Como nasce uma igreja
Como nasce uma igreja? Alguns aspectos são subjetivos, enquanto
que outros são objetivos. Quando, em Atos, o autor se refere ao dilema de Paulo
e seus companheiros, procurando lugar para onde ir, com gana e sede de pregar o
evangelho, ele nos confronta com um aparente absurdo, ao afirmar que o Espírito
Santo "impedia de anunciar a palava" ou "não permitia"
definir-se um dado rumo, diante da opção de ir para ali ou acolá. Isto nos faz
refletir sobre:
1. uma igreja nasce da compulsão incontida para pregar o
evangelho: a beleza e urgência do evangelho, a necessidade, já implícita em sua
definição, de ser compartilhado deve ser o substrato que impulsiona o autêntico
discípulo de Cristo. Este é o aspecto subjetivo.
Ora, se, progressivamente, vem se perdendo a riqueza e
profundidade, a simplicidade e autenticidade do evangelho, se sua transposição
do seu livro-texto, a Bíblia, para a prática de seu compartilhamento, no face a
face, com homens e mulheres tem se tornado raro ou distorcida a mensagem,
colocada como acessório a outros interesses, nem pregação, resultado ou grupos
que surgirem em função do que for compartilhado serão autêntica igreja de
Cristo.
2. uma igreja nasce de opção consciente na escolha de um lugar definido,
onde as circunstâncias concorrerão para o sucesso final: comunidades surgem em
torno de ações bem definidas de compartilhamento do evangelho, quando laços de
comunhão se estabelecem e a relação entre os discípulos cumprem características
bem definidas. Este é o aspecto objetivo.
Em Atos, crentes perseguidos, ainda quando Saulo, segundo o autor,
assolava a igreja, tagarelavam sobre o evangelho com quem encontrassem, mesmo
em fuga. Paulo, nessa oportunidade, após viver a angústia por definir um lugar
onde pregar e estabelecer uma comunidade, enfrenta uma série de dificuldades
que, em outras circunstâncias, por exemplo, visto por ótica "racional", poderia parecer inapropriado insistir:
(a) a cidade escolhida não tinha a sinagoga que, como agregadora de
judeus e ponto obrigatório de estudo das Escrituras, facilitava a pregação e o
acolhimento; (b) um grupo reunido na beira do rio se constituiu em referencial
para o apóstolo; (c) uma jovem, numa estranha atitude de êxtase, diariamente
acompanhava Paulo e Silas, despertando a atenção de todos para eles, porém de
modo contraditório e negativo; (d) a repreensão de Paulo à mulher revela que
era possuída por um espírito enganador; (e) a articulação da mulher com homens
que a utilizavam como adivinha provoca a prisão dos dois missionários, por
intriga junto às autoridades romanas; (f) Paulo e Silas são açoitados e presos,
pondo-se a cantar na escuridão do cárcere, até que todo o quadro começa a
reverter-se, por influência direta do poder de Deus.
Essa foi a gênese de uma igreja, descrita em Atos 16:6-40. Algumas
lições, no contexto geral, precisamos contabilizar, observando como Paulo e
seus companheiros agiram, atentos ao resultado final, que se tratou da
consolidação de uma das comunidades mais maduras e rica em frutos da história
do Novo Testamento. Podemos concluir:
1. Situações de extrema dificuldade, quando parece que todos os fatores
são contrários à consolidação de uma comunidade, não se constituem em obstáculo
que impeçam seu florescimento;
2. O ponto de partida inicial para que uma comunidade se estabeleça é a
compulsão que determinados obreiros garantem sentir e constatar, que os conduz
a confirmar e impulsionar-se, com toda a certeza e garantia de que serão bem
sucedidos;
3. O compartilhamento do evangelho estabelece laços de amor entre
aqueles que o compartilham: quem se propõe a fazer, traz consigo traços do amor
de Deus, assim como se propõe a que outros experimentem esse mesmo amor e, uma
vez estabelecidos esses laços, está lançado o alicerce de uma autêntica
comunidade de Jesus, que o Novo Testamento denomina igreja.
Vamos acompanhar como se deu em Filipos e os resultados práticos dessa
história, espelhados nas páginas da Bíblia, no texto da carta aos Filipenses.
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