Falta. Aos 66, pode ser, a tendência é tentar uma síntese da existência. Peço desculpas, antecipadamente, pelo texto (e seu teor). Aliás, talvez, principalmente, seu autor.
Tenho mania por escrever. Mais desculpas ainda, por dizer, leia se quiser. Ainda porque será longo. Não proposital, mas necessário. Pois sobra. Não em minha fé, que é pequena. Mínima. Mas suficiente. Sobra na graça de Deus.
Transborda, como diz Paulo. Eu acho que minha mãe, talvez e principalmente ela, fez um marketing inverso de mim. Ora, qualquer grávida, melhor e mais prudente dizer, a maioria das grávidas faz marketing da cria.
Mas Dorcas, essa é minha mãe, nesta fase, só em memória, havia sofrido dois abortos espontâneos, numa espécie de gradação: o primeiro, não se sabia se menino ou menina, a segunda, uma menina.
E por ironia, se assim se pode definir, nasceu Cid Araújo de Oliveira, tendo como primeiro nome o de meu pai, em 29 de fevereiro de 1956, para nos deixar em 11 de março e ser sepultado 12 de março de 1956, dia dos 26 anos de Dorcas.
Creio que esse calvário, permitam-me dizer assim, pessoal dela produziu, quando vingou o quarto parto, sim, que quase provocou-lhe a morte, por uma bruta hemorragia, por isso menciono o marketing invertido.
Ainda não fiz psicanálise. Aliás, tendo filha psicóloga, Ana Luísa, chegada em 24 de março de 1999, mais ainda prezo essa ciência. Mas basta, por hora, dizer que não fui Fake, em minha formação, como gente, porque transbordou a graça de Deus.
Olhando do ponto de vista dEle, foi sobra. Transbordamento. Olhando do meu ponto de vista, falta. Dorcas, nome herdado de sua avó, mãe de Eunice, esta sim, minha avó materna, teve a personalidade da Dorcas bíblica.
Que mulher! Ela transbordou todo o tempo. Professora, como eu. Devo isso a ela. Professora, como minha esposa, que deve isso a Lourdes, a mãe dela. Que também transborda. Estou cercado de pessoas que transbordam.
Derramar, acreanos; entornar, cariocas. Pessoas que derramam. Não cabem dentro de si. Minha família, por parte de pai e de mãe, é repleta de gente que transborda. Gente do interior, por parte de pai, e da periferia, por parte de mãe.
Onde as virtudes são forjadas na carência. Pois é essa carência que, neles, ao invés de tolher, transbordou. Essa gente nos transmitiu, muito pessoalmente, particular e pormenorizadamente, sua leitura do evangelho.
Sim. A moderna hermenêutica, se é que não me falta, também, nesta arena ou, como dizia meu pai, nessa seara, informação, ela faz leituras. Pois é exata e precipuamente nessa hermenêutica de meus ancestrais, perto, imediatos ou remotos, que nossa família vem, nessa inércia da vida forjada por eles nas carências.
Vida de Cascadura, onde nasci. De Nilópolis, onde comecei a aprender. Vida de igreja. De escola, de onde somente mais tarde um pouco pude entrever que seria meu elemento. Meu laboratório. E que laboratório! Aliás, são dois: igreja e escola. Não, três: família, igreja e escola.
Certa vez, perguntei-me se fui ou, se ainda sou, professor pastor ou pastor professor. Acho que a duas coisas colaram em mim. Fui, com falta, os dois. Quer dizer, ainda sou. Mas são duas coisas grandes demais para mim.
Escrevi a minha vida por essas duas linhas. Deus transbordando. Eu meia água. Desenharam-se a duras penas essas duas vertentes. Talvez a de professor, de modo mais espontâneo. Com relação à outra, resisti mais.
Mas findou, como se diz em acreanês, acovardei-me e me fiz pastor. Ou, como se deu com Ezequiel, Jeremias, Isaías, Jonas, enfim, pesou a mão de Deus. NEle, transborda, em nós, falta. Deus nos tem como vocação. Ele sempre acredita mais em nós, do que nós nEle.
Eu agradeço a tanta gente com quem cruzei na vida. Tendo falado já em família, com essa multidão de tios e tias, dos avós paternos, de quem só ouvi falar, dos maternos, com quem convivi, essa multidão de primos e primas, de parte a parte, de mãe ou de pai, todos lindos e lindas.
Dessa gente de igrejas mais antigas, de quem lembro, seja na infância, em Nilópolis, 1957-1966, seja na batista de Japeri, RJ, onde meu pai entrou no ano em que nasci, 1957, e saiu em 1963, mas de lá ainda lembro dessa gente, sua fé, grandeza, exemplo, transbordamento.
De meus amigos. Para não agastar (ou desgastar), Hélio Henrique, Manoel e Paulo, mencionados em ordem alfabética. Há mais, mas estes três os representam. De meus alunos. De meus Diretores e Diretoras. De meus colegas de trabalho. Da vida que começa num Rio, de Janeiro, para continuar noutro Rio, este agora Branco.
Os colégios: Salesiano, em Rocha Miranda, RJ, onde me colocou Dirley, meu professor de português desde meus 10 anos de idade. No Leocádia Torres, pelo concurso do município, caminho da Pedra de Guaratiba, zona rural do Rio, em 1994. Só fiquei 6 meses, porque em janeiro de 1995 vim para o Acre.
Aqui, no Dom Giocondo Maria Grotti, onde Graça Silveira me apresentou à Diretora Letiva, primícias no Acre. Depois, em 1986/7, no Humberto Soares, para iniciar no CEBRB, por concurso público, em 1998, por 16 anos seguidos.
A partir de 2007, tarde e noite. Mas havia passado também pelo Meta, 1999, Alternativo, 1998, e João Calvino, 2000. No Anglo, fosse no Ensino Médio, com Flavius, ou no Primeiro Passo, com Ana Maria, foram 15 anos, a partir de 2000.
As igrejas, Nilópolis e Cascadura, na infância, pastorados com "C", Curicica, Cascadura e Copacabana, e no Acre, Tancredo, Iolanda, Vila Betel, alguns desses interinamente. Agora na Congregação do Manoel Julião, mas interino nas do Eldorado e Alto Alegre. E ainda com "C", por atrevimento missionário, Cruzeiro do Sul, AC.
Para encerrar, falta mencionar a mulher que colou em mim. Regina me atropelou. Colisão inelástica, como menciona a física. Uma gamação incontida e incontrolável, uma vez, de minha parte, surtada e, da parte dela, cerebral. Desculpem qualquer terminologia.
Mas para fechar com rosa de 🥇ouro, vai o resumo. Numa quinta-feira qualquer, em Cascadura, tensa, onde eu desesperadamente carecia de votos favoráveis, numa comissão ao meu estilo, com quase 10 componentes, o primeiro voto contrário foi o dela.
Nem me lembro o assunto da reunião. Não importa. Mas saí dali com uma só convicção: vou ♥ namorar essa mulher. Deu no que deu. Casamos em janeiro de 1993. Deus transbordou de novo. Ainda não a conheço completa.
Mas a graça de Deus por meio dela enche nossa casa, a vida de nossos filhos e agora até a vida de Amanda, esposa do Isaac. Desculpem o texto assim tão longo. Mas ainda falta. Reafirmo que, em Deus, sobra. Transborda.
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