terça-feira, 15 de novembro de 2016


  Diletante

    Lendo, puro diletantismo, Luiz Pondé e Schopenhauer, não necessariamente nesta ordem, acordei hoje meio filosófico. Provavelmente, por causa do tempo encoberto e frio.

    Resolvi, então, refletir sobre possíveis modos de confirmar que ou se Deus existe mesmo. Lembrei das Escrituras, uso da ferramenta e boca torta pelo uso do cachimbo, indo logo em direção ao específico da fé.

    O anônimo autor da carta aos Hebreus afirma "sem fé é impossível agradar a Deus". Quem dEle se aproxima, e aqui já está suposta Sua existência, deve crer que Ele exista, e se torna galardoador, e aqui, de modo simplista, o autor já supõe compensação ao crente, dos que O buscam.

    Fiquei só com a sentença "sem fé é impossível". E pensei se se pode afirmar que somente com ou mais especificamente se as Escrituras confirmam essa existência. Perguntando de outra forma, se fora das Escrituras, ou seja, supondo possível comprová-la, definitivamente, uma farsa, ainda assim se, fora dela, seria possível comprovar Deus ser existente.

   Ainda de outra forma a questão: crer em Deus depende exclusivamente das Escrituras? Refleti, então, na moderna, quer dizer, já faz mais de 100 anos, argumentação que põe em xeque trechos do Livro, ou dos livros da Bíblia.

   Comenta-se e comprova-se, diz-se, que tal(ais) ou qual(ais) autor(es) não escreveram esta ou aquela parte, o texto é ruim aqui e ali, tal ou qual texto não é tão antigo assim, discípulos de fulano e cicrano acrescentaram aqui e acolá, enfim, desgasta-se a tradicional credibilidade dos textos.

   E não mencionei, ainda, os erros históricos, segundo afirmam, e nem os disparatados "milagres", total e puramente anticientíficos, definitivamente postulam os preclaros doutores. A questão se reduz a uma pergunta: afinal, com o que sobra intacto e original, dá pra confirmar a existência de Deus?

   Sim, porque se der para confirmar, com o que sobra de autenticidade, até mesmo a questão se o Livro é ou apenas contém a "palavra de Deus" se torna irrelevante. Não interessa o quanto tem ou se tem total, o que sobra confirma a existência do Altíssimo.

   De um polo a outro, vamos ao Jesus histórico. Afinal, acharam-no? Caso tenha sido achado, foi ele um embuste? Uma fraude? Afinal, foi apenas um rabino meio louco e, definitivamente, foi Paulo, com a ajuda do pessoal que lhe deu continuidade histórica, que inventou o cristianismo?

   Se nem quanto à personalidade de Jesus conseguirmos obter, no texto bíblico, certezas, com relação às afirmações ali escorreitas, resta buscar argumento fora do Livro. Por ser diletante, como já preveni, refleti: ora, se somos fruto do acaso cósmico, provenientes do nada e em direção ao nada, novamente, eterno retorno, como diz Pondé, a razão também é uma variação sobre o nada.

   Ela nos dintingue dos demais animais. Muito embora, seja necessário dizer que, moralmente, somente o homem age de modo irracional. Voltando ao argumento, razão se torna não-saber, caso nossa origem e  destino seja o nada. Visto que conhecimento se torna múltiplas variações sobre tudo, sobre coisa nenhuma, conduzindo a lugar nenhum.

   Está a serviço do capitalismo e serve como instrumento de dominação: quem mais sabe, vende mais caro, ou se torna devedor, como no caso dos cientistas alemães feitos prisioneiros no projeto Manhattan, que dividiu as eras entre antes e depois da possibilidade de total aniquilação.

    Habitamos o centro de uma explosão ainda em curso, a Big Bang, os fótons são nossa origem e sua colisão pretende ser comprovada pelo LHC. Desesperadamente, procura-se vida fora do contexto terráqueo, algures, Universo afora. Caso não haja esse indício, perigosamente a humanidade se aproximaria da confirmação de que a vida no planeta seria mesmo resultado de uma ressaca do Altíssimo.

    Enquanto esperamos e, segundo Schopenhauer, vivemos, nessa existência, o nosso inferno, resta saber se Jesus falou mesmo aos judeus e, caso seja literal de Sua boca, se Ele pode bancar a afirmação "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

     Caso esse homem tenha acertado e possa bancar essa afirmação, salva-se, a um só tempo, a razão e até se supõe uma existência para além desse inferno. Sim, porque ser liberto, porém retornar ao nada não seria honesto. Só vai nos restar, então, responder a pergunta de Pilatos: "Mas, o que é mesmo a verdade?".


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