Não é uma palavra boa para se terminar um ano. Re + pugna, seria juntar "voltar" (re) + pugna (lutar) que, por sua vez, vem de "pugnus", que significa "punho".
Portanto, repugnância teria, agregada a si, como sinônimas, auxiliando compreender seu significado as palavras asco, nojo, aversão, antipatia, repulsa, falta (ou nenhum desejo por) de compatibilidade.
Na verdade, seria bem íntima essa sensação, plenamente disfarçada pela hipocrisia social, cedo aprendida na cartilha do convívio. Diria eu, ensinada intuitivamente pelos pais, delicada e disfarçadamente, porque ninguém quer ser acusado de ser um repugnante praticante.
Os disfarces para tanto são muitos. Assim como as razões por que repugnar. Existem as clássicas como, por exemplo, cor da pele ou nível social. Disfarçar a íntima repugnância pelo preto e pelo pobre.
Trazem patente e flagrantemente suas características. Aliás, são transformados em discurso e tema de ideologia e movimentos sociais de denúncia e libertação. E, em muitos casos, à hipocrisia agora soma-se a demagogia.
Não que não devam ser um constante tema para discussão. Mas o que se reclama aqui são as ações efetivas e que caminhos traçar na efetiva solução secular, senão milenar desses, pelo menos esses dois, fatores de repugnância social.
Um outro fator, agora mais ligado à minha área de atuação, é como o disfarce da religião, mais um fator que promete e afirma praticar igualdade, é usado para disfarçar a repugnância. Vou falar da minha. Por entender um pouco mais sobre ela do que da dos outros.
Definitivamente o evangelho iguala todos, no antes e no depois de se encontrar Jesus. Todos pecaram, afirmam as Escrituras, situados na condição de "destituídos da glória de Deus", ou seja, todos somos, por natuteza, repugnantes.
Aqui talvez haja já um problema inicial de aceitação. Ou haja uma aceitação retórica dessa afirmação. Isso significa sentir asco, nojo de si mesmo. De início. Vamos especificar e generalizar.
Diante de Jesus, somos educados a perceber, sentir e exercitar repugnância por nós mesmos. Todos estamos nessa mesma condição. Muito embora o processo de se encarar essa realidade, nua (literalmente, e fora do Paraíso) e crua seja doloroso e, muitas vezes, disfarçado por franca covardia.
Então o verniz social e os já mencionados vícios intuitivos de formação podem ser uma tentação a se mascarar essa realidade ou a domesticar o "evangelho" que se vai aceitar (e praticar). Definitivamente, repugnância é um tema não autopraticável: somente praticado com os outros.
Lembrei da parábola do bom samaritano, assim chamada. Jesus focou exatamente na crítica aos "religiosos" e sua hipocrisia. Seu legalismo transformado numa prática flagrante, por parte do primaz, o sacerdote, e seu aprendiz, o levita. Sim. Repugnância faz escola.
Nesse ano que passa até o vírus se tornou pretexto. Se alguém não quiser ou não quer outros alguéns perto, ainda há a prevalência do omicron, entre outras variantes. Chance de se prorrogar o afastamento.
Para terminar, quero lembrar mais dois personagens, que podem ser quaisquer uns, porque repugnância, embora seja delicado mencionar, afeta a todos. Jesus e Jonas. Ambos com "J". O primeiro, porque tem o remédio para esse mal. O segundo, porque quis levar ao extremo esse mesmo mal.
Jesus ensina direcionar a repugnância para o lugar e pessoa certos: para você mesmo e o nojo que o teu pecado deve inculcar a você mesmo. Jonas ensina que a fuga à repugnância, sua generalização extrema e até a tentativa de suicídio, seja moral ou literal, não resolvem o problema.
Para quem não acredita no peixe de Jonas ou não acredita num Deus capaz de deparar um peixe desse teor, pelo menos tenta acreditar num Deus que ressuscite defunto, mais especificamente aquele que as Escrituras dizem ter sido ressuscitado ao terceiro dia.
Parece que nesse anônimo Jesus, mais para desconhecido, reside a cura ou, pelo menos, o correto direcionamento para a repugnância. Vamos entrar nesse novo ano pensando nisso.
Repugnância dirigida somente às variantes do vírus. Ao próprio pecado individual pão nosso de cada dia. E a uma aceitação ainda mais plena do evangelho, mas sem domesticagem. Ele faz coisas que nem a ideologia sonha em fazer.
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