quarta-feira, 6 de maio de 2020

Que milagre se espera?

                                

      6 de maio: níver na pandemia. 
     Todos esperamos, um dia, contar a netos, quem sabe bisnetos: "Sobrevivemos àquela pandemia".
     Não posso deixar em branco comemorar 63 em meio a ela. Neste texto, vou abordar vocação pastoral e pandemia, com uma ligeira discussão sobre conversão e pandemia.
    Três modelos de vocação aparecem nos três profetas (chamados) maiores: Isaías, 700 a. C., Jeremias e Ezequiel, contemporâneos, por volta de 600 a. C.
     Em Jeremias o chamado desde o ventre. Pode até não ser o meu caso, mas esteve perto. Seis anos incompletos, ao lado de Dorcas (sempre), ouvi, 1963, Ivan Espíndola de Ávila na Congregacional de Nilópolis. 
     Ao final, ele deu aos dois que foram à frente, eu e um outro rapaz, o "Diploma de convertido". Assinei com garranchos e li "Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida". Preocupou-me assinar isso.
    Lembro que consultei, em separado, pai e mãe para saber se dava para manter a palavra. Descansaram-me com suas recomendações e argumentação. 
    De Ezequiel, lembro a recomendação de comer o livro. Desde muito cedo, ainda em Cascadura, de onde saímos em 1967, Cid, meu pai, contava histórias bíblicas. 
    E me mandava conferir no Livro. Acostumei-me a fazer. Primeiro, li as narrativas do AT. Na adolescência, descobri a argumentação de Paulo em suas cartas e a descrição de Jesus nos evangelhos. Os poéticos comecei pelos Salmos, é claro, e por Provérbios.
    Mais tarde, o desafio de ler os profetas maiores. Daniel, pela parte narrativa, já me havia atraído. Mas avancei também em seu apocalipse. Logo, então, quis ler o de João. E me perguntei por que os profetas  (chamados) menores eram tão pouco mencionados. 
      Devorei-os também. Período fértil de leitura e releitura da Bíblia na adolescência e transição para a juventude. Lastro para o ministério que, como Isaías, disse para mim mesmo: "Não é para mim". Relutância foi minha marca. 
      Desde os corredores da PUC/RJ, em 1977, quando tive certeza de que nunca seria engenheiro elétrico, até 1978, quando preenchi o formulário no Seminário dizendo ser "teólogo diletante", vocacionado jamais, e daí para o final de 1982, quando decidi ajudar na Congregação de Curicica, mas somente até encontrar o navio para Tarsis. 
        Em 2 de janeiro de 1983 fui ordenando e, em 2 de janeiro de 1993, fui casado. Lá se vão três IECCs: Igrejas Evangélicas Congregacionais de Curicica, Cascadura e Copacabana. Desde então, 1994-1995, no Acre até hoje: 25 anos fora do domicílio, mas na terra prometida.
     Sobre pandemia, qual seria, diante dela, a postura de Jesus? Há uma diferença entre seu ministério terreno e a condição atual, no que se referem a curas e milagres.
      No NT, iam atrás de Jesus ou o desejavam passando perto, como o cego Bartimeu, ao alcance da voz. Fosse um toque tímido, como a mulher do fluxo, ou um desafio desabrido, como com a mulher sírio-fenícia.
     Mas agora Jesus vem ao encontro: "Eis que estou convosco todos os dias". Ele vem ao encontro. Ele está conosco. Como Jesus sente e reage a uma pandemia? Três coisas a aprender.
     1. Não precisa ser avisado dela. Certa vez, os discípulos chamaram sua atenção para o Templo de Jerusalém, em sua suntuosidade. Foram advertidos, quanto ao futuro, de que nada daquilo perduraria.
     Jesus sabe mais da pandemia de que nós. Pode ser uma mazela que mais assusta, mas não é a pior delas: há outras que produzem ainda mais mortes, que não são por causas naturais. 
      2. Tem poder para fazê-la cessar. Jesus andou por toda a parte, ensinando, curando enfermos e oprimidos do diabo. Impossível que não se sensibilize com as estatísticas. 
      Embora suas curas não fossem nem a granel e nem à projeção de mídia, mas pontuais e selecionadas, reconhece que o mundo todo se ressente da modalidade de cadáveres em fila, sepultamentos a distância, em valas comuns, e isolamento social.        
     3. Não se mede pelo vírus. Sim, porque outras mazelas humanas vêm matando tanto ou mais que o corona. E a humanidade nada faz ou não se mobiliza para fazer cessar.
        Jesus se apresenta para escolha. Pelo menos três opções. Aceitar, para deixar de ser canalha, rejeitá-lo ou pode-se até sugerir hipocrisia de bom moço: aceitação falsa, demagógica e hipócrita.
       Não se ponha a culpa do vírus em Jesus. Não se ponha em Jesus a culpa pela não resolução das mazelas pré ou pós vírus .
       Foi ele mesmo que disse "contudo, não quereis vir a mim para terdes vida". O vírus não te deixa opção. O vírus te aceita. O vírus deixa a humanidade sem escolha.
          Já com relação à Jesus, apresenta-se ou é apresentado como escolha. Só que voluntária. Irrisório para alguns. Para a maioria, eu diria. Eu disse que aceitei em 14 de abril de 1963. Veja data e assinatura acima. 57 anos, desta pandemia até lá.
    Jesus é testemunha de que sempre estivemos à espera de milagres de conveniência, que sempre foram usados como argumento de que Jesus provasse sua intenção ou provasse ser Jesus.
   Que tipo de milagre se espera? A conversão do vírus ou a conversão do ser humano?
         O ser humano, que diz que não precisa de religião para resolver seus problemas. Não precisa mesmo. Com elas ou sem elas, as mazelas (não esqueci das minhas) da humanidade não se resolveram.
     Aceitando-se ou não, o vírus está aí. Quem sabe, seja mesmo mais real do que Jesus.  A opção continua sendo sua. Mas ao vírus, não precisa se converter: de modo inconsciente, mas natural, ele já se converteu a toda humanidade.
       Mas não a tornará melhor. Eu ainda acho que essa opção de melhorar a condição humana está mais para Jesus do que para o vírus. A opção continua sendo sua.



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