segunda-feira, 2 de março de 2015


     Oração II

         Falando em oração, quero dizer, a respeito de oração, quero indicar quais eu considero como fundamentais. Na verdade, a gente aprende a orar, desde muito cedo na vida cristã. E, com o mínimo de autocrítica, também aprendemos a identificar quando abusamos, apelamos, não no sentido de se fazer um apelo, mas de apelação, quando a oração revela nossa imaturidade ou um pedido sem cabimento.

         Nessa tipologia, considero orações que são as mais definidoras de mudanças em nossa vida ou que estabeleceram referenciais pelos quais a nossa vida cristã ficou definida. Considerei a primeira delas, por razões óbvias, a da conversão e, em segundo lugar, outra que definiu minha postura diante das emoções programadas que, vez por outras, me assaltavam e diante das quais eu me achava exposto, prestes a ceder e passar a depender delas para me sentir espiritualmente bem.

         Pois a próxima oração ou, para ser mais exato, a crise que teve uma oração como centro e, atribuo a esse recurso, uma guinada de solução, teve relação com meus rudimentos de vocação, ou seja, com minha suspeita de que deveria ir para o Seminário. Na verdade, numa outra oportunidade, vou contar como, em 1977, começaram esses rudimentos de desconfiança de uma vocação, em meio a uma outra bruta crise, esta uma das grandes.

        E em 1978, mais exatamente em janeiro/fevereiro, no Palavra da Vida, em Atibaia, na Estância, numa dessas outras reuniões profundamente emocionais, também não me lembro quem pregou, mas, de novo, houve apelo à conversão e à vocação ministerial, em meio à Equipe, que era convocada e treinada para atender aos hóspedes dos chalés da Estância, houve aquele emocional bem dosado, aquela carga que incluíam lágrimas, abraços, enfim, a descarga emocional típica daquelas reuniões de ágape.

          Eu não me lembro de todos os detalhes, mas me recordo de uma retirada estratégica, era já noite, provavelmente em torno das 21 h, talvez meia hora mais, me achei deslocado para uma das saídas do auditório, não sei se ainda ocupa o mesmo ponto, lá se vão mais de 35 anos, para uma parte elevada, de onde, ao longe, avistava-se o prédio do Instituto Palavra da Vida, nem sei se olhei naquela direção, mas minha memória me mostra o céu daquela noite e o pedido a Deus, com toda a força que a idade e o tamanho de fé permitiam, que não me deixasse errar sobre essa ideia de vocação, que nenhuma reunião que mexesse com o emocional me contaminasse, para que, equivocado, me intrometesse num Seminário  qualquer a fim de me fazer, quem sabe, um pastor. Ou mais, ainda, que nunca me tornasse um missionário pensando em ir não-sei-pra-onde, por pura ilusão.

        Naquelas férias eu estava estressado com um curso de engenharia recém iniciado no Rio, pensando na possibilidade de estudar num Seminário, poderia ser o Palavra da Vida, mas chegava à conclusão que o tipo internato e qualquer reclusão desse tipo não combinaria com a minha personalidade. Não digo que acertei na escolha ou na recusa, o que digo é que escolhi e afirmo que uma oração, ou um conjunto delas, todas nesse mesmo viés, ajudaram-me a escolher.

       Em que sentido a orações nos ajudam? Em que sentido nós ajudamos às orações? No sentido de influenciarmos ou ditarmos seus modelos e sofrermos os resultados ou, até em que sentido Deus responde adaptando Sua vontade à nossa ou permitindo que a gente caminhe, de certa forma, coerente com o que se avizinha ser a nossa escolha? Ministério em tempo integral, era a oferta para quem desejasse fazer um Seminário Interno, do tipo Palavra da Vida ou do tipo antigo IBPG, que era o Seminário Congregacional em Pedra de Guaratiba.

       Não escolhi nenhum dos dois internatos. Também eu nutria uma brutal dúvida a respeito de minha coerência e certeza de que o desejo de ingressar no Seminário não se constituísse numa fuga, mesmo porque eu não ia bem no curso de engenharia. Havia uma soma de evidências que me indicavam ter sido formado, talhado pelas mãos de Deus para o ministério. Mas, àquela altura, eu não admitia que esses traços fossem claros e suficientes para confirmar coisa alguma.

        Então, eu acho que, nessa fase, em meio a esse conflito, uma oração ou um conjunto próximo delas, todas numa mesma combinação de sentidos, naquela noite logo após aquele culto, pedi com toda a força, tentando ser ao máximo sincero com Deus, que não me deixasse errar nessa história de vocação. Orações fundantes. Responsáveis pelos rumos que vamos tomar em nossas vidas. Foi uma delas, a daquela noite, numa tentativa extrema de que Deus acolhesse e desse, a ela, o tratamento que só Ele pode dar, retificando e ratificando.



Um comentário:

  1. Olá Pastor. A paz de Cristo.
    Se possivel, faça-nos uma visita, ainda que virtual.
    https://www.facebook.com/pages/Igreja-Congregacional-de-Copacabana/727507247364241?ref=aymt_homepage_panel
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