida em fora, sentindo saudades de cultos.

      O rei Ezequias, por exemplo, uma vez avisado, pelo profeta Isaías, de que morreria, virou-se no leito e orou: "mas ora, qual o sinal de que subirei, com a multidão, ao templo".

     Saudades do templo. Em minha história de cultos, a infância rachou-se no meio com saudades de duas igrejas: congregacional de Nilópolis, por ali até, mais ou menos, os 7 anos; e congregacional de Cascadura, o restante da infância.

    Foi em Nilópolis, certa noite, pregava naquele domingo Ivan Espíndola de Ávila. Retórico, teatral, como sempre, descrevia não sei se o sacrifício de Isaque ou o altar de Elias à espera do fogo celeste.

    Ao final, o apelo. Eu, uniformizado, vestido com minha farda, como diz aqui no Acre, camisa de fustão, às vezes sobras das camisas de Cid, meu pai, na luta renhida da vida.

    Todo de branco. Ao lado de Dorcas, é claro, como sempre. Eloquente, o pastor Ivan chamava quem, porventura, quisesse atender ao chamado de Jesus.

      Eram aqueles bancos mesmo: anatômicos, segundo as curvas do corpo, ripas escuras extensas, acabamento por detrás do encosto para pousar Bíblias e hinários.

     Ali, eu e Dorcas, primeiro banco da fila que iniciava a partir da porta lateral esquerda do velho templo. Entendi mensagem e apelo e, olhos vivos, com toda energia e já decidido, ameacei ir à frente, deslizando na ponta do assento, mas consultei Dorcas.

     "Isso não é brincadeira", ela sentenciou. Me detive. Mas Ivan insistia e já dizia que não prolongaria muito o apelo. Mediante essa argumentação, virei-me novamente para Dorcas, mas a encontrei de cabeça baixa, olhos fechados, face contrita, estava orando.

      Não podia interrompê-la, era óbvio. Olhei mais uma vez Ivan, ele lançou a frase derradeira, anunciando ser a última chance. Olhei Dorcas mais essa vez, mas escorreguei do banco, meus pés ainda não tocavam o chão.

    Pequeno salto, caminhei em direção ao Pastor. Dorcas só abriu assustada os olhos, quando o ouviu dizer, por um último chamado, usando minha decisão como argumento: "Olhem, um menino, ainda: mais alguém?"

     Ganhei um Diploma, que guardo até hoje, escrito data e a frase: "Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida". Um garrancho assina "Cid Mauro" e a data, se não falha a memória de 60 anos, indica 21 de abril de 1963: 5 anos, por dizer, 6 incompletos, a completar em 6 de maio.

     Saudades de cultos. Há aqueles que marcam nossa existência. Há igrejas que não esquecemos nunca mais.

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