sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Mal traçadas linhas 5


  Dívida de amor

        Todos temos uma dívida de amor. Paulo Apóstolo na carta aos Romanos escreve ‘a ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros.’ O que ele quer dizer é que nunca fiquemos devendo nada a ninguém. Mas amor será, sempre, uma dívida atualizada. Por isso, afirmo aqui que todos temos uma dívida de amor.

        Que nunca é paga. Porque, por mais que amemos, melhor dizendo, que exerçamos o amor que aprendemos de Deus, ainda há o que amar. E amar todos, indiscriminadamente, sim, porque costumamos escolher quem amar. Pronto: isso já não é amor.

         Quando a Bíblia diz que amemos os inimigos – os declaradamente inimigos com mais aqueles que costumamos escolher para não amar, porque os classificamos como inimigos –, pois quando a Bíblia diz que os amemos é porque, depois de amar essa classe de gente, torna-se fácil amar qualquer um.

          Pois bem, primeira lição deste texto: aprenda amor com quem você mais escolheu desprezar, porque ficará fácil amar aqueles que você escolheu para o contexto de suas relações. Os fariseus também reclamavam das pessoas que Jesus escolheu para conviver mais de perto, porque as amava todas.

          João Apóstolo, leiamos lá, no capítulo 4 de sua 1ª carta, ensina o caminho que se deve percorrer para chegar ao amor. Primeiramente, ele coloca o amor como opção única, ou seja, não há outra: “filhinhos, amemo-nos uns aos outros”. Depois passa a enumerar: (1) o amor é de Deus; (2) ama quem é nascido de Deus, porque conhece a Deus; (3) o amor de Deus se manifestou na dádiva de Cristo ao mundo; (4) Ele nos amou primeiro, ou seja, de nossa parte, isoladamente, não existe amor; (5) o modelo de amor é de Deus, não qualquer que inventarmos.

          Alguém pode argumentar, ‘mas caramba, eu amo’. Sim, ama. Isso mesmo: essa coisa de amor é dádiva de Deus a nós. Somos imperfeitos nisso, sempre estaremos na página 1 da cartilha, mas é para exercer e aperfeiçoar continuamente e com todos, como já dissemos: primeiro os que, para nós, cheiram a ódio, inspiram desprezo e exalam o cheiro que atiça o nosso desdém.

          Por exemplo, quando Paulo Apóstolo diz que o marido deve amar a mulher como Jesus ama a igreja, figurada e analogicamente Sua esposa, tem de ser muito homem. Isso mesmo: para a Bíblia, quem é homem, é quem é capaz de amar como Cristo ama. Como pensamos ao contrário disto! Porque achamos que, para ser muito homem (ou muito mulher) outros atributos devem ser amealhados para formar nossa personalidade. Pura vaidade e erro de cálculo.

           Que tal, prioritariamente, amar? João Apóstolo conclui assim: “aquele que não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor.” Em meio a todas as nossas imperfeições, camuflado e escondido na névoa densa de nosso pecado e ausente onde ocorrem vãs pretensões, insinua-se o amor de Deus em nossas vidas. E você? Não se julga imperfeito(a)? Então, é um(a) louco(a).

           Não tem pecado? Então, como, de novo, diz João Apóstolo, agora no capítulo 1 (procure lá, na Bíblia), mais do que mentiroso, quem diz que não tem pecado chama Deus de mentiroso. Sabe por quê? Porque é Deus quem nos sonda, denuncia e revela a nós o nosso pecado.

            Quanto às nossas pretensões, como diz Salomão, tudo é vaidade e correr atrás do vento. Ele não está querendo, literalmente, dizer que tudo, que as coisas todas à volta são vaidade. O que ele quer dizer é que tudo, para nós, é pretexto para nos envaidecer. Estamos envaidecidos com o tipo de pessoa que somos? Ora, então vamos nos medir e avaliar pelo amor. Não há outro padrão de aferição.

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