quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Histórias de Itaocara com gente da terra - 3


Ponte sobre o Paraíba do Sul:
na época da construção, em 1936,
era a maior da América Latina.

E lembramos da arte de Dinair, que limpava com capricho os peixes que meu pai trazia para casa, no tempo em que lá residiu. E variamos então para as aventuras amorosas do Zezé. Segundo depoimento da filha mais velha, Dercília, ele namorou todas as irmãs mais velhas da caçula Odete com quem, enfim, casou.


Os irmãos Armando e Luzia não conheceram pessoalmente o Felicíssimo, pai das meninas que Zezé namorou, mas ouviram dele falar, pois era muito conhecido. Luzia conheceu Odete e as meninas mais velhas. Filhos todos com letra "D", repeti-os todos, de Dercília a Daniel, o caçula

E passamos a índicar os lugares de moradia: Gigante, Valão do Azeite, entre outros, como Gurupá, onde havia uma serra. Mencionamos o Rio Negro, onde as meninas foram batizadas. Contaram de uma ida ao interior, Luzia com suas sobrinhas, quando procuraram o rio para o banho, com todo o cuidado, mas desta vez foi o Rio Grande. Logo abaixo do lugar do banho havia um gogó, como chamam.

Para localizar o Rio Grande em relação ao Rio Negro, este para os lados da serraria, lembra Armando, ele menciona o Genésio Maurício de Aguar, afirma Armando, ainda hoje se pode ver a tapera onde se guardavam as bebidas, pois havia um alambique nessa região.

E cruzaram com um casal que ia em direção ao rio, fosse também para pescar ou, quem sabe, tomar um goŕó, num banho, como se chama aqui no Acre, quando retornavam. Luzia combinou com as crianças da turma, inclusive que, no dia seguinte chegariam mais cedo, para aproveitar melhor.

E souberam que o homem, andando para dentro da correnteza, foi advertido de que deveria voltar. Gritavam volta, Fidélis, volta mas ele, sem atender, foi arrastado pela correnteza para esse lugar que chamam gogó, que deve ser mesmo em referência ao aperto que existe no pescoço humano nessa altura do dito gogó.

Trata-se de um sumidouro, no fundo do rio. E por falar em Fidélis, lembramos do filho da família Macedo que, junto com meu tio Isaías, foi amamentado pela mesma mãe de um e ama de leite do outro. E chegamos à conclusão que o arrastado ao gogó do Rio Grande era um filho do Fidélis. Este, o pai, provavelmente ainda vivo, por lá.

Nessa apertura do rio, nem os bombeiros, mandados chamar, entraram para tentar resgatar o corpo do novel casado. Luzia explica como esse local, que aterroriza os que lhe conhecem a fama, consistia de uma superposição de pedras, que formavam um remoinho para uma garganta fatal, para quem por ali fosse tragado.

Todos conhecem e se previnem. Até que conseguiram ver, um corajoso que apareceu, a bainha da bermuda, por onde localizaram e retiraram o filho do Fidelinho, como era conhecido o entristecido pai, que formava com a irmã o casal de filhos. Tião Desidério, era o nome de outro rapaz, este filho do Gilberto, que também se afogou. Acostumado a atravessar o rio a nado. Criado por ali mesmo, era cheio de manha. Mas bobeou numa dessas.

Armando lembra de uma tentativa sua de atravessar, pelas pontas de pedra. Estava com Vivalho, esposo de Ilda que, pelo que lembram, mora por Campo Grande do Rio. Pois foi ele que socorreu Armando, num desses dias de desaviso. Mais acima se atravessava o Rio Grande por balsa. E Luzia com a mãe fez essa travessia. Como se chama no Acre o varejão, eram guiadas e alavancadas por um enorme bambu, calcado no fundo do rio.

E Armando arremata sobre um Prefeito de Itaocara, por mais de uma vez, Carlinhos, conhecido do Francisco, que instalou uma geringonça, na cabeceira da ponte, que permitia, por um cabo, alcançar a outra margem, ou seria uma ilhota no meio do rio.

Então se conta que dois entraram nesse cocho, mas não souberam manejar. Pois se escapuliu o container com os dois e lá se vão rio abaixo. Mas o final, desta vez, foi feliz. Encalharam numa pedra, de onde foram resgatados pelos bombeiros. E essas águas agora eram as do Paraíba do Sul. E terminamos destacando que, desta vez, um odor não muito cheiroso manchava os fundilhos das calças dos dois: borraram-se de medo.

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