terça-feira, 11 de outubro de 2016


         
           União

         Na disciplina de Eclesiologia Denominacional, no Seminário onde estudei, no Rio, turma 1978-1981, as apostilas dessa matéria definem o jeito congregacional de ser igreja. Geralmente iniciavam com uma explicação detalhada das razões do nome União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil.

         Cada termo era definido e, em breves palavras, explicada a razão de ser do nome denominacional. Singelo. Na verdade, por mais que se avalie como óbvio, enunciar o nome de “dar nome”, “de + nominar”, ser uma “(de)nominação”, como ponto de partida da eclesiologia e de uma reflexão dos fundamentos bíblico-teológicos de sua definição, era uma etapa necessária aos calouros.

          Mais óbvio ainda é dizer que, se essa é a nomenclatura, vivenciá-la é parte constituinte da identidade, mais do que somente um nome. Seria hipócrita de nossa parte assumir um nome, em função de se propor eclesiologia, ou seja, definição de um modelo bíblico de igreja, sem que se cumpra o desafio bíblico de vivenciá-lo no mundo, na prática.

         Pretendo deter-me somente no primeiro vocábulo: união. Porque, quanto aos outros, ser "igreja", cada qual, cada unidade, de si, assume ser. "Evangélicas", ora, pelo menos em oposição histórica a ser “católica”, o primeiro nome delas foi “igreja evangélica”. Serem "congregacionais", também, de per si, o são, pois praticam um regime de escolhas eventuais como resultado de assembleias de membros onde a chance de propor é igual para todos.

         "Do Brasil", espaço geográfico onde se situam. Aliás, até, muito das peculiaridades do modo de ser “denominação” está relacionado ao “jeito Brasil” de ser. Mas esta não é a discussão aqui. E, sim, dizer que, de todos os vocábulos que definem o nome da Denominação, o primeiro deles, união, é aquele que, para sua devida autenticidade, depende de um milagre. Por si, haver união, já é um milagre.

        Porém, nunca será “milagre” do modo mágico que, costumeiramente, costuma-se entender. Porém, um esforço consciente e somente possível se um conjunto de fatores forem postos em ação. União será, primeiro, um desejo da maioria, sim, porque maioria é o que define decisões no congregacionalismo. Pode até ser que se, entre a liderança, houver essa disposição, ocorra uma corrente para essa essencial peculiaridade.

            Para "união", além de disposição, que outros fatores devem ocorrer? Sendo um milagre necessário e esperado, a natureza dessa união e a fonte inspiradora deverá ser, outra obviedade, a Bíblia. Tal característica pode ser procurada ao longo de todo o livro. Mas escolhemos Filipenses, para citar algumas etapas propostas pelo apóstolo àquela igreja:

(1) que o amor aumente mais e mais, 1:9, sem ele, não haverá milagre; (2) exortação em Cristo, consolação de amor, comunhão no Espírito e afetos e misericórdias há, 2:1, entranhados, nos atores dessa Denominação?; (3) pensar a mesma coisa, ter o mesmo amor, ser unido de alma, ter o mesmo sentimento, 2:2, que é o sentimento de Cristo, 2:5; (4) ausência de partidarismo ou vanglória, humildade em considerar o outro superior a si mesmo, não ter em vista o que é próprio do ego, mas enfatizar o que compete ao outro.

Precisamos desse milagre. Perseguir e criar condições para que ocorra. Não se trata, aqui, apenas de exercício de decisões ao nível local ou denominacional, porém um desejo individual e de todos, uma decisão pessoal que tem respaldo bíblico e que produz alegria geral, “completai a minha alegria”, diz Paulo, 2:2a, certamente alegria compartilhada pela própria Trindade. Essa ocorrência tem razão de ser em função de nossa identidade, assim como em função do que, biblicamente, significa ser igreja. 

        Caso não seja essa a nossa disposição, individual e coletivamente, não haverá milagre, não haverá união e a denominação, em si mesma, terá perdido sua identidade bíblica. Não conseguirá ser nem evangélica, porém apenas nominalmente, visto que "evangélico" está intrincado, entranhado em ser "unido". Pode até continuar sendo "congregacional", no nome e, individualmente, exercício da igreja local. Do Brasil, somos atores dentro dessa grande arena. 

         Dediquemo-nos à busca por esse milagre, pois só nos resta ser união (ou União). Caso não se verifique, entre nós, esse milagre, teremos que redefinir nossa visão bíblica, justificando que cada igreja local o seja por si, autoconvencida de que se basta a si mesma, vaidade das vaidades.
     




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