Imitadores de Deus.
Estou lendo, pasmem, História dos judeus, de Simon Schama,
Companhia das Letras. Recomendo. Isso porque o autor conta, de modo inusitado,
essa história tão decantada e recontada. Justo na capa ela já traz uma
provocação, quando diz, logo abaixo desse título, À procura das palavras de 1000 a.C. a 1492.
Interessante a leitura, porque ele define duas aproximações com relação
ao texto bíblico do Antigo Testamento: aquela literalista, que deseja que todas
as informações da Bíblia funcionem como GPS, e outra minimalista, na qual a
Bíblia não presta para nenhuma informação histórica nela constante.
Ele coloca os pés no chão, para isso
apontando descobertas arqueológicas já neste século, as quais confirmam informações
bíblicas bem antigas, tidas como meras suposições em seu texto, mas agora
confirmadas para fora do texto bíblico. Mas esses detalhes se tornam
secundários, diante de certas afirmações escandalosas.
Uma delas, vou citar aqui, aquela de
Paulo Apóstolo, quando diz que devemos ser imitadores de Deus. Ora, se não
bastassem as suposições bíblicas a respeito da existência de Deus, tão instigante e sublimemente (nem para todos) assim definido, eventualmente até chamado Altíssimo, vem agora Paulo escrever
uma dessas. Exagero. Ou não. É melhor encarar que essa foi mesma a intenção do
Apóstolo e tentar entender o que quis dizer.
Com essa tentativa, talvez fique
comprovado que a intenção final do Livro é mesmo, como dito em texto anterior por este mesmo canal divulgado, que Deus deseja repartir conosco, por Sua graça, os
atributos que definem Sua personalidade. Dito de outra forma, Deus deseja
restaurar no homem/mulher a perda da característica original ‘criados a Sua
imagem e semelhança’. Ora então, de um modo sublime, agora no linguajar de
Pedro Apóstolo, na sua 2ª carta, nos tornarmos ‘coparticipantes da natureza divina’.
Mas como privar desses atributos em
nossa própria conduta, como marcas de nosso caráter e personalidade?
Provavelmente a própria Bíblia nos dê algumas pistas.
1. Amor. Partindo da
definição de Deus escrita por João Apóstolo, Deus é amor, pelo menos tentar começar por esse atributo. No caso,
seríamos espelho do amor de Deus, ou seja, onde encontrar esse atributo,
portanto? Ora, é só olhar para a vida dos (autênticos) crentes em Jesus, que
tal estará expresso. João Apóstolo, em sua 1ª carta indica, passo a passo, a
trilha, melhor dizer o Caminho para esse amor. Questão de identidade: se esse
amor não for visto e constatado na vida do crente, desista de tentar demonstrar
sua autenticidade (do amor e do crente em questão).
2. Caminho com ‘c’
maiúsculo indica Jesus. A pista indicada na carta de João Apóstolo mostra que
não há como, pelo menos arranhar a virtude desse amor, a não ser por meio de
Jesus Cristo: nele e por meio dele. Lembram-se do diálogo de Jesus e Pedro, à beira do Mar da Galiléia, por ocasião de uma entre as aparições de Jesus ressurreto? "Pedro, tu me amas?" Por isso digo 'arranhar': Pedro declarou-se, por si, insuficiente para o amor. Como chegar a essa autenticidade? A prova do próprio amor do Pai foi demonstrada em
seu ápice na entrega de Cristo, diz Paulo Apóstolo aos Romanos. Daí que somente
poderemos ver em nós tal virtude se formos, linguajar bíblico, ‘batizados em
Cristo’. O que significa isso?
3. Significa dizer da
total incapacidade humana para ter em si e pôr em prática esse amor, a não ser
pela união a Cristo, de novo Paulo Apóstolo, batizados na morte de Cristo e
ressuscitados com Cristo nessa ressurreição. Esse mesmo texto aos Romanos
explica que, dessa forma, a parte criminosa que carregamos em nós é ferida de
morte e que surge, regenerada em nós, uma nova natureza cuja matriz somente
Cristo traz. Daí em diante, em esboço, traços de nova natureza se manifestam na
medida desse amor. Cristo em nós, dizem as Escrituras, nós crucificados com Cristo, explora Paulo Apóstolo em sua argumentação, vivendo de fé em fé, no suprimento do Espírito Santo. No estado deplorável do ser humano, somente a ação conjunta da trindade para suprir nele algum traço de amor.
Entre os apóstolos aqui citados,
Paulo, João e Pedro, este último, talvez, entre os três, tenha explicitado até
que ponto as Escrituras esperam que se cumpra em nós essa repartição, da parte
de Deus, de Sua graça aos homens. Pedro Apóstolo enumera virtudes por meio das
quais, segundo diz, nos tornamos ‘coparticipantes na natureza divina’.
Já avaliou isso? Acho que Pedro
sugeriu algo que nenhum dos outros dois aqui citados tenha tido coragem de
explicitar. São afirmações como essas que indicam, para as Escrituras, o
específico de sua proposta como Livro. Nessas afirmações encontramos o
distintivo da Bíblia.
Caso elas sejam encaradas como
verdade e possibilidade, sim, o Livro terá sido levado em conta. E os homens
que sugerem essas possibilidades terão mesmo falado em nome de Deus. Caso não
sejam levadas em conta, não há, mesmo, razão para atribuir à Bíblia outro
valor, senão o literário, seja lá em qual matiz se desejar defini-lo.
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