domingo, 6 de novembro de 2016
Artigos soltos 13
Teologia de ocasião.
Domingo, na chácara da igreja, dia de nossa escola dominical com crianças. Também nos reunimos para estudo bíblico com os adultos.
O caseiro, Manoel, crente arguto e muito curioso da Bíblia, argumentou com um caso que ouviu, certa vez, em sua juventude. Travou conhecimento com uma moça que lhe contou sua história.
Voltava, com duas colegas, as três em torno de 15 anos, da Lagoa Azul, um recanto em Porto Velho onde, segundo contou, caso caia uma agulha ao fundo, é possível enxergá-la, tão límpida é a água.
Dois homens raptaram-na, pois as colegas alcançaram fugir e, por cerca de cinco horas abusaram dela. Na conversa posterior com esse nosso interlocutor justificava por que não acreditava em Deus: havia todo o tempo implorado livramento, sem que fosse atendida.
Eis aí um problema teológico de difícil solução. Principal e objetivamente para a vítima. Pois o que esperava, de imediato e obviamente era que Deus evitasse ter sido ela seviciada por dois homens durante cerca de 5 horas.
Portanto, não há o que especular, senão fazer algumas generalizações e, a partir delas, definir o futuro da teologia, a existência ou não de Deus e o que esperar de outras situações semelhantes.
Primeira generalização: era de se esperar que, nesse caso e com relação a nenhum outro caso de estupros, Deus assistisse a tudo incólume. Portanto, não deveriam existir casos de estupros.
Segunda generalização: ora, não deveria existir nenhuma maldade à qual Deus assistisse indiferente. Deus deveria pôr fim a todas e quaisquer maldades, por antecipação, visto que não combina, pelo menos, com nossa opinião a respeito dele, que permita ou ainda assista a tudo impassivelmente.
Terceira generalização: esta agora em tom de advertência. Por definição, devemos ter o cuidado de não atribuir a Deus maldade. Ele é essencialmente bom e possui bondade ativa, ou seja, disposto a reparti-la, porém sem obrigar a ninguém que seja aceita.
Quarta (e última) generalização (por economia da paciência do leitor): liberdade e livre arbítrio são dotes com os quais Deus constituiu a raça humana, responsável e livre para agir, mesmo que de forma absolutamente reprovável, de extrema covardia e violência, como nesses casos.
Não eram homens. E nem chamem de animais, porque esses não fazem isso. Porém, toda raça humana não pode ser avaliada por esse ato. Há muitos, por enquanto, penso eu, uma maioria de homens que repugna esses atos contra a mulher.
Não podemos também avaliar Deus pela inatividade ao clamor dessa jovem. O caseiro esclareceu que um colega que ouvia a narrativa da moça, expondo as razões de seu descrédito da existência de Deus, contra-argumentou que, apesar de tudo e graças a Deus, ela estava viva.
Bom, é discutível que ela queira mudar sua oração, expressando-se grata, Deus, apesar de estuprada, estou viva. Avaliei fraquíssimo o argumento porque, bem sabe Deus, em outros casos houve estupros seguidos de morte. Não amenizou o problema da moça e nem resolve nossa dúvida a respeito da indiferença divina quanto à maldade humana.
Arrisco a quinta generalização: Romanos 5:15-21 explica como, por um gesto de um homem, Deus generaliza sua graça para todos os homens. Arrisco dizer que a resposta de Deus para todos os estupros é oferecer sua graça, tanto às vítimas, quanto aos agressores.
Escandaloso admitir isso? Pior será pôr em Deus a culpa por todos os estupros, pela indiferença e, genericamente, todos os demais atos de maldade do ser humano. É melhor supor que Ele ainda concede ao homem liberdade de escolha, esperando que sempre escolha o bem e escolha ser bom.
Difícil explicar isso à moça. Carregar a marca de um estupro deve, certamente, ser um dos maiores sofrimentos e cicatrizes da alma. O tempo se torna remédio, mas a memória cobra seu preço. Qual seria, então, o remédio para a maldade humana?
Tomara que Deus exista. Senão, não há remédio para a maldade humana. Será que a cura das cicatrizes de toda a maldade reside no perdão?
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