sábado, 8 de junho de 2019

Se os nossos carros falassem 4

Mais ou menos assim

        E por ali mesmo, mais exatamente em Inhoaíba, encontrei novo dono para o Gol verde-musgo metálico. Crente, pedi que consultasse seu mecânico. Ele abriu mão, confessando que não passara despercebido a ele a simulação de lanternagem. O preço era justo.
    O pastor de Bangu,  Manoel Bernardino, conhecia um amigo de plena certeza de carro bem acertado, conservado, cinza metálico, Gol 1984. Dupla carburação, apelidado "batedeira", de performance melhor do que o anterior. 
      Intuitivamente, ao comprar o Gol (quase) Prata, eu deduzi que poderia servir como passaporte à compra de um imóvel, caso o casamento se avizinhasse, muito embora achasse remota essa possibilidade. Foi intuitivo mas, pasmem, cumpriu-se.
     Esse gol, que representou evolução em relação ao anterior, foi adquirido, ora vejam só, exatamente no intervalo entre uma fase e outra do namoro com Regina. Por isso o argumento que, ainda que estivesse solteiro de novo, sem saber ser interregno do que se tornou definitivo, cumprida a profecia do carro pelo ap, era mesmo esse Gol Prata 1984 o passaporte para a vida a dois. 
      Com ele fiz de Pedra de Guaratiba a PUC/RJ, tempo das aulas no Seminário acolá, mais o mestrado aqui. Quando o almoço demorava lá, comprava uma bisnaga na última padaria do circuito, antes de entrar na Rio-Santos, e a comia a seco, até chegar à PUC. Aliás,  dava para comer duas e lá, na faculdade, tomar um café ou suco, até o horário do lanche da tarde.
      Num desses estirões dessa viagem, descendo a Serra da Grota Funda, aliás, por cima de onde, hoje, há um túnel, sei lá por que intuição, entre um naco e outro de pão seco, parei no acostamento para examinar a água. E eis que estava quase seca no reservatório do radiador. Que susto! Por ali havia uma dessas lojinhas de plantas, foi onde arranjei de encher uma garrafa qualquer e regulei o nível da refrigeração do bólido prata. 
      Com ele também, pura distração, na descida do Viaduto dos Marinheiros, vindo desta vez da aulas no Seminário Externato, peguei pela traseira um cara que fez uma manobra infeliz, ainda bolado em cachaça. 
      Pois é. Mas quem bate atrás, é que leva a culpa. Eu que fiquei pau da vida comigo mesmo. Tanto que cada um assumiu seu prejuízo. Pude chegar a casa. Não detonou o radiador, somente amassou a tampa do motor e as caixas de ar laterais, que eu havia acabado de lanternar. 
      O destino foi que eu deixei na oficina de um conhecido que, por sua vez, estava avexado com a esposa, que não lembro se era parto, mas era coisa de hospital, demorou, mas consertou, deu até para, nesse meio tempo, reatar namoro, transformar em noivado e prometer vender o carro para uma pastora, colega de mestrado, e seu esposo na época, também pastor. 
       Para adiante descobrir que, naquela passagem na oficina do conhecido ocupado com a esposa, havia uma malandragem parecida com aquela do Engenho Novo, triste sina, trocar motor. Isso porque uma vez vendido e dada a entrada no ap onde fui residir com a esposa, em janeiro de 1993, a colega veio dizer que o motor do Gol Prata 1984 era um a álcool, convertido a gasolina.
      Era época dessas trocas, aquela história do Proálcool e foi esse tapa na cara. Como provar que não era trambiques nosso? O esposo da colega falou que seu mecânico confirmara. Cara no chão. Falamos em destrocar, àquela altura, mexeria na entrada dada à Imobiliária. Mas, fazer o quê, como se diz. Não concordaram. 
      Falamos em devolver uma parte do dinheiro. Eu acho que isso eles até concordaram. Pagaram uma cota menor do que deviam. Foi chato, mas foi assim que o Gol Prata se foi, para dar lugar ao próximo da lista, veja só, um Escort marrom metálico, vendido por um amigo de meu sogro. E logo, logo vão entender por que era amigo, específica e somente do sogro.

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