Mais ou menos assim
Interregno. Porque não lembro por que caminhos, adquirimos um Gol 1980, verde metálico, carburação simples. Foi decisão do estado maior da família, Cid e Dorcas, mas nem sei por que argumentos. Presente ao filho, bem entendido.
Seropédica ainda era referência, embora Cid, meu pai, tenha deixado aquele pastorado em 1978. Porque eu havia comprado pneus novos e ia subindo a Estrada do Caçador, rota para o já mencionado sítio do Ari Flores.
Cid e Dorcas souberam da venda de uma quadra de 100 X 100 metros, o suficiente para a paixão de Dorcas por plantas e área rural (plantar, colher, receber as crianças da Igreja nos Retiros, providenciar refeições etc) e o revisitar do Cid a uma amostra da roça onde nascera. Eu ia em direção a essa meia jeira de terra.
E, muito gozado, digo em função do que iria ocorrer, dirigia reflexivamemte, ainda era novo de carteira, vícios mais do que virtudes que ainda não haviam aflorado. Caprichos da física, pneus novos, direção reflexiva, eu avaliava cada manobra, repetindo-as para mim mesmo, para ficar na experiência. Foi quando.
Numa curva a poucos metros da entrada da chácara, acelerei nessa curva, pneus novos, cheiíssimos, acelerei na saída dela e a física não me perdoou. O carro fez um giro sobre si mesmo. Para lado e outro sambou no chão de areia.
Não sei quantos já estiveram dentro de um carro que derrapa. Nada adianta. O menos ainda é tentar, pelo volante, fazê-lo retornar ao tino. Havia uma cerca de arame farpado, à direita, escorada sobre um parapeito natural de terra, de seus 50 cm, que seguia o curso da Estrada do Caçador naquele trecho.
Para além dele, era uma queda de seus, pelo menos, 2 m, numa fazendola bem cuidada lá embaixo. Dentro do Gol 1980 verde musgo metálico, entregue ao gingado regido pela inércia sem atrito com o solo, pensei, vou capotar quatro rodas para cima, meu Deus, como vai ser isso?
Foi então que o pneu novíssimo dianteiro, regendo todo o giro, deu nesse parapeito natural, fazendo o carro, desta vez, girar num eixo vertical: tombou e ficou apoiado sobre o lado do carona, meia capotagem.
Indeciso, ele fez que tombaria e, em sua hesitação, ainda fiz como que batendo no banco ao meu lado, para fazê-lo voltar aos eixos. Providência divina ou ainda que fosse científica, ou ambas, aprumou: caiu solavancando e acalmando o motorista.
Tudo muito súbito. Esses casos assim não chegam a minuto. Refeito e atravessado na pista, logo surgiu alguém. Ajudou-me a aprumar rente à cerca e parapeito, este o salvador da situação, escora que, ao mesmo tempo, deteve o rumo para o precipício light, deteve o movimento uniformemente embriagado e ainda fê-lo capotar e descapotar, como um chucro agora domado.
Agradeci a intervenção e ajuda, ainda admirado de que, no ermo daquela vizinhança, alguém tivesse testemunhado toda a reviravolta. Lembrei das ex-ovelhas de meu pai da Batista do km 49, em Seropédica, filhos do mecânico Alício, com oficina colada ao templo.
O mais velho, José Paulo, foi socorrer. Avaliou e, da caminhoneta da oficina, sacou um afastador, uma espécie de macaco hidráulico que apoiou na extremidade Boa do eixo de rodas traseiras do Gol 1980, que era inteiriço, e devolveu a roda direita, mais ou menos, à posição de rodagem.
Fui guiando atrás da caminhoneta da oficina, meio cambeta, os 3,5 km até o Belvedere, na Dutra, para pegar, pelo km 54, a antiga Rio-São Paulo, até o km 49 para a oficina colada à igreja. Foi lá que o Zé Paulo esclareceu que, de mecânica, saúde de motor, o carro estava legal.
Mas de lataria, ele educou minha vista a reconhecer plastic, imitação de descontinuidade de lataria, limite que aguarda a ferrugem subir, para só então revelar toda a farsa de lanternagem que haviam feito e o ex-dono encobrira de mim no ato da venda. Daí que veio a decisão de passar à frente o Gol 1980 verde-musgo metálico.
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