sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Colinha para o Presidente

OPÇÕES DE ABORDAGEM PARA O DEBATE DE HOJE (COLINHA PARA O PRESIDENTE):


1. COLAR O JEFFERSON NO LULA:

O MENSALÃO DO PT FOI DETONADO NO INÍCIO POR UMA DENÚNCIA DO JEFFERSON. ELE SE SENTIU TRAÍDO PELO PT. SEMPRE FOI ALIADO DO PT E FOI TRAÍDO, COMO É COMUM O PT FAZER.

2. PROVA DE QUE O PT É INCOERENTE E NÃO CONFIÁVEL A CAMPANHA TEM MOSTRADO: O ALCKMIN JÁ FOI CONSIDERADO "DE DIREITA" PELO PT E INIMIGO. ELE MESMO DIZ QUE LULA QUER VOLTAR À CENA DO CRIME. MAS AGORA O PT QUER MOSTRAR QUE SEMPRE FOI AMIGO. MUI AMIGO! VAI TRAIR COMO SEMPRE.


3. OUTRA PROVA DE TRAIRAGEM: COMO É QUE PODE ESSE PESSOAL DO "PLANO REAL" COLAR NO PT? QUE FALSIDADE!!! QUE INCOERÊNCIA!!!! O PT VOTOU CONTRA O PLANO REAL. VAMOS REPETIR: O PT VOTOU CONTRA O PLANO REAL. HIPOCRISIA DESSES FALSOS ALIADOS DE OCASIÃO.


4. ISSO SIM É MENTIRA INSTITUCIONAL. O PT QUER METER DE NOVO A MÃO NO DINHEIRO. PORQUE SE NÃO QUERIA O PLANO QUE MELHOR EQUILIBROU O ORÇAMENTO DO PAÍS, NA ÉPOCA DO ITAMAR E QUE ELEGEU FHC, PARA QUE ENTÃO O PT QUER DINHEIRO? NÃO É PARA BENEFICIAR O BRASIL

5. E COMO FHC, CONTRA QUEM O PT SE LEVANTOU SEMPRE, QUESTIONANDO DESDE A APROVAÇÃO DO PLANO REAL, AGORA SE UNE AO PARTIDO DE ESQUERDA, QUE SEMPRE FOI POLARIZADO COM ELE? E NESSE MESMO VÍDEO A INDIGNAÇÃO DELE CONTRA AS MENTIRAS QUE O PT LEVANTOU CONTRA MARINA SILVA, OUTRA INCOERÊNCIA DA CAMPANHA DO PT.


6. INDICAR QUE OS PAÍSES DE ESQUERDA, NOS ÚNICOS LUGARES ONDE ELA ESTÁ PRESENTE, SÃO ANTIDEMOCRÁTICOS, PERSEGUEM QUEM DISCORDA DO GOVERNO, COMO NA RÚSSIA, FECHARAM-SE JORNAIS E A TV NÃO PODE DIVULGAR VERDADES E CHINA, ONDE A INTERNET É CONTROLADA. A EUROPA NÃO SERVE COMO EXEMPLO DE SOCIAL-DEMOCRACIA, PORQUE É ALIADA DA OTAN.

https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/jornal-russo-independente-e-multado-por-abusar-da-liberdade-de-imprensa/



7. PERSEGUIÇÕES CONTRA QUEM PROTESTA CONTRA O GOVERNO SOMENTE ACONTECEM EM PAÍSES DE DITADURAS ATUAIS DE ESQUERDA, TÃO NOCIVAS E IDÊNTICAS ÀS DE DIREITA: COM UMA ÚNICA DIFERENÇA: AS DE ESQUERDA AINDA EXISTEM.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Quando eu tinha 7 anos

 1. Como era o seu dia a dia na época do governo militar no Brasil? A ditadura afetou algum aspecto do seu cotidiano ou de sua família?

1. A rotina de vida do dia a dia não foi afetada, em termos, porque não era muito perceptível em que o regime de exceção interferia nela. Mas havia situações que ocorriam escondidas, como censura a jornais e meios de comunicação, na época TV e rádios, prisões ilegais, perseguições políticas. Não eram permitidas aglomerações e protestos públicos. No dia em que os tanques saíram às ruas, no Rio de Janeiro, em 31 de março de 1964, meu pai ia para o Centro da Cidade para ver um novo emprego para ele: não pôde se deslocar de trem para lá.

Os tanques nas ruas, no Rio de Janeiro, em 1964

2. Alguma notícia marcou você no período da ditadura? Qual?

2. Como já foi dito, as notícias eram como que filtradas, mas vazavam narrativas que denunciavam atos de violência, como foi o caso da invasão de um restaurante chamado Calabouço, em 28 de março de 1968, onde havia um protesto realizado por estudantes secundaristas (equivalente ao Ensino Médio). E nesse dia, num confronto com a polícia, morreu o estudante Edson Luís de Lima Souto.

Protesto no Restaurante Calabouço, em 1968

3. Você ficou sabendo de pessoas que foram perseguidas no regime militar? 

3. Sim. Eu tenho na família um primo de minha mãe, Paulo Lima Mattos, que foi preso e sofreu tortura, assim como o irmão caçula de meu pai, que foi interrogado em sua casa por militares. E havia uma amiga de meu pai, da qual só sei o primeiro nome (nem sei se é verdadeiro, porque às vezes as pessoas usavam codinomes), Rita, que com cara de assustada, aparecia em nossa casa e vivia de uma casa a outra, com medo de ser presa.

Meu tio Isaías Barcelos de Oliveira, interrogado por militares em sua casa

4. Casos de perseguição ou tortura eram do conhecimento de todas as pessoas?

4. Não. Esses casos só por conversas clandestinas. Na época da Guerrilha da Serra do Caparaó, por exemplo, às vezes chegavam notícias que a gente ouvia colegas de escola comentando, porque seus pais ou parentes conheciam essas histórias. Assim como a morte de Carlos Marighella ou, no Rio, o sumiço de Rubens Paiva.



      
Carlos Marigella e Rubens Paiva

5. Qual era a sua opinião sobre a ditadura militar naquela época? Atualmente, a sua opinião é a mesma ou mudou?

5Não somente a ditadura militar no Brasil, mas também as de outros países, na América Latina, que eram Ditaduras de Direita, mas também as Ditaduras de Esquerda, que existem até hoje, devem ser combatidas, rejeitadas e repudiadas. Os dois tipos de Ditaduras cometem os mesmos desmandos, as mesmas violências, como censura, perseguição política e tortura. Há países onde, mesmo hoje em dia, não se pode fazer protestos nas ruas contra o governo, há censura na internet, jornais são fechados e a TV somente divulga notícias que o governo permite. Até igrejas são controladas pelo Estado. Exemplos são a China, onde, em 1989, na Praça da Paz celestial, centenas de jovens foram mortos porque protestavam contra o governo chinês. Atualmente, na Rússia, foi fechado o único jornal independente que fornecia notícias da guerra contra a Ucrânia. Lá o governo russo não permite que sejam divulgadas notícias da guerra. E em Cuba, país da América do Sul, também recentemente a polícia reprimiu protestos nas ruas contra o governo.
Um estudante anônimo e heroico enfrenta os tanques do exército chinês, em 1989

Cid Mauro Araujo de Oliveira,
65 anos.

domingo, 23 de outubro de 2022

Instituto Ecumênico Fé e Política: agora e talvez depois

   O Instituto Ecumênico Fé e Política, desde sua fundação, é um marco decisivo para a discussão do valor idêntico de cada religião e da necessidade de todas discutirem aproximação, conivência, denúncia e respeito na luta pela fraternidade religiosa.

   Os representantes das religiões aqui no Acre se mostraram maduros e buscaram esse objetivo, constituindo-se num referencial para os adeptos dessas confissões. O lançamento da Cartilha da Diversidade Religiosa e o incentivo e presença no referencial para o Ensino Religioso reafirmam isso.

     Houve também uma fase em que o apoio político, algo que consta no próprio nome do Instituto, concorreu para o sucesso e a marca dessa influência positiva na sociedade acreana.

    Porém, com a polarização que a ascensão do bolsonarismo provocou, aliada a uma ausência de senso crítico da parte do grupo que foi alijado e afastado do poder, configurou-se no Instituto uma parcela tendenciosa de análise, sempre priorizando um dos lados dessa polarização. Ele deixou de oferecer solução, e passou a ser problema, porque assumiu um dos lados da polarização.

    O teste para que o Instituto que, como se costuma afirmar, pretendia ser suprapartidário, colocando-se, inclusive, como um referencial mediador dessa fase, um lugar onde fosse possível discutir erros e acertos, aspectos positivos e negativos dos dois lados, desenvolvendo um olhar equilibrado, crítico e imparcial, nesse aspecto houve falha grave.

   Daí o Instituto ter se tornando um elemento a mais da crise e não o referencial de solução para ela. O que o Instituto Ecumênico Fé e Política representou para as religiões, tornando-se uma referência obrigatória (para se usar esse termo) de agregamento de diferentes religiões, discussão e equilíbrio consciente de relacionamento, assim não se constituiu na política.

   Portanto, ainda que, como deseja e assume o Instituto, o candidato que ele prioriza, ao nível nacional, vença as eleições, a marca tendenciosa fica colada nele. Como referencial político de discussão plural, acolhimento do diferente e discussão isenta do que é positivo e negativo para o país (e para o Estado), o Instituto não mais se tem colocado como imparcial.

   Vejo possibilidade de mudança, se o Instituto praticar o que sempre fez no que se refere à religião. Se puder aplicar à política toda a experiência que obteve no contexto religioso, talvez conquiste essa imparcialidade.

   Mas se apenas continuar a ser, transformando-se definitivamente, como tantos outros órgãos de imprensa e outras agências de referência na sociedade, continuando a priorizar um dos lados dessa polarização, vitimizando-o, e criminalizando de modo acusatório todos da outra parte dessa mesma polarização, o Instituto não mais será um órgão de mediação, mas se tornará um lugar de Inquisição.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Histórias de Itaocara com gente da terra - 3


Ponte sobre o Paraíba do Sul:
na época da construção, em 1936,
era a maior da América Latina.

E lembramos da arte de Dinair, que limpava com capricho os peixes que meu pai trazia para casa, no tempo em que lá residiu. E variamos então para as aventuras amorosas do Zezé. Segundo depoimento da filha mais velha, Dercília, ele namorou todas as irmãs mais velhas da caçula Odete com quem, enfim, casou.


Os irmãos Armando e Luzia não conheceram pessoalmente o Felicíssimo, pai das meninas que Zezé namorou, mas ouviram dele falar, pois era muito conhecido. Luzia conheceu Odete e as meninas mais velhas. Filhos todos com letra "D", repeti-os todos, de Dercília a Daniel, o caçula

E passamos a índicar os lugares de moradia: Gigante, Valão do Azeite, entre outros, como Gurupá, onde havia uma serra. Mencionamos o Rio Negro, onde as meninas foram batizadas. Contaram de uma ida ao interior, Luzia com suas sobrinhas, quando procuraram o rio para o banho, com todo o cuidado, mas desta vez foi o Rio Grande. Logo abaixo do lugar do banho havia um gogó, como chamam.

Para localizar o Rio Grande em relação ao Rio Negro, este para os lados da serraria, lembra Armando, ele menciona o Genésio Maurício de Aguar, afirma Armando, ainda hoje se pode ver a tapera onde se guardavam as bebidas, pois havia um alambique nessa região.

E cruzaram com um casal que ia em direção ao rio, fosse também para pescar ou, quem sabe, tomar um goŕó, num banho, como se chama aqui no Acre, quando retornavam. Luzia combinou com as crianças da turma, inclusive que, no dia seguinte chegariam mais cedo, para aproveitar melhor.

E souberam que o homem, andando para dentro da correnteza, foi advertido de que deveria voltar. Gritavam volta, Fidélis, volta mas ele, sem atender, foi arrastado pela correnteza para esse lugar que chamam gogó, que deve ser mesmo em referência ao aperto que existe no pescoço humano nessa altura do dito gogó.

Trata-se de um sumidouro, no fundo do rio. E por falar em Fidélis, lembramos do filho da família Macedo que, junto com meu tio Isaías, foi amamentado pela mesma mãe de um e ama de leite do outro. E chegamos à conclusão que o arrastado ao gogó do Rio Grande era um filho do Fidélis. Este, o pai, provavelmente ainda vivo, por lá.

Nessa apertura do rio, nem os bombeiros, mandados chamar, entraram para tentar resgatar o corpo do novel casado. Luzia explica como esse local, que aterroriza os que lhe conhecem a fama, consistia de uma superposição de pedras, que formavam um remoinho para uma garganta fatal, para quem por ali fosse tragado.

Todos conhecem e se previnem. Até que conseguiram ver, um corajoso que apareceu, a bainha da bermuda, por onde localizaram e retiraram o filho do Fidelinho, como era conhecido o entristecido pai, que formava com a irmã o casal de filhos. Tião Desidério, era o nome de outro rapaz, este filho do Gilberto, que também se afogou. Acostumado a atravessar o rio a nado. Criado por ali mesmo, era cheio de manha. Mas bobeou numa dessas.

Armando lembra de uma tentativa sua de atravessar, pelas pontas de pedra. Estava com Vivalho, esposo de Ilda que, pelo que lembram, mora por Campo Grande do Rio. Pois foi ele que socorreu Armando, num desses dias de desaviso. Mais acima se atravessava o Rio Grande por balsa. E Luzia com a mãe fez essa travessia. Como se chama no Acre o varejão, eram guiadas e alavancadas por um enorme bambu, calcado no fundo do rio.

E Armando arremata sobre um Prefeito de Itaocara, por mais de uma vez, Carlinhos, conhecido do Francisco, que instalou uma geringonça, na cabeceira da ponte, que permitia, por um cabo, alcançar a outra margem, ou seria uma ilhota no meio do rio.

Então se conta que dois entraram nesse cocho, mas não souberam manejar. Pois se escapuliu o container com os dois e lá se vão rio abaixo. Mas o final, desta vez, foi feliz. Encalharam numa pedra, de onde foram resgatados pelos bombeiros. E essas águas agora eram as do Paraíba do Sul. E terminamos destacando que, desta vez, um odor não muito cheiroso manchava os fundilhos das calças dos dois: borraram-se de medo.

Histórias de Itaocara com gente da terra - 2

Antunico meu avô, contava que a encontrou minha avó, para casar, numa fazenda de um tio dele, Inácio, irmão do pai dele. Fora do Faroppe. Para os lados de Santa Maria Madalena, onde moravam. Ele perguntou quem era a menina.

Esse tio Inácio foi aquele que, certa vez, procurando um escravo fugido, foi surpreendido pelo escravo que, com uma borduna, quebrou-lhe a espingarda. Quer dizer, ficou desarmado diante de um escravo com um porrete nas mãos. Não se intimidou: abaixa isso, larga essa valentia. E resolveu na moral que tinha.

  O cara amainou, pegou da espingarda espigaçada e voltaram escravo e dono para a fazenda. E é esse Inácio a quem Antunico meu avô vai pedir a futura esposa. Ele mandou o sobrinho se arrumar primeiro e voltar: passa depois.

Ele, pois, volta e casaram. Ela arranjou vestido de chita. Quem eram esses? Eram meu avô e minha avó. Ah, sim, moravam lá para os lados do Valão dos Índios, do Córrego dos Índios, digo eu... Sim, confirmo. Assim disse meu pai. Certo, como quem ia para o Ponto Pergunta, sugere Armando.

Para os lados da casa do Jair. Ali era o Valão do Azeite. Eu rio e confirmo que esses nomes estão no livro. Assim como Gigante, Gordura e arremato: meu pai foi estudar na fazenda da Moreminha, em Santa Maria Madalena. Assim conta Jani, irmã dele. Está no livro.

Cid acabou por não se adaptar, porque muito cedo tinha que se arrastar no capim gordura, talvez esse nome, molhado, para alcançar animais no pasto. Ora, era estudante ou o quê? Lembrei de neu avô chegar a casa enfurecido:

Esse menino é avoado. Começa a capinar e logo, logo se distrai. Avoado. Então Adalgiza, a mãe, profetizou: Não adianta brigar com Cid, que ele não vai ser lavrador. Vai ser pastor e doutor. Ora, deve ter estudado, nessa época, junto com o meu marido, Pedro Castelar, supõe Luzia, irmã de Armando.

Porque ele ia para a roça trabalhar, eu não, que eu estava ainda na casa de meu pai. Distância da escola mais longe do que de Tancredo Neves a Campo Grande, olha, 5 distâncias de estações de trens no Rio. Ir e voltar, da escola, e largar os cadernos para ir para a roça trabalhar.

Ora, se era para ser roceiro, para que ir para a escola? Meu pai falava de um tal de João Viana, que dava aula particular por aluno, que foi o pirmeiro professor do Cid. A mãe Adalgiza disse: Vou vender umas criações a pagar esse professor para dar aula para esse menino.

Será que foi do Pedro também? Ah, sim, a do Pedro foi d. Odete Brás. Ah, sim, a Odete, faz menção o Armando. Ele ia para a roça, conta agora a esposa, e, chegando lá, sentava no cabo da enchada e pegava as folhinhas do caderno. Assim contavam as irmãs dele, cunhadas de nossa narradora.

Sim  a mesma vocação de meu pai: nada com a roça. Meu pai vendeu a roça que numa última tentativa, o pai havia arrendado a ele, ao irmão Zezé. Rumou para a cidade grande e, no meio de uma crise, mandou carta ameaçando retornar ao rincão. Mas a família já havia percebido que não era por lá o lugar dele: Volte não, diziam, volte não.

Meu marido foi meu primeiro namorado. Eu ainda garotinha e ele andando por lá. Eu nem sabia o que era namorar. Então era ele só que namorava. Aí o irmão dele, pra meu pai, olha, compadre Samuel, não deixa Cumadre Luzia, que eu já era madrinha do filho dele, não deixa ela casar com Pedrinho não, que ele é muito preguiçoso.

Ora, pela avaliação de lá, quem pendia para os estudos, ficando longe da labuta no roçado, era preguiçoso. Não vai conseguir sustentar família não. Meu pai nem se envolvia na vida da gente. Mas minha mãe, era tesourinha, cortava rente, de um tudo, e logo decidiu: vamos acabar com esse namoro. E eu então logo defini: olha, se eu não caso com esse, não caso com mais ninguém. Como diz a modinha: "É o amor...". 🎶

Pois Pedro, à frente de Cid, meu pai, foi sim um lavrador. Mas por pouco tempo. Porque não ficaram, Luzia e Pedro, nem um ano casados na roça. Ele foi para o Rio de Janeiro primeiro, era a capital do país, para arrumar emprego e casa. Ela veio depois, já com barrigão de gravidez, para o Morro do Juramento, região de Vicente de Carvalho. Meu marido, trabalhando, nasce o nosso filho, ele veio em casa para ver.

Moravam perto da tia Ciana. Lá vem mais história boa. Ele foi em casa almoçar, e já estava eu com o bebê no canto da cama. Porque minha tia e meu tio saíram de sua cama de casal, foram dormir no chão, para que eu parissse ali em cima da cama deles.

Eu fiquei os 30 dias do resguardo usando a cama deles. Ele vem a casa, o desligado de plantão, almoça e diz aos tios, já estou indo. E a tia: você vai pra onde, pai Pedrinho? Ora, trabalhar. E ela: você não vai ver o seu filho não? O máximo de desligamento.

Ué, nasceu? Claro, Pedrinho: quando você saiu para o trabalho ela já apresentava contrações. Emanuel, sugestivo nome do primogênito. E a tia: e antes de sair, vai no armazém e compra uma galinha bem gorda para a canja da parturiente. E o deslidado foi lá, sim, é, nasceu, não é? E a tia já havia estabelecido as coordenadas para a tradicional canja. Era de lei.

Pois foi comprar a galinha, a tia fez, até ele provou com a esposa. E lembrei do nascimento de Nice, a minha tia Eunice, que, ao nascer, pela demora da chagada da avó Dorcas, a irmã mais velha Dorcas também, minha mãe, foi fazer, com o irmão mais velho, uma canja, saborosíssima, mas com alguns fiapos das penas da franguinha.

Distrito de Laranjais

Antiga Estação de Batatal

Histórias de Itaocara com gente da terra - 1

Como foi a encrenca do Neném Costa? Mas o Armando já contou alguma coisa? Não. Está pedindo para vc contar.

Nessa época éramos muito crianças. Para saber alguma coisa... A gente ouvia falar por alto. Mas o que eu sei é que foi por causa de umas espigas de milho.

Parece que o Zezé pegou umas espigas de milho do tio Neném. Plantava, assim, na beira da estrada. Fosse amendoim, fosse milho. Vinha do baile, das festas, passava a mão, assim, macio, e começava a comer.

Houve a afronta, de tio Neném, então foi a casa, pegou da espingarda e acertou o pulmão do tio Neném.  E tio Neném pobre, casado, cheio de filhos, ferido, em cima da cama. Diz que o cheiro da infecção ia longe...

Foi por pouco que ele não morreu. Tio Zezé contava isso chorando, anos e anos depois. Eu vi. Contava para meu pai e começava a chorar. Meu pai dizia, Zezé, isso era coisa de quem não era crente. Mas Cid, como fui fazer isso? Mas você agora é convertido, Zezé.

Ele ficou bom e viveu muitos anos. Convertido também. Isso não sei. Mas a Dercília, a filha mais velha de Zezé, contou-me essa história. Mas sim, parecida com essa minha.

Vai que seja, porque essa do milho surrupiado ela não contou. Lado ruim do pai... Hahahaha...Nada, emenda Luzia: Não era ruim. Era comum. Você vinha, de madrugada, de uma festa em que não comeu nada, aí, passa na beira da estrada, aquela espiga bonitona ali, nem leva pra casa, para assar, nem nada.

Essa história da espiga não contou. Mas a do sitiante que tinha seus cachorros ela contou. E um deles mordeu dois dos filhos de Zezé. Ora, na casa de tio Neném tinha cachorros. Certo. Mas acho que, desta vez, não foram eles não.

Aí a encrenca cresceu. Que vai acertar contas, essas coisas, e o dono dos cachorros matou o que mordeu. Embora sem nada demais, uma mordida na altura do pulmão em Delacir, e uma dentadinha nas nádegas de Dinair, mas nada demais, estão vivos e sadios até hoje.

E o cara disse que sobrava uma bala para quem mais viesse resolver. Mas Zezé nessa época, já conta meu pai, estava agarrado com a Bíblia, virou um cara manso, decidido e corajoso, mas manso.

Mas conta que Dianair, muito bonita, como eram todas as filhas de Zezé, acho que minha avó era mistura de negra com índio, o que dizem, vocês que a conheceram? Não. Já falecera quando nascemos. 

sábado, 8 de outubro de 2022

Salmo 5

Salmo 5. Oração de um justo. Davi ora (5:1-3) novamente, no mesmo ambiente de culto, enfatizando o modo como Deus rejeita o pecado (5:4) e faz diferença entre: (A) o ímpio, (1) que age como louco (1 Co 1:18-25) e pratica a maldade (5:5), além de (2) ser mentiroso, sanguinário e fraudulento (5:6) e (3) não andar em retidão, mas em hipocrisia e falsidade (5:9) diante do Senhor; e (B) o justo que, por sua vez, (1) é acolhido (5:7) e sempre procura (Sl 84:1-4) o Templo do Senhor, (2) aceita ser guiado (5:8) pelo Senhor (Sl 23:3-4) e (3) tem permanente alegria, exulta, ama e é defendido pelo Senhor (5:11). Diante dessa triste opção (Jo 3:18-19) dos ímpios, Davi implora (5:10) que Deus os declare culpados mas, certamente, cercará o justo de cuidados e proteção, como por um escudo (5:12).

Salmo 4

Salmo 4. Oração de apelo à sensatez. Uma oração de Davi (4:1) transforma-se, no momento de culto, num apelo a homens que (1) menosprezam a glória do Senhor (4:2) ou (2) são incrédulos na busca pelo bem (4:6). Davi os adverte que, em Sua soberania, (1) Deus separa para si o fiel, (2) ouve o seu clamor (4:3) e (3) enche de alegria o seu coração (4:7). Mais uma vez a consciência tranqüila do justo (4:4) e sua paz ao dormir (4:8) são indicadores de sua fidelidade ao Senhor e sabedoria em refletir na Palavra de Deus (Sl 1:2). Davi exorta a oferecer sacrifícios (4:5), não apenas como formalidade do culto (Sl 51:16-17), mas que ocorra a verdadeira resposta de fé, que é a conversão do pecador arrependido ao apelo do Senhor (Sl 51:10-13).

Salmo 3

Salmo 3. Oração de um pai amoroso. Davi é o autor de quase 50% dos Salmos. Este é uma ‘oração por livramento’ da época em que o rei era perseguido (2 Sm 15-18) por seu filho Absalão (os títulos não em negrito são originais): (1) súplica (3:1-2) por livramento (selah, pausa); (2) descanso no Senhor (3:3-6); (3) louvor pelo socorro obtido (3:7-8). A paz de Davi se reflete na tranqüilidade do sono (3:5) e na certeza de que não precisa ter medo (3:6). Ele está certo que sua oração penetra os ouvidos de Deus (3:4) e tem total certeza de que Ele mesmo intervém (Sl 121:1-2) e livra dos inimigos (3:7). A salvação, em todos os sentidos, (1) seja do perigo (Sl 121:6) imediato, (2) seja a salvação da alma (Sl 121:7) tem sua origem no Senhor, porque Sua bênção é permanente (3:8).

Salmo 2

Salmo 2. Uma oração sem resposta. Este ‘salmo messiânico’ foi usado pela igreja primitiva em seu culto, no tempo de perseguição (At 4:23-31), porque mostra, em relação ao Messias: (1) sua rejeição (2:1-3); (2) sua identidade (2:4-7); (3) seu juízo (2:8-12). Os crentes não compreendiam como era possível rejeitar Jesus e ainda perseguir os que anunciavam Seu amor. É também usado (2:7) pelo autor de Hebreus em sua argumentação sobre a divindade de Jesus (Hb 1:5-14) e também menciona o espanto dos reis (2:10-12) com a glória do Messias (Is 52:13-15). Todo joelho se dobrará (Fp 2:9-11) perante o Filho, havendo chance de arrependimento até para quem rejeitou (Zc 12:10). Uma bem-aventurança há para os que confiam em Jesus (2:12).     

     Por que se enfureceram os gentios                            E os povos imaginaram coisas vãs     
                  
          Levantaram-se os reis da terra
                                   e as autoridades
        
          Ajuntaram-se a uma
                                contra o Senhor
                                 e contra o seu Ungido".

    Quando nos referimos a paralelismo, na poesia hebraica, é com relação a um modo de expressão em que aparecem em dupla, em linhas paralelas os conceitos indicados, reforçando-se entre si. No caso da citação do Salmo 2, em Atos dos Apóstolos, são eles: 

Por que
                           
se enfureceram os gentios // 
os povos imaginaram coisas vãs; 

levantaram-se os reis // 
autoridades ajuntaram-se; 

contra o Senhor // 
contra seu Ungido.

        Os conceitos desse Salmo são usados, também, em Hebreus 1:5-14, citações equivalentes de Hebreus 1:5 e Salmo 2:7, como prova da divindade de Jesus, em sua filiação divina, exatamente a unidade deste Salmo que o marca como indicativo da pessoa de Jesus como Messias e o classifica como Salmo Messiânico, em 2.7.

Proclamarei o decreto do Senhor: 
Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.

          O ponto central aponta para a rejeição de Jesus como fato que não se pode entender e razão da necessidade da oração que vai sustentar os crentes nas tribulações que sofrerão em nome de Jesus, como os mesmos apóstolos em Atos 5:41, quando se regozijaram, não porque houvessem sofrido punição física de açoites, mas porque reconheciam sua identidade com Jesus em seus sofrimentos - ver também Colossenses 1:24, quando Paulo interpreta desse mesmo modo as provações que enfrentava.

SUBDIVISÕES
         
  1. Nos versículos 2:1-3, o enredo trata de perguntar por que os povos se enfurecem contra o Ungido de Deus; 
   2. em 2:4-9, Deus, o Pai, ri-se dessa rebelião, constituirá seu Filho rei sobre todas as nações e ele haverá de regê-las com vara de ferro;
   3. Em 2:10-12 há uma advertência aos reis para que beijem, ou seja, bajulem o Filho, porque talvez possam escapar de sua ira. 

    Lamentavelmente não pertencem ao grupo dos que creem no Ungido de Deus e que, portanto, por essa razão, são bem-aventurados.

NOTAS HOMILÉTICAS

   Num uso deste Salmo 2 para sermões ou estudos bíblicos, é possível destacar 4 pontos principais a respeito do Messias de Deus: 

(1) profecia de sua rejeição: 2:1-3; 

(2) profecia de sua identidade: 2:4-7;

(3) profecia de seu reinado às nações: 2:8-9;

(4) profecia de como os grandes falharam em rejeitá-lo, 2:10-12, com uma bem-aventurança final para os que nele creem.

          Versículo destaque:      

 "Servi ao Senhor
                                        com temor
                                 
  e alegrai-vos
                                         com tremor."



Salmo 1

Salmos notáveis (1).

    Salmo 1 - Origem das bênçãos do justo. Introdução ao Livro dos Salmos (saltério, tehillim, cânticos), coleção de 150 poemas, orações ou hinos, cada qual de um subgênero literário, um salmo de sabedoria anônimo, muito provavelmente composto ou colocado porpositadamente como introdução a todo o saltério.

   Isso porque nos lembra a necessidade vital de ler e nos alimentarmos da Palavra, dia e noite. O termo 'ashrey ha'ish significa "toda a alegria do homem", traduzido "bem-aventurado", revela a origem das bem-venturanças de Jesus (1:1-2), pois o justo troca a gradação que conduz à perdição (‘andar’, ‘deter-se’, ‘assentar-se’ no pecado) pelo prazer na Lei do Senhor. Demonstra o livramento que isso significa para o crente, livrando-o de uma progressão faltal: andar, deter-se e sentar em meio a ímpios, pecadores e escarnecedores.

    O fruto-resultado dessa opção pela Palavra de Deus é ‘árvore plantada junto a ribeiros de águas’ (Jo 7:37-38). Além das bem-aventuranças (Mt 5:1-12), o fruto do Espírito (Gl 5:22-23) e as virtudes da fé (2 Pe 1:3-8) formam a personalidade do cristão. A distinção final indicada por Malaquias (Ml 3:18) aponta para o juízo do ímpio e a intimidade eterna do justo (1:4-5).   Essa imagem central, das mais lindas da Bíblia, compara o justo a uma árvore bem plantada. Não se sabe se foi Jeremias o autor, em Jr 17:8, ou se este salmo é a fonte, em 1,3. Mas remete ao que Jesus diz em João 7:38 ou mesmo Ezequiel 47: rio de água viva ou torrente arrebatadora: "árvore plantada junto a ribeiros de água, dando fruto a cada estação, cuja folhagem não murcha". Aqui está a verdadeira prosperidade, segundo ensina a Bíblia.

SUBDIVISÕES:

1. Quão feliz homem ou mulher: toda a alegria deles, se fizerem a opção: Não/andar/caminho/ímpios, Não/deter-se/caminho/pecadores, Não/assentar-se/roda/escarnecedores: 1.1;

2. Contraponto, destaque de sua preferência, razão e sustentação da escolha feita: Muito ao contrário, onde esse homem ou mulher tem o seu prazer, a sua predileção e consomem seu tempo: 1,2;

3. Toda a detalhada característica da personalidade desse homem, dessa mulher que fez tal opção, patente o resultado e fruto da preferência deles: raiz numa corrente de águas, com fruto, folhagem e autêntico sucesso 1,3;

4. Revelada a personalidade ao inverso: Não/Sim, em tom de lamento, no contraste justo/ímpio: Não assim os ímpios: não árvore, porém palha dispersa, espalhada ao vento, destino lacônico: 1,4;

5. Distinção final justo e ímpio e suas consequências: perverso não prevalece (fixa raízes) no juízo, pecadores fora da congregação dos justos. Caminho do justo reconhecido, caminho do ímpio dispersivo, descaminho, desfeito, perecível: 1,5-6.

NOTAS HOMILÉTICAS:

(1) Toda a alegria sobrevém a quem não aceita graduar:

a. andando em conselho de ímpios; 

b. detendo-se no caminho de pecadores;

c. assentando-se na roda de escarnecedores.

(2) Porque opôs sua escolha a ter prazer na Lei do Senhor diuturnamente, para ser como:

a. árvore bem plantada;

b. retira das águas da vida seu suprimento;

c. nunca murcha a folhagem;

d. dá fruto dentro e fora da estação;

e. essa é a marca da verdadeira prosperidade.

(3) A escolha inversa caracteriza que:

a. ímpios são como palha dispersa, sem fruto;

b. perversos não prevalecem no juízo;

c. nem pecadores na congregação dos justos;

d. Deus distingue: conhece o caminho dos justos; o caminho dos ímpios perecerá.

     

      Versículo-chave:

                          "Cheio de alegria 

                     o homem (a mulher)

               cujo prazer está na lei do Senhor".



sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Igrejas por onde passei - 2

    Por ironia, Cascadura. Bairro onde nasci e igreja congregacional onde cheguei em 1966, aos 9 anos de idade. Cascadura, literalmente, somos todos e qualquer antes da conversão.

   Nela delineou-se minha personalidade. Em casa, com pai pastor e mãe imersa em tudo o que significasse igreja e denominação. Como num banho esmaltado em forno industrial de máximo calibre.

   Mas nunca me avaliei, por isso, pré-programado, como num molde, sem opção de escolha. Ao contrário, consciente, em todas as etapas desse desenvolvimento, rato de igreja, em todas as etapas e opções experimentado.

   Acho até que, por isso, cheguei a pastor. Mas, como já disse, bem consciente e lúcido do que isso representa. Sem desculpa esfarrapada para o dia do juízo final. Assumido. Cascadura.

   Do bastimo, em 1968, aos 11 anos, a ordenação, em 1983, aos 26, modelou-se o perfil, na tensão esperada dos conflitos entre o grupo, a família e as crises pessoais. A crise pré-batismal foi mais prosaica e singela.

    Não sei por que cargas d'água, deparei o próprio pastor que me batizou, nós dois apoiados sobre uma velha mesa que havia, ao longo da parede do Salão Anexo, aqui escrito com maiúsculas por causa da personalidade desse espaço, para a geração de minha época.

    Daquelas mesas presas por dobradiças à parede, práticas para aproveitamento de espaço quando não em uso. Raquel, filha de Amaury Jardim, hoje pastor nonagenário e, naquela época, apenas presbítero, foi nossa companheira de batismo.

   E numa das brincadeiras por ali, ocorrido que, com certeza, nem lembramos causas e efeitos, houve queixa a meu respeito. Como chegou, ao pastor, sem burocracia, nem sei, acho até que ele circulava por ali e, nesse encontro, debruçados sobre a mesa, fui exortado por ele.

   Não sei se se expressou mal, ou mal entendi, achei que o agravamento do acontecido inviabilizaria o meu batismo. Contive-me ali, mas dali retirei-me aos prantos. Nem sei quem me acolheu. Só sei que declinei à pessoa o que havia entendido: definitivamente, não poderia ser batizado.

    Isso chegou aos ouvidos de Maurilo Neves Moreira que, prontamente, quem dele se lembra, com sua típica dificuldade de formular uma fala com um mínimo atropelo de pronúncia, explicou-me que não, o que ele dissera não fora o que e como eu havia entendido. Simples assim.

   Essa foi a crise pré-batismal. Já a pré-ministerial perdura até hoje. Menos simples, porém equacionada.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Igrejas por onde passei - 1

     Igrejas são uma ideia muito feliz. E muito inteligente também. Principalmente, vistas do ponto de vista o Autor, quer dizer, de quem teve a ideia e a chamou de Sua.

   "Edificarei a minha igreja", ele disse. Se alguém pode imaginar algo contra essa ideia, contra o Autor dela e contra o povo que a compõe, Ele já antecipou a frustração dessa intenção contrária.

   Dizendo: "Nem portas do inferno vão prevalecer contra ela". Eu vivo dentro delas desde ainda no ventre de Dorcas, minha mãe. Ela contava coisas do tempo de que a gente não lembra.

    Na Congregacional de Nilópolis, trocava minhas fraldas por cima daqueles velhos e anatômicos bancos de madeira. Eram as de pano. Ela dizia procurar os últimos bancos, que era por duas razões:

    Nunca (1) me (mal) acostumar a sair por qualquer coisa na hora dos cultos e que (2) ela mesma não perdesse nadinha desse mesmo culto. Nasci em 1957 e lá fiquei até 1966. Nela, em 1963, escorreguei desse mesmo banco, bem um ali no velho templo, que guarnecia a primeira fila da porta à esquerda, de saída lateral, fileira essa defronte ao coro, à esquerda, colado à parede, abaixo daquele magnífico janelão.

    Acreditei no que dizia Ivan Espíndola de Ávila, o pregador da noite. Quando ele disse: "Olha, gente, um menino!". Dorcas que orava ao lado, arregalou olhos, pondo-os em mim. E o pastor me deu um "Diploma de Convertido".

   Com a data 21 de abril de 1963, eu ia completar 6 em 6 de maio à frente. Sujeito a confirmações posteriores, acho que a conversão foi nesse dia. Nessa igreja ouvi os primeiros hinos, poesias, declamei a parábola do filho pródigo em cima de um banquinho.

   Ouvi os solos de Jaíra e Marisa França Costa, duetos das irmãs Neusa e Jaíra, assisti ao Jovem Clarim, Nobel da época, teatro eclesiástico e eclético, dirigido por meu tio Dante Ssntos, num auditório, pro lados de Mesquita.

   As marcas dessa primeira igreja são indeléveis. Esta palavra significa irremovíveis. Travessuras como no dia em que pulamos o janelão, para dentro da igreja já escura, mas com a mesa da Ceia recoberta, participar da Ceia proibida. Clandestinamente, seria deleite especial.


   Furtamos dos pãezinhos (que representam o corpo) e do suco de uva (por sua vez, o sangue), eu, estabanado, deixei sobre a toalha ultra-branca um rastro do cálice que derramei. Foram logo me procurar. Suspeito número um.

   Certo, ali também vivi essas injustiças. Colori imagens de historinhas de EBF - Escola Bíblica de Férias. Gravei na memória os hinos da versão antiga de Salmos & Hinos, assim como os rostos de uma geração há muito já em casa: Avelino Tavares, Carlos Costa, Manoel Araújo, entre outros e outras já em casa. 

    Dali saí para Cascadura. Nessa igreja da segunda infância, adolescência e pirmeiro pastorado, este surpreendente e inesperado, quando se olha da frente para diante. Nela fui batizado, cerquei-me de amigos em famílias que marcaram todas essas fases da vida e, mais surpreendente ainda, dela provém minha esposa, pode-se até dizer, algo previsível, num certo sentido.

   Igrejas são a nossa cara. Há quem muito facilmente se descole delas. Outros, por suma simplificação e brutal equívoco do que elas representam, nunca entram, ou entram e não ficam. Eu estou até hoje.

   Não me gabo disso. Mesmo porque se alguém diz que chegou ao grau máximo do que representa igreja, seu contexto e propósito, não entendeu ainda. É democrática, em sua concepção. Mas o acesso é restrito.

   Não por quem cisma de fixar sua ortodoxia, embora isso ocorra, bloqueando o acesso. Mas por quem faz a escolha real dos que a ela verdadeiramente pertencem, que é Jesus Cristo, autor dessa ideia, de assim reunir as pessoas, e mantenedor de sua (dela) identidade.

    Há diferença entre o que querem fazer dela, modernamente falando, igreja Fake, e o que a igreja representa, como ideia original. Há um risco permanente de que a ortodoxia, de orto, certo, e doxia, doutrina, se torne tão extrema e impositiva, como historicamente já ocorreu, chegando ao absurdo do que foi a "Santa" Inquisição.

    Por outro lado, há o risco de que seja banalizada, descaracterizada, feita à imagem e semelhança dos que buscam acesso ou, inadvertidamente, apropriam-se da ideia. Ainda que, em última e definitiva forma, serão os congregados quem define o próprio perfil dela, seguindo as orientações da Bíblia, responsáveis pela compreensão que assumem.

    Parece um beco sem saída: quem vai autenticá-la são os que podem se tornar responsáveis por corrompê-la. E não se pode abrir mão de uma ortodoxia, que um certo professor meu chamava de "disciplina da fé". Mas a própria Bíblia que o Espírito de Deus preside essa congregação. E acreditar nisso já se constitui pré-requisito.

   Se a tua intenção é usar igreja como símbolo de status, desista, não entendeu nada. Jesus parte do princípio de que todos são iguais, tanto antes, como depois de O encontrarem e, por Ele, ter sido convertidos. Insuportável para todos os seres humanos se sentirem iguais.

    Portanto, antes, todos iguais, em sua identidade deformada desde a queda narrada pela Bíblia, pecadores autênticos em Adão. Ao depois, pela cruz do mesmo Jesus, batizados em Sua morte e ressurreição, iguais em santidade diante de Deus.

    Igreja é lugar de todos se sentirem iguais. Caem as máscaras. Por isso, tão insuportável para tantos. Por isso, uma catarse autêntica para o restante.