quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Livro, terra e líderes de Estado: Como foi o funeral de Dom Pedro II?


Após sua morte em 1891, o último imperador do Brasil, Dom Pedro II, foi cortejado por milhares de pessoas antes de seu sepultamento; confira!

Por Éric MoreiraPublicado em 09/12/2025, às 18h00 - Atualizado em 11/12/2025, às 07h08

Há 134 anos, no dia 9 de dezembro de 1891, aconteceu o funeral de Dom Pedro II, “o Magnânimo”, o último imperador do Brasil. E todo o evento carregou uma série de tradições dignas de um rei honroso, e verdadeiramente orgulhoso por sua terra originária — mesmo que já não fosse mais seu lar.

Filho do responsável pela proclamação da Independência, Dom Pedro II foi apenas o segundo líder do Império do Brasil quando, no dia 15 de novembro de 1889, viu a queda de seu trono e a proclamação da República. E na mesma semana, a Família Imperial — incluindo o próprio monarca, que era nascido no Brasil — foi exilada do país, e voltaram “às origens”: a Europa.

Para a tristeza de Pedro II, sua esposa, Teresa Cristina, morreu apenas três semanas após a chegada na Europa, devido a problemas respiratórios. Mas o ex-imperador seguiu cercado por monarquistas fiéis e pelo restante de sua família, embora já não usufruísse de todos os luxos de outrora.

Instalado em Paris, na França, Pedro passou a viver em hotéis isolados, e costumava registrar em seus diários sobre os sonhos recorrentes que tinha, em que voltava para o Brasil. Mas a melancolia não o tomou por completo, e ele seguiu fazendo algo que sempre gostou de fazer pelo Brasil, viajar, explorando a região que morava da melhor forma possível.


No entanto, durante um passeio pelo rio Sena, ele pegou um resfriado; que, em algum tempo, evoluiu para uma pneumonia grave. E foi assim que, apenas 2 anos após deixar o Brasil e três dias após seu aniversário de 66 anos, Dom Pedro II morreu no dia 5 de dezembro de 1891.

Nesse breve período entre aniversário e morte, várias pessoas visitaram o ex-imperador. Entre suas últimas palavras, em seu leito de morte, uma breve fala sobre seu país de coração ficaram marcadas: “Deus que me conceda esses últimos desejos: paz e prosperidade para o Brasil”.

Funeral
A morte de Dom Pedro II foi sentida por várias figuras notórias da Europa, que não puderam ignorá-la. Tanto que, embora sua herdeira, Dona Isabel, pretendesse enterrar o pai em uma cerimônia singela, o governo francês insistiu por um Funeral de Estado — o que não agradou à representação diplomática do Brasil, que tinha sua República ainda bastante jovem; mas não impediu que assim acontecesse.

Por isso, o ex-imperador foi vestido com um uniforme de marechal do Exército brasileiro, para representar sua posição como comandante das forças armadas com as medalhas e ordens das quais era dignitário, e teve seu corpo colocado em três caixões: um de chumbo forrado em cetim embranquecido, com tampa em cristal; o segundo, de carvalho nobre envernizado; e, por fim, o terceiro, de carvalho forrado de veludo negro.

Vale mencionar também que, enquanto preparavam seu corpo, um pacote lacrado foi deixado no quarto com uma mensagem escrita pelo próprio Dom Pedro II: “é terra de meu país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria”. Nesse pacote, havia amostras de terra de todas as províncias brasileiras.


Na noite de 8 de dezembro, os caixões contendo o corpo de Dom Pedro partiram do Hotel Bedford, em Paris, rumo à Igreja de la Madeleine. Eles foram transportados por oito militares franceses cobertos pela bandeira imperial, e foram assistidos por milhares de pessoas pela capital francesa.

No dia seguinte, estima-se que cerca de 300.000 pessoas assistiram ao funeral de Dom Pedro II, mesmo diante da chuva e do frio, na Igreja de la Madeleine. De lá, os caixões foram levados em cortejo até a estação Orléans, em Paris, antes de ser enviado até seu destino final, Portugal.


Vale mencionar que o ex-imperador foi cortejado por membros de outras realezas, como a francesa, a de Mônaco, da Espanha, de Portugal e da Alemanha, nobres e políticos, e representantes de países mais distantes, como Turquia, China, Japão e Pérsia. Além de, é claro, muitos escritores, maestros e médicos; até aquele momento, nunca se viu tantos intelectuais e acadêmicos no funeral de um monarca.

Antes, o corpo passou por Madrid, na Espanha, onde a Família Real Espanhola e outros membros do governo o esperavam para prestar homenagens. De lá, partiu em outro trem para Lisboa, onde o rei D. Carlos I e a corte esperavam pelo corpo, para levá-la à Igreja de São Vicente de Fora, onde repousava praticamente toda a última dinastia portuguesa, no Panteão Real da Casa de Bragança, onde foi finalmente sepultado, no dia 12 de dezembro.

Além da terra brasileira que foi colocada no caixão de Dom Pedro, sob sua cabeça também foi depositado um livro, para simbolizar que sua mente descansava sobre o conhecimento.

Repercussão no Brasil
Embora o Brasil já vivesse sua República — mesmo que há pouco mais de dois anos —, a notícia da morte do imperador abalou grande parte dos brasileiros. Monarquistas ou republicanos, muitos brasileiros entraram em um luto profundo, e vários prestaram homenagens ao falecido ex-líder.
Conforme escreve o historiador José Murilo de Carvalho em seu livro ‘D. Pedro II: ser ou não ser’, a repercussão no Brasil da morte do ex-imperador “foi também imensa, apesar dos esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios religiosos…”

Além disso, missas solenes ocorreram por todo o país, em que Dom Pedro II e seu regime monárquico foram enaltecidos, e desde então os brasileiros acabaram ficando ainda mais apegados à figura do imperador — que muitos tomavam como um “pai do povo”, que carregava consigo uma grande nostalgia com relação ao seu reinado verdadeiramente crescente.

Vale mencionar também que os restos mortais do último imperador brasileiro retornaram ao Brasil em 1921, um ano antes do centenário da Independência, e foram mantidos na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro — chamada, na época, de Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo —, bem como os de Teresa Cristina.

Posteriormente, em 1939, o governo Vargas inaugurou o Mausoléu Imperial, uma capela na Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, cujo interior é decorado com pinturas, mosaicos e murais retratando a coroação de Dom Pedro II e sua partida ao exílio na Europa. Lá que estão hoje os restos mortais de Dom Pedro II e de Teresa Cristina, além de Dona Isabel, seu esposo Conde d’EuPedro de Alcântara (filho de Isabel) e sua esposa, Elisabeth Dobrzensky.

Éric Moreira é jornalista, formado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Passa a maior parte do tempo vendo filmes e séries, interessado em jornalismo cultural e grande amante de Arte e História.


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