sexta-feira, 4 de novembro de 2016
Mal traçadas linhas 36
Cordeiro de Deus
O estrangeiro, Abrão, seu nome, chegou por aquelas terras, despertando curiosidade e certo receio. Era muita gente com ele: rebanhos, provisões, esposas na caravana, enfim, pareceu mesmo que escolhia canto onde ficar.
Era estranho. Na religião, por exemplo. Escolhia de seu rebanho o melhor ovino, de marca, e eventualmente o sacrificava num altar improvisado, um amontoado de pedras mal escolhidas, improvisadamente encaixadas umas às outras.
Dispunha a rês. Retirava dela o que, queimado pelo fogo, poderia render mau cheiro. O aroma que subisse tinha de ser suave e agradável. Viam de longe a fumaça da queima elevar-se ao céu.
Quem depois assuntasse as cercanias do altar, encontraria abandonado. Não que fosse santo o lugar, porque o homem era peregrino e não estabelecia santuários. Santo deveria ser o ofertante e a oferta, símbolo desse fundamento.
Estranho aquele estrangeiro. Não carregava consigo nenhuma imagem de seu deus. Quando interpelado, dizia que seu deus era Deus. Aquele que criou céus, terra, águas de cima, de debaixo da terra e o próprio homem e mulher a sua imagem, à imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou.
Certa vez retirou-se, sozinho, com o filho considerado único que tanto esperara ver nascido. Era cedo, pela manhã. Somente os três, ele, seu filho e um servo souberam o rumo. A certa altura, ficou o servo e seguiram pai e filho. Daquela vez, ele ia sacrificar, sim, novamente, mas não escolhera o novilho.
O menino perguntou, pai, e a oferta? Deus proverá para si, repondeu o pai. Cordeiro de Deus. Jesus disse que João era o maior entre os profetas, porque apontou Jesus e afirmou é o Cordeiro de Deus.
Nenhum sangue de nenhum animal, diante de Deus, lava, limpa, purifica do pecado. A não ser o sangue do Cordeiro de Deus. Estranho aquele homem. Era um peregrino que, por meio de seu despojado ritual, profetizava a vinda do Messias, do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
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