1. Como era o seu dia a dia na época do governo militar no Brasil? A ditadura afetou algum aspecto do seu cotidiano ou de sua família?
1. A rotina de vida do dia a dia não foi afetada, em termos, porque não era muito perceptível em que o regime de exceção interferia nela. Mas havia situações que ocorriam escondidas, como censura a jornais e meios de comunicação, na época TV e rádios, prisões ilegais, perseguições políticas. Não eram permitidas aglomerações e protestos públicos. No dia em que os tanques saíram às ruas, no Rio de Janeiro, em 31 de março de 1964, meu pai ia para o Centro da Cidade para ver um novo emprego para ele: não pôde se deslocar de trem para lá.
2. Alguma notícia marcou você no período da ditadura? Qual?
2. Como já foi dito, as notícias eram como que filtradas, mas vazavam narrativas que denunciavam atos de violência, como foi o caso da invasão de um restaurante chamado Calabouço, em 28 de março de 1968, onde havia um protesto realizado por estudantes secundaristas (equivalente ao Ensino Médio). E nesse dia, num confronto com a polícia, morreu o estudante Edson Luís de Lima Souto.
3. Você ficou sabendo de pessoas que foram perseguidas no regime militar?
3. Sim. Eu tenho na família um primo de minha mãe, Paulo Lima Mattos, que foi preso e sofreu tortura, assim como o irmão caçula de meu pai, que foi interrogado em sua casa por militares. E havia uma amiga de meu pai, da qual só sei o primeiro nome (nem sei se é verdadeiro, porque às vezes as pessoas usavam codinomes), Rita, que com cara de assustada, aparecia em nossa casa e vivia de uma casa a outra, com medo de ser presa.
4. Casos de perseguição ou tortura eram do conhecimento de todas as pessoas?
4. Não. Esses casos só por conversas clandestinas. Na época da Guerrilha da Serra do Caparaó, por exemplo, às vezes chegavam notícias que a gente ouvia colegas de escola comentando, porque seus pais ou parentes conheciam essas histórias. Assim como a morte de Carlos Marighella ou, no Rio, o sumiço de Rubens Paiva.
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