quarta-feira, 19 de outubro de 2016
Pastorais 2
Idas à Pedra.
A provocação e tema para as pastorais é nossa ida à Pedra, novembro próximo que, de si, já traz elementos metafóricos (e, como quase registrou o dicionário automático do meu smart, metafísicos).
Vou registrar, porque gosto do algarismo, três razões por que ir à Pedra se constitui num elemento metafórico-existencial-emblemático, pelo menos para alguns do grupo.
No primeiro sentido, ir a Pedra, para mim, desde muito cedo, constituiu-se num programa antes obrigatório, ao qual era sistematicamente conduzido por minha mãe, nos inesquecíveis 21 de abril da vida. E ironia entre ironias, num deles, em 1994 faltei, por estar na maternidade acompanhando o nascimento de meu filho.
E, à medida em que alcancei a idade da razão, mais agradável ainda se tornava a tarefa, ensejada, muitas vezes, dentro de antigos lotações alugados pelas congregacionais de Nilópolis ou Cascadura, daqueles com motor externo e tranco à manivela.
Cheguei a ver circular o bonde Pedra-Monteiro, se não me engano. Minha aproximação do que significa "denominação" passa por essas experiências. Pedra de Guaratiba, nos meus tempos, era programa para faixa etária de 0 a 100 anos.
A intenção também era boa, visto que a festa do dia visava fundos para uma obra social única e todas e diversas igrejas participavam, unidas, numa quermesse monumental, que chegou a revolucionar o bairro e ser lucro contado entre os moradores da região.
A empolgação do povo, as confraternizações do dia, o esforço conjunto, a motivação de nossos pais, as competições futebolisticas, cantores evangélicos, Rádio Copacabana, algum púlpito, políticos, enfim, virava Brasil, mas prevalecia o lado bom denominacional.
Uma outra aproximação, a segunda, nem tão inocente do que representa "denominação", tive oportunidade de presenciar, na medida em que me aprofundei nos meandros e outras entranhas dela, que não as de misericórdia.
Permiti-me ser feito pastor e, com isso, por breve espaço de tempo, experimentei o epíteto (pelo visto, cobiçado por tantos) de ter me tornado também "liderança denominacional".
Exceto por minha ingenuidade atávica, testemunhei, eventualmente, é claro, situações em que o conflito entre se posicionar "politicamente" (quase o dicionário do smart escreve "polidamente") e se portar biblicamente foi inevitável, porém eu mesmo questiono: foi mal ou bem contornado?
Ir a Pedra, já a terceira aproximação, também pode significar a busca por fundamentos. Denominação é resultado, já há 500 anos, no ano que vem, da Reforma. É necessário, inevitável e imprescindível buscar a Pedra e manter, entre si, uma "santa competição".
Como disse Paulo, no bom sentido, trata-se de uma "santa emulação". Se é saudável na igreja local, assim caminham, ou deveriam as denominações, ao longo da história. Sou, pessoalmente, resultado de uma delas. Por ironia, congregacional de pai e mãe porém, o que é historicamente típico delas, não caminhar unidas, ambos em denominações diferentes.
A teimosia de minha mãe, não admitindo ser batista, e sua influência maior do que a do pai, colocaram-me na denominação que se resolveu chamar "Congregacional", com todos os seus (e os meus e de todos nós) vícios e virtudes.
Então, ainda acho que elas profundamente fazem parte de minha formação, e da de muitos outros. Se entraram em crise nos dias atuais, a culpa não é delas, ideia subjetiva que são, mas dos atores que a compõem, entre quantos e tantos, eu mesmo.
Continuo achando-as, sim, historicamente, uma boa ideia: não dava pra continuar com todos os chamados "cristãos" num grupo só. Democraticamente, querendo ou não, desdobraram-se, adquirindo nome e personalidade.
Sempre vou querer debruçar-me sobre mim mesmo e sobre a minha denominação aliás, porque sou um pouco do que ela me fez. Confesso que minha mãe tinha dela uma visão mais romântica e como sinto já muita falta de nossas mais recentes discussões sobre ela.
Fico imaginando se há outro contexto, fora dessas associações, para se experimentar a fé. Por aqui, ao lado da congregação Congregacional que abrigamos em casa, ficam perto três versões modernas de "ministérios": Primeira Essência, Pentecostal Para as Nações e Adoradores da Verdade.
Classifico como legítima a sua denominação. Mas não enxergo, nessa alternativa, escapatória daqueles mesmos vícios e virtudes linhas atrás mencionados. E recomendo que se debrucem sobre mais essa tentativa de denominação, buscando fundamentos.
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