Atualize-se
“Atualiza a sua tela”. Assim falou o
atendente, que precisava enviar e-mail de confirmação da passagem aérea, e me
solicitava atualizar para que os novos dados aparecessem. Meu filho perguntou:
por que não apertou a F5? Era só apertar essa tecla.
Pois é, vez por outra esses elementos
da nova tecnologia reservam certas analogias que a gente pode aplicar à vida
prática. A gente precisa, mesmo, dessa repaginação, dessa atualização. E,
muitas vezes, até tentamos, mesmo, porém errando de ênfase.
Pensamos que atualizar é, por exemplo,
assimilar modos e jeitos para, exatamente, não ficarmos desatualizados.
Torna-se ridículo, então, um cara de quase 60, como eu, tentando falar,
comportar-se e pensar como alguém, digamos, 40 anos mais jovem.
A gente assiste a uma tentativa de
repaginação da igreja evangélica em áreas diversas. Nesse esforço, é necessário
saber o que se deve prescindir ou jogar fora, e o que se deve preservar. Na minha
geração, a uns 35 anos atrás, o livro Cristianismo
Equilibrado, de John Stott, foi muito útil, sugerindo bom senso nessa
postura seletiva.
Destacava que Jesus sabia manter
tradições e refugar modismos, filtrando o que era descartável do que deveria
ser permanente. Exemplo era a postura dele sobre a Lei de Moisés, quando
ensinou a separar o conteúdo do que era circunstancial.
Foi célebre, por exemplo, a cena da
sinagoga, quando cobravam de Jesus que, no sábado, não curasse, uma estúpida
interpretação da preservação de integridade do sabbath. O Mestre perguntou: “Posso fazer o bem no sábado, ou estou
proibido de o fazer?” Inteligência, colocação do problema nos parâmetros certos
e coragem para sustentar opinião própria. Agora, só falta aplicar isso à igreja
de hoje.
Atualize-se. O sacrifício de Cristo
tem validade permanente. Aplica-se de modo contínuo, como oferta, tanto a quem dele não se
tornou, ainda, participante, quanto a nós que, constantemente, necessitamos de
sua mediação. A ação do Espírito Santo em nós, que mantém atualizada a mediação
desse mesmo sacrifício, também é permanente.
Por isso, é necessária essa repaginação
constante de nossa vida. E não depende somente de nós porque, como diz o
profeta Jeremias, nosso coração é desesperadamente corrupto e até a nós mesmos
engana. Gostamos de repetir, também de Jeremias, aquele versículo que postula: “Maldito
o homem que confia no homem”.
Isso mesmo: somos nós mesmos o
primeiro homem (ou mulher) de quem devemos desconfiar. Apertar a tecla F5 não
depende somente de nossos arquivos cache internos.
Vai ser necessária a assistência do Provedor do sistema. Atualizar-se, para
tanto, depende, sim, da atuação do Espírito em nossa vida.
Que, certamente, virá da busca de
lucidez para os olhos, resultado de exercício de vida piedosa. Esta palavra grega,
sem correspondente na língua portuguesa, define ações que, em conjunto, modelam
a vida na relação com Deus. Devem envolver, certamente, tempo com a Bíblia, em
coerência com o tripé meditar-cumprir-proclamar.
Outra postura deve ser presença na igreja,
em meio ao grupo, vida de comunhão. Com todos os defeitos, crises e críticas de
que essa modalidade de ajuntamento se tornou alvo, não há outro lugar, como diz
o Salmo 133, onde o Senhor 'ordene a Sua bênção e a vida para sempre'.
Vida de oração. Tempo gasto de
conversa íntima com Deus, dentro do que a Bíblia ensina ser oração, evitadas a
hipocrisia, as vãs repetições, o discurso de vaidades, a manipulação de 'bênçãos' para consumo próprio, enfim, oração é a súplica autêntica pela contínua tentativa de pôr em prática o que
a Bíblia ensina e o que a igreja sugere que seja vida piedosa.
Passa por essas vias a atualização.
Tecle essa tecla. F5. O Provedor vai nos mostrar que arquivos deletar, que
arquivos manter, que novos arquivos agrupar.
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