Salmo 4
Mais parecido com a espontaneidade de uma oração do que o anterior. Presente neste Salmo, (1) a presteza com que Deus atende ao clamor de seu servo, (2) a intensidade do clamor com que esse mesmo servo busca a face de seu Deus e (3) a tranquilidade final daquele que constata o modo como Deus protege e abriga consigo ao que o busca.
Esse tripé aparece entremeado por rompantes do salmista em que lições, no ritmo da formulação da oração, aparecem, decorrentes e coerentes com a temática principal da oração do salmista. É por isso que aparecem as expressões selah que os principais comentaristas definem como uma pausa poética própria para reflexão do sentido até ali expresso.
É desse modo que logo pós o clamor inicial do suplicante, o salmista encaixa a primeira lição decorrente da situação que ele mesmo experimenta:
CLAMOR DO SALMISTA DEUS QUE OUVE
CLAMOR DO SALMISTA DEUS QUE OUVE
Ouve-me meu clamor, Deus meu,
justiça minha;
angústia (minha), alargaste para mim;
(tem) de mim, misericórdia
ouve oração minha.
Logo após esse clamor inicial, o salmista se volta ao seu plenário, por meio de um aposto, através do qual são convocados, pelo próprio Deus, os "filhos dos homens", ou seja, a generalidade da condição humana, a refletir o modo como opera uma dupla troca glória (de Deus)/infâmia (do homem); amar vaidade/buscar mentira. Vaidade, não algo a que se apegar por amor e nem a mentira, algo que se busque com diligência (pelo menos, deveria ser assim):
DEUS O QUE FAZ O HOMEM
DEUS O QUE FAZ O HOMEM
Filhos do homem,
até quando (tornareis) glória minha difamada
amareis vaidade,
buscareis mentira.
Nos seguintes versículos, 3, 4 e 5, o salmista sugere o que tais homens devem fazer, de modo a corrigir esse seu erro, denunciado, agora, por esse clamor de Deus dirigido ao homem: que aprendam que (1) o Senhor distingue para si o piedoso, e aqui o salmista coloca-se como exemplo, quando afirma que por isso Deus ouve o seu clamor; (2) que se deixem perturbar em sua falsa estabilidade, falando consigo mesmos, reflexivamente com seu coração, em seu leito para atinar com seu erro (aqui o selah, que significa, exatamente, essa reflexão); e, por fim, (3) ofereçam sacrifícios de justiça, que significa, na cultura religiosa da época, ser internamente coerente com Deus antes de apresentar o sacrifício exterior como, por exemplo, ocorreu com Abel.
Como se ocorresse um diálogo, em meio ao salmo, irrompe um comentário a respeito de uma opinião de muitos, que poderiam contra-argumentar o modo como seria possível ser confrontado com o bem: Quem me fará ver o bem? A resposta do salmista é imediata: "Exalta sobre nós a luz da tua face, Senhor", quer dizer, toda a bondade resplandece, da parte de Deus, sobre nós, fazendo-nos enxergar o bem, assim como experimentá-lo. E o salmista encerra com as lições que pôde aprender, como resultado de sua experiência pessoal com Deus, afirmando que alegria e paz lhe são acrescentadas:
DEUS SALMISTA
DEUS SALMISTA
Puseste alegria no coração meu
(como) época (em que) trigo e vinho multiplicam-se.
E a alegria vem seguida da paz e tranquilidade do sono, que se revela tão preciosa, não somente no tempo e época do salmista, mas também nos dias de hoje. E a sentença, no original hebraico, está expressa por três vocábulos do mesmo campo semântico, literalmente (para ter) certeza + (para estar) seguro + me farás habitar. Certeza, segurança e abrigo certos dados por Deus, implicam o estado de shalom que, no hebraico, significa plena paz, em plenitude e variedade de situações. Além da alegria, tão desejada pelo ser humano mas que, para ser verdadeira, sem nenhuma simulação, precisa cobrir todas as circunstâncias, assim é o shalom permanente de Deus.
Versículo destaque: "Em paz
o descansar e o dormir
porque tu, Senhor, (com)
certeza, segurança me farás habitar."
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