sábado, 11 de novembro de 2017

Mal traçadas linhas 54

Burocratas da fé.

    Vá ao Google, sugestão minha, para ver o significado do termo. Há um sentido positivo e necessário para ela, assim como outro negativo.

     No Brasil, por exemplo, é tão mal engendrada que, por trás dela, uma horda de burocratas corruptos se encondem.

     Jesus agia na mais completa informalidade. Ele entendia, plenamente, a natureza humana. Situava-se onde melhor tivesse acesso a eles.

     Não se pode dizer que, o tempo todo, Jesus fosse informal. Dependia do ambiente. Estivesse no Templo ou numa sinagoga, por exemplo, não destoaria do local.

     Mas, certa vez, os fariseus o acharam fora do sério, recomendando-o a não queimar o filme. Que deixasse de ser visto conversando com prostitutas, bebendo com pecadores e frequentando casa de publicanos.

     Jesus precisava resguardar sua imagem pessoal, diziam. Não devia misturar-se. Até sua própria família o procurou visando dosar sua boemia. Precisava chegar a casa mais cedo ou dar paradeiro de onde se encontrava.

      Numa festa de casamento pediu que vasos cerimoniais fossem enchidos com água. Transformou-a em vinho, porque a finalidade do momento era a festa e não o ritual. Temendo senso de ocasião. Como era festeiro esse Jesus.

     Tornamo-nos burocratas da fé. Queremos que as pessoas aceitem e amoldem-se à nossa cultura "evangélica". Deixem seu local de origem, seu entorno e contexto de vida, passando a frequentar nossas igrejas, imitando nossos modos e falando nossa língua.

     Tornamo-nos assépticos. Queremos uma sociedade limpa, por nossos padrões. Pobres de nós. Definitivamente, isso não é santidade.

       Oferecemos nosso produto e queremos que o aceitem, do modo como o apresentamos. Já dá para oferecer Jesus delivery, por whatsapp ou internet. Digamos assim, um "Jesus gospel", escamoteável ao gosto do freguês.

     Onde as pessoas estão, como Jesus fazia, não vamos. Somos mesmo, como dizem nossos irmãos de esquerda, burguesia da fé. Assumam nosso jeito e nosso modo, caso tenham mérito para tanto.

     Se não aprendermos, como Jesus sempre quis com seus discípulos, a informalidade da oferta do evangelho, seu modo autêntico, natural e desafiador, vamos atrair caricatos.

     E esses mesmos que se enquadrarem em nosso modelo, olhando-lhes no rosto, até mesmo duvidaremos quando virmos neles o reflexo de nossa imagem. Tornamo-nos burocratas da fé.

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