sexta-feira, 7 de junho de 2019

Se nossos carros falassem 2

Mais ou menos assim 2

      O primeiro Fusca a gente nunca esquece.  Assim como não esquece o primeiro trauma com o segundo Fusca e seus desdobramentos. 
     Talvez por que a história desse segundo fosse tão intensa, alvo de profecia, quem sabe, o Fusca azul céu RV 2644, ano 74 foi marca de evolução financeira, na família, ainda maior.
      Foi-se aquele mais humilde, de carroceria mais formal, para um turbinado, adquirido por Cid lá para os lados de Niterói, concessionária indicada por palpite de algum colega. 
      Seminovíssimo, a cor ajudava, o trato o deixava com excelência de aparência e ainda tinha, acessório pra frente na época, uma invocada antena em toda a extensão do carro, do parachoque traseiro, onde se encaixava, ao fronteiro, com uma trava para sua extremidade. 
      Estreei numa ida com Dorcas à igreja em Cascadura e não passei do Engenho de Dentro, nem dirigi ao menos 2 km, se chegou a 1. Ainda novel na direção, distraí-me demorando o olhar no retrovisor externo (nessa época só havia o esquerdo) e bati roda com roda atrás de um cara parado à direita, num ponto de ônibus.
      Traumatizante. Bater com o Fusca seminovo, o mais recente símbolo de status da família,  no dia da primeira saída. Tornou-se assunto de oração, para mim, direção de automóvel. Achei que minha distração inviabilizaria,  definitivamente, qualquer tentativa futura. 
      Levei o Fusca, no ímpeto de logo desfazer o feito, ao outro Engenho (Novo), oficina de um pastor amigo, Nelson Neri de Oliveira, meu pai guardava os nomes completos. Não sei por que achei que era mecânico de confiança. 
      Associei a amizade do pastor com a suposta índole do profissional e deixei lá o carro. Mês depois,  sei lá, fui buscar e comecei estranhando a antena. Desdobramentos. Comentei e o cara, evidentemente, desconversou. 
      Ano seguinte, 1980, estagiando em Niterói, Largo do Barradas, ao levar irmãos da igreja a uma das entradas de um dos típicos elevados beira-mar, notei ruído estranho no motor. Ainda que fosse uma topeira cega em termos de mecânica, deduzi.
     Desdobramentos. O cara daquela oficina havia trocado o motor. A reclamação na concessionária sobre o motor que não durou inteiro ano e meio que fosse deu em nada. Falar com o Nelson Neri de Oliveira deu em nada. Argumentar com o mecânico suspeito ainda menos. 
     Engolimos o sapo e acionamos o Benvindo, cujo nome era literal com sua especialidade: mecânica e lanternagem em geral, ex- de uma das grandes, acho que era a WV mesmo, tinha oficina ali para os lados do Lins, próximo à Aquidabã. 
       Galpão limpíssimo, organização primorosa, preço salgadíssimo, mas garantia de serviço bem feito, jamais tegiversado. Seria o mago de muitas outras circunstâncias de consertos com /s/ mesmo. Não lembro quem o indicou,  mas salvou-nos com o Fusca azul céu 1974.
     Começava a história heroica desse bólido, talvez merecesse esse trágico início de perda-recuperação de sua identidade, em vista da múltipla missão da qual seria investido anos afora, até o fatídico 1996, quando seu dono original se despediu de sua jornada terrena. 
       Sobreviveu vendido a um seu sobrinho neto. Uma notícia ou outra dele obtivemos. Mas o fim, com certeza insofismável, somente se inquirirmos com mais exatidão. Por hora, vamos contar suas aventuras .

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