A denominada Revolução Científica do século XVII constitui-se em um marco histórico caracterizado pela mudança, ocorrida na Europa Ocidental, na maneira de se pensar, analisar e representar o mundo natural. Essa Revolução foi descrita e explicada de muitas formas, visto que há inúmeras discussões historiográficas que alimentam controvérsias no que se refere ao período, às origens, às causas e aos resultados por ela alcançados.
Partindo desse pressuposto, Koyré (2001) argumenta que, para alguns historiadores, a substituição do mundo geocêntrico (ou mesmo antropocêntrico) medieval pelo universo heliocêntrico desempenhou um papel fundamental para o surgimento da Ciência Moderna; outrossim, outros historiadores acreditam que a suposta conversão do espírito humano da teoria para a práxis transformou o homem de espectador em proprietário e senhor da Natureza; alguns, por sua vez, levam em consideração a substituição do modelo teleológico e organicista do pensamento e da explicação pelo modelo mecânico e causal, que culminou na “mecanização da concepção do mundo”; outro grupo de historiadores descreve simplesmente o desespero e a confusão trazidos pela “nova filosofia” a um mundo do qual havia desaparecido toda coerência; isso porque Deus já não podia ser a explicação para a realidade.
Daí, pois, a validade de tratarmos aqui da historiografia, pois a mesma nos permite, por meio daqueles que a escreveram, entender os elementos que constituem esse período. Segundo Silva e Silva (2013), a historiografia é uma forma de perceber que todo historiador sofre pressões ideológicas, políticas e institucionais; comete erros e tem preconceitos. Ou seja, toda palavra utilizada para caracterizar um dado período é carregada de significado, já que representa o momento em que foi escrita.
A palavra Revolução, por exemplo, pode ser considerada um tanto quanto exagerada para alguns “medievalistas” que não concordam com a conceituação da Idade Média como sendo um período de estagnação científica. Esse “milênio obscurantista”, atribuído à Idade Média, configura-se em uma ideologia, que Rossi (2001) chama de mito, construído pela cultura dos humanistas e pelos pais fundadores da Modernidade. Baschet (2006), também afirma que foram os humanistas italianos, da segunda metade do século XV, que começaram, como forma de glorificar o seu próprio tempo, associar a Idade Média às ideias de barbárie, de obscurantismo, de intolerância, de regressão econômica e de desorganização política.
E é, assim, que se forma a visão de “Idade das Trevas”, que perdura até os nossos dias. Nossa intenção não é defender a Idade Média como uma época “luminosa”, de grandes progressos. A questão aqui não é a sua reabilitação; o que queremos mostrar é que a Revolução Científica merece esse título não pela má reputação da época anterior, mas pelos grandes feitos que se realizaram a partir de então. Para Henry (1998), a ciência formulada a partir do século XVII foi revolucionária porque, ao contrário da estabelecida durante a Idade Média, assemelhou-se à nossa. A Idade Média é, para nós, segundo Baschet (2006), um antimundo, anterior à Modernidade; um mundo rural anterior à industrialização; um mundo da todo-poderosa Igreja, anterior, pois, à laicização; um mundo anterior ao reinado do mercado; em resumo, um mundo totalmente oposto ao nosso.
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