ABRAHIM FARHAT
idealista e sonhador
A família Farhat Sírio Libanês chegou a Manaus em 1910, e sucessivamente em Rio Branco. Tornou-se amigo e assessor de Dom Giocondo, que amava escutar e trabalhar com jovens de visão ampla como ele, Marilia Santana, Mauricelia, Irene Dantas, Nely Cruz, Mario Lima, Jorge e Guilherme Tomás. Certamente este grupo ajudou o bispo a se comprometer mais com as causas populares ao ponto de incentivá-lo a estudar advocacia para defender os pobres .
Amizade com Dom Giocondo. Um dia o Eudo Lustosa chegou a chamr a atenção de Dom Giocondo, pois havia comentários na cidade que o bispo andava demais com o Lhe, que era comunista e palestino e o bispo teria respondido que se todos fossem como o Abrahim, o mundo seria salvo pelos valores da solidariedade, da justiça e da igualdade.
Até o Jorge Kalume, um personagem muito católico na sociedade acreana, chegou a perseguir lideranças que tivessem uma visão mais aberta e crítica, ao ponto de mandar invadir a casa do bispo, onde os jovens do movimento estudantil estavam reunidos com o Lhe e o Helio Kury.
Com estes jovens, o bispo Dom Giocondo fundou o Gesca, o Grupo de Elevação Socio Cultural do Acre, o primeiro grupo de jovens no Acre, com um espírito crítico, analizando a conjuntura, debatendo assunto de democracia, de cultura e de religião comprometida com as causas do povo e discutindo os movimentos de resistência. As reuniões destes jovens aconteciam no Colégio Acreano e no Salão da Catedral: organizavam festivais de música popular brasileira, promoviam recitais de poesia e sempre cantando de preferência o hino de Geraldo Vandré.
Suas companhias preferidas. O Abrahim, conhecido também por Lhe ou Brachula, era comum vê-lo vendendo balões na praça, organizando arraiais nas estradas poeirentas para arrecadar um dinheirinho para promoções sociais. Foi ele quem conseguiu apoio da Igreja para publicação do jornal Varadouro editado pelo Silvio Martinello e Elson Martins. E também patrocionou o Grupo Raizes que fazia shows musicais por toda parte cantando músicas de protesto, em especial aquela do Vandré e outras do Chico Buarque. Naqueles tempo da Ditadura Militar o Lhé era incansável e vivia para sonhar tempos de liberdade e democracia comungando os ideais do Chico Mendes, Marina, Binho, Monteiro, Hélio Pimenta, Célia Pedrina e Jorge Viana.
Na paróquia de Santa Inês. Na Sta Ines, quando chegaram os padres da diocese de Lucca, houve uma explosão de atividades de evangelização e de promoção humana, como a fundação de novas comunidades na cidade e no interior, a organização dos colonos, a resistência dos posseiros e as ocupações dos novos bairros. Foi aí que o Abrahim veio para somar forças, apresentando a proposta de organizar numa sala da paróquia uma cooperativa de costureiras, pois já havia algumas jovens com uma visão comunitária que estariam dispostas, como a Fátima, Marlete, Josefa, Marizete. Com a ajuda do padre Sírio, foram disponibilizadas cinco máquinas de costura e as primeiras remessas de tecido. O Lhe insistiu com o Prefeito Adalto Frota até conseguir a encomenda de 200 macacões paras os garis e as margaridas da prefeitura de Rio Branco.
Terminada esta encomenda, a cooperativa não foi mais à frente, pois qualquer confecção de roupa não podia concorrer com as roupas industrializadas que as lojas vendiam a um preço bem mais em conta.
Na ocupação do bairro da Conquista, estava visitando com os padres para animar uma meia dúzia de mulheres a acolherem a proposta de iniciar com um Kit cozinha uma produção e uma venda de charutos e pasteis.
Em Manoel Urbano apoiou a cooperativa de costureiras e a fábrica de redes com a ajuda do Pe Sírio, a irmãs Fátima, Otacilia e Nieta.
Onde a Francisca Marinheiro estava nas diferentes ocupações, ele também estava junto, acompanhando as negociações com a polícia e com os oficiais de justiça.
Foi promotor da Associação das lavadeiras e estivadores com o Nilson Mourão, organizou a Associação das Prostitutas no Papoco com a professora Dalva para as mulheres profissionais do sexo terem direitos a exames médicos e a não sofrerem violência e exploração por parte dos cafetões.
Criou APA, Área de Proteção Ambiental para defender o lago do Amapá, onde dezenas de pescadores praticavam a pesca predatoria até com bombas e onde o Esquadão da Morte desovava vitimas.
Desde o ano de 75, o Lhe foi presidente da Cooperativa NS da Conceição fundada em 62, para trabalhar comunitariamente em terras repartidas.
Centro de Defesa. Sempre estava presente no Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Diocese (CDDH) com a Terezinha Zanata, Carlos Kanauara, Terezinha Mansour, Denise, Raimunda Bezerra, Iolanda, Marquinho, Nilson. Na opinião dele, a crise do Centro de Defesa se deu por diferenças ideologicas entre a Articulação e o PRC (Partido Revolucionário Comunista, um partido político brasileiro de esquerda, baseado ideologicamente nos princípios do marxismo-leninismo com forte penetração nos meios sindicais e estudantis) Este desentendimento político deu origem ao CDDHEP (Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular) com sede no bairro Seis de Agosto.
Acidente ou atentado? Sobre a morte de dom Giocondo, o Lhe sempre teve uma opinião pessoal, pois para ele foi um atentado da Operação Condor, uma organização repressiva do Cone Sul contra os comunistas. A Operação Condor prendeu entre outros, o Zé Chileno que era contra o Pinochet, foragido da Dina (serviço da inteligência Chilena). O Zé em Rio Branco foi protegido pelo Elson Martins, Antônio Manoel, Toinho Alves, Pedro Vicente e Abrahim. A morte de dom Giocondo completaria a lista de outros atentados: Jango que foi envenenado, Juscelino e Letier no Chile.
Do livro em QRcode “50 anos na Amazônia”
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